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Editorial

Prioridade de qualquer programa de governo: primeira infância

Estratégia não necessita de investimentos de alto custo e apresenta muitos benefícios no longo prazo

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Prioridade de qualquer programa de governo: primeira infância

Investimento, além de garantir melhorias nas condições de vida, também gera melhorias significativas macroeconômicas
(Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

Como já citei em artigo anterior, no Brasil, costuma-se discutir o urgente e procrastinar o importante. Estamos sempre tentando remendar problemas de curto prazo e não pensar no longo prazo. As discussões entre economistas estão sempre mais voltadas a câmbio, juros e inflação, e pouco se fala sobre educação, saúde e planejamento tecnológico, por exemplo.

Pois bem, neste sentido, ao dar início a um debate mais amplo sobre um tema de longo prazo, o assunto mais indicado a ser discutido é quase consensual entre os economistas: a primeira infância. A definição do conceito do que chamamos de “primeira infância” vai desde o início da gravidez até os cinco anos. Sendo assim, o Estado deve definir um calendário de acompanhamento desde antes do nascimento até a criança completar a idade citada.

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No mais importante estudo sobre o assunto, James Heckman, prêmio Nobel de Economia, quis entender como as diferenças de tratamento na primeira infância podem influenciar variáveis econômicas, como desigualdade, pobreza e gastos em saúde pública.

Durante esta fase infantil, os desenvolvimentos cognitivo, cerebral e físico das crianças praticamente completam os seus ciclos de aprendizado inicial, dada a habilidade que o cérebro tem de fixar e sedimentar conhecimentos. Várias características de uma pessoa – não só a inteligência física, mas também a emocional, além da sociabilidade e da capacidade de resolução de problemas – são definidas nesse período. Todos os atributos de sucesso na vida e na carreira profissional são “ativados” na primeira infância.

Assim, Heckman concluiu que o investimento em programas de acompanhamento de gestantes e crianças até os cinco anos gera um dos maiores retornos possíveisde investimento de política pública. Ele baseou a sua conclusão em estudo feito nos anos 2000, com dados do Perry Preschool Project, no Estado de Michigan, nos Estados Unidos.

Heckman dividiu crianças em dois grupos: um com educação pré-escolar de qualidade e outro testado como grupo de controle. Inicialmente, buscou-se medir o QI dos participantes, e não houve muita diferença entre ambos os grupos. Depois, foi constatado que os participantes que receberam melhor educação tinham mais probabilidade de estarem empregados e tinham muito menos chance cometer crimes no futuro. Além disso, em uma nova nova pesquisa, realizada em 2019, mostrou-se que até os filhos dos participantes se beneficiaram do programa. Conclusão: o investimento inicial obteve um retorno de 7% a 10% ao ano, em razão do aumento da escolaridade média e da evolução na carreira, além da economia gerada nos sistemas penal e de saúde pública.

Esta estratégia não necessita de investimentos de alto custo. No longo prazo, o ganho de produtividade será muito maior do que o ônus, em especial ao buscar soluções criativas em parcerias com o setor privado. Este tipo de investimento, além de garantir melhorias nas condições de vida (principalmente das pessoas mais pobres), também gera melhorias significativas macroeconômicas no longo prazo, tanto fiscais quanto de emprego, renda e desigualdade. Devemos exigir que os candidatos incluam um programa bem minucioso sobre o tema – que já passou da hora de ser discutido no País – na próxima eleição presidencial.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 28 de janeiro de 2022.

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