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Sustentabilidade

Moda sustentável gera negócios para pequenos empresários

Empreendedores estão de olho no consumidor consciente, mas enfrentam dificuldades e desafios na fabricação dos produtos

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Moda sustentável gera negócios para pequenos empresários

Empresa utiliza peças garimpadas em brechós para produzir números limitados de pares de sapatos com estampas exclusivas
(Arte/TUTU)

Por Jamille Niero com colaboração de Deisy de Assis 

O consumidor consciente é aquele que, ao escolher os produtos que compra, leva em conta o meio ambiente, a saúde humana e a animal, as relações justas de trabalho, além de questões como preço e marca, segundo definição do Ministério do Meio Ambiente. É um conceito que pode ser aplicado na aquisição de todos os tipos de mercadoria – incluindo as do mercado da moda. 

A partir da década de 1990 foi adotada a sustentabilidade como estratégia de diferenciação. Desde então, crescem os esforços em prol da incorporação do modelo. 

A tendência se reflete também no comércio, com iniciativas principalmente do pequeno empreendedor. Um exemplo é a marca Insecta Shoes, que fabrica e comercializa sapatos a partir de roupas garimpadas em brechós. De acordo com Bárbara Mattivy, uma das sócias do negócio, cada peça gera em média seis a sete pares de calçados. 

A ideia surgiu em 2013, quando Bárbara e a outra fundadora da marca (hoje ex-sócia) resolveram unir os negócios que possuíam: um brechó e uma empresa que reaproveitava sobras de couros para produzir sapatos. A parceria deu certo, e a Insecta Shoes foi oficialmente aberta em janeiro de 2014, contando, atualmente, com um e-commerce (principal fonte do faturamento, responsável por 70% das vendas) e duas lojas próprias – uma em São Paulo e outra em Fortaleza. O público é formado, em sua maioria, por jovens de 25 a 30 anos, geralmente profissionais voltados para a criatividade – como designers, publicitários e afins. 

Em 2015, o faturamento da marca superou as expectativas e chegou a R$ 1 milhão. Um dos motivos, acredita a empresária, é a crescente preocupação do consumidor com a sustentabilidade. De acordo com Bárbara, apesar de seu empreendimento não ter sentido a crise econômica no ano passado, em 2016 a recessão chegou para a Insecta Shoes. “O crescimento está mais estável, mas não deslanchamos tanto quanto em 2015”, resume. 

Para a jornalista Marcela Fonseca, fundadora do blog “Moda sem crise”, é possível notar mudanças favoráveis à sustentabilidade no que diz respeito a todo o processo do consumo, mas não de maneira macro. “Creio que vivemos um momento em que mais do que nunca tem havido um despertar para essa necessidade. Se olharmos para os pequenos produtores, enxergamos novos modelos de negócio. Isso porque o consumidor contemporâneo tem ido em busca de alternativas, e os itens sustentáveis vêm se destacando”. 

Marcela lembra que, no âmbito das grandes redes de varejo de moda, o modelo ainda terá que ser consolidado. “Penso que talvez esse seja o grande desafio dessa indústria tão competitiva e imediatista”, diz, citando que políticas públicas, legislação e tecnologia são caminhos que precisam ser desbravados pelo setor, mas com auxílio do poder público. 

Entraves e desafios
Na visão da jornalista, a velocidade com que as grandes redes lançam novas coleções e o processo de produção por trás de algumas marcas são fatores preocupantes. “É um modelo de negócio rentável que gera muitíssimo lucro. Vejo algumas marcas fazendo suas campanhas, falando de moda sustentável, mas confesso que não sei até que ponto há transparência”. 

Entre as dificuldades encontradas por quem deseja ofertar peças que sigam os preceitos do consumo consciente, está a falta de fornecedores com o mesmo pensamento. “Ficamos restritos a um ou dois. Faltam opções, e por isso estamos em pesquisa constante para aprimorar alguns componentes dos nossos produtos que não são sustentáveis ainda”, aponta Bárbara, da Insecta. A produção dos sapatos da marca se divide em duas linhas. A original utiliza peças garimpadas em brechós, gerando números limitados de pares, com estampas exclusivas. A segunda frente usa tecidos feitos a partir de garrafas pet e algodão reciclados. “A produção é terceirizada, realizada em fábricas no Rio Grande do Sul, em Novo Hamburgo, um pólo calçadista, e chega a 500 pares por mês”, estima a empresária. 

Para a assessora do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Cristiane Cortez, dois dos desafios para o mercado da moda são “combater o excesso de descarte de resíduos nas produções e a mão de obra exploratória nas confecções 

Outro ponto ressaltado pela assessora é o preço, que, em sua opinião, deve ser repensado. “Notei um encarecimento do produto pelo apelo à sustentabilidade. E, justamente por ser sustentável, deveria ser acessível, uma vez que um dos pilares dessa prática é o aspecto socioeconômico”. 

Já para o Sebrae, um certo acréscimo no valor dos artigos é justificável. Segundo o documento “Nichos da Moda”, elaborado pela Entidade e lançado em 2015, as roupas politicamente corretas custam por volta de 30% a mais que as tradicionais.

Para Cristiane, seria interessante implementar sistemas de logística reversa para os itens da indústria da moda, como os sapatos, por exemplo. “São produtos com muitos tipos de materiais, como tecido, borracha, metais e outros. Com frequência, me pergunto como fazer para descartar um calçado que já está muito ruim e não tem nem como ser doado, já que não oferece mais condições de uso”, reflete.

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