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Negócios

Agenda ESG transforma o Turismo nacional e desafia empresas de todos os portes

Setor encara pressão crescente por práticas sustentáveis, enquanto pequenos negócios lutam para se adaptar às exigências mundiais

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Agenda ESG transforma o Turismo nacional e desafia empresas de todos os portes
Agenda ESG está reformulando o Turismo nacional e impondo uma nova realidade tanto para as grandes corporações quanto para os pequenos e médios negócios (Arte: TUTU)

A agenda ESG (Ambiental, Social e de Governança) está reformulando o Turismo no Brasil, impondo uma nova realidade tanto para grandes corporações quanto para pequenos e médios negócios. Durante a reunião de outubro do Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Cássio Garkalns, CEO da GKS Consultoria, ressaltou a crescente importância dessas práticas e como estas estão afetando diretamente o setor. No entanto, apesar do consenso sobre a relevância da agenda, as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) ainda lidam com barreiras na adaptação, como falta de recursos e estrutura. “Estamos falando de um movimento irreversível. Não há mais como o setor ignorar a agenda”, afirmou Garkalns, destacando que o caminho para a sustentabilidade deve ser tanto viável economicamente quanto eficiente nas três dimensões do ESG.

“É muita fumaça, em vários sentidos. Temos o impacto direto das mudanças climáticas sobre as nossas atividades, como voos cancelados por causa das queimadas, e, ainda, há uma pressão internacional sobre como o Brasil está lidando com a questão ambiental, principalmente olhando para eventos globais, como a COP, que se aproxima”, apontou o executivo. Segundo ele, o País precisa mostrar consistência e comprometimento com a pauta para não se tornar alvo de críticas, sobretudo em eventos de grande visibilidade global.

Grandes × pequenos: realidades distintas

De acordo com Garkalns, quando se fala em ESG no Turismo, há um ponto importante a ser reconhecido: a diferença entre as grandes corporações e as Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Ele argumentou que, para grandes players, principalmente multinacionais ou negócios de capital aberto, a agenda já é uma exigência normativa. “Essas empresas estão submetidas a pressões legais e de mercado que tornam a adoção de práticas ESG uma questão de sobrevivência e competitividade. As companhias precisam publicar relatórios de sustentabilidade e alinhar as operações com exigências globais”, explicou.

Já para os pequenos negócios, a realidade é diferente. “Os pequenos e médios empreendimentos, como pousadas e agências de turismo, muitas vezes são impactados indiretamente pelas exigências de seus clientes, que são grandes empresas. Esses pequenos negócios acabam tendo de aderir a essas práticas para se manterem competitivos na cadeia de valor”, afirmou. Garkalns ainda salientou que, embora o ESG não seja uma prioridade imediata para esse grupo, a adoção da agenda pode se tornar um diferencial de mercado, principalmente em um cenário em que os consumidores estão cada vez mais atentos às questões sustentáveis.

ESG e lucratividade

Garkalns foi enfático ao ressaltar que, para as ações de ESG serem eficazes, precisam fazer sentido econômico. “Se o ESG não estiver na planilha como algo financeiramente viável, torna-se apenas uma ação filantrópica ou de marketing — e, nesse caso, não é sustentável a longo prazo. Hoje, os consumidores, principalmente os jovens, estão cada vez mais seletivos e valorizam negócios que estejam comprometidos com boas práticas. Isso é visível no Turismo, em que plataformas como Booking e Tripadvisor já identificam empreendimentos sustentáveis, o que aumenta o valor percebido pelo cliente final”, comentou.

Essa visão reflete o que o executivo chama de “divisor de águas” entre grandes e pequenos negócios no setor. Segundo ele, a principal diferença está na capacidade de implementar práticas que façam sentido dos pontos de vista econômico e sustentável. “Os grandes já estão nessa agenda por obrigação, mas os pequenos podem usar isso como oportunidade para se destacarem no mercado, desde que consigam traduzir essas ações de forma simplificada e rentável.”

Turismo regenerativo

Outro tópico relevante levantado por Garkalns foi a ideia de turismo regenerativo, um conceito que vai além da redução de impactos negativos. “Não basta apenas reduzir o impacto ambiental, social ou de governança. A proposta dessa abordagem é reverter danos já causados e criar ações que melhorem o ambiente em que os negócios estão inseridos. Isso ainda é uma tendência em fase inicial, mas já vemos iniciativas nesse sentido”, afirmou.

O CEO explicou que o turismo regenerativo pode se tornar um diferencial competitivo, especialmente em destinos que desejem se posicionar de forma mais assertiva no mercado internacional. “O conceito de regeneração está diretamente ligado ao futuro do setor. Não podemos mais apenas mitigar impactos, precisamos melhorar o meio onde estamos inseridos. É uma meta ousada, mas necessária para garantir a sustentabilidade de longo prazo.”

Desafios na implementação

Mesmo com toda a retórica em torno da importância do ESG no Turismo, Garkalns reconhece que o setor ainda lida com algumas dificuldades para implementar essas práticas de maneira ampla. Ele citou a falta de pessoal qualificado e recursos financeiros como os principais obstáculos. “A realidade é que a maior parte das empresas no Brasil é formada por micro, pequenas e médias, que não têm recursos para investir na agenda. Muitas vezes, o problema não é nem a falta de vontade, mas a rotatividade de funcionários e a dificuldade de incorporar uma cultura ESG nos negócios”, destacou.

Um levantamento realizado pela Resorts Brasil, em parceria com o BID e o Ministério do Turismo, revelou que, embora 83% dos resorts brasileiros estejam em estágios avançados em práticas sociais, o índice de maturidade nas dimensões ambientais ainda é de 58%. “A questão ambiental é a que mais carece de desenvolvimento, principalmente na gestão de Gases de Efeito Estufa (GEEs) e compras sustentáveis. Isso aponta que, mesmo em grandes empreendimentos, ainda há muito a ser feito”, afirmou.

Próximos passos

Ao fim da apresentação, Garkalns citou a importância de se construir uma agenda comum entre entidades e empresas do setor. “Nós estamos em um momento de diagnóstico. Precisamos entender o que as principais instituições do Turismo nacional já estão fazendo sobre o assunto e criar uma agenda ampla, com a participação de todos os interessados. Essa é uma oportunidade de alinhar a linguagem e definir critérios mínimos que orientem a implementação de boas práticas no setor”, concluiu.

Segundo o presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, Guilherme Dietze, essa agenda deverá ser discutida em eventos futuros, como a Festuris, que acontece em novembro, em Gramado, e outras reuniões promovidas pela Federação. “O objetivo é criar um plano de ação que permita que tanto grandes quanto pequenos negócios possam avançar na implementação de práticas ESG, garantindo um Turismo mais sustentável e competitivo para o Brasil”, afirmou. 

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