Editorial
20/10/2023Serviços revelam ameaça ao futuro da economia
O ponto crucial a ser observado é a trajetória temporal do indicador
Por André Sacconato*
Os dados de agosto relativos ao setor de Serviços, divulgados mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fornecem valiosas perspectivas sobre a economia brasileira. Aqui, não estamos apenas fazendo referência aos números mensais dessazonalizados, que apontaram uma queda de 0,9%. Esse resultado, influenciado por fatores de curto prazo, passa por um processo de “limpeza” sazonal, o que pode torná-lo um tanto impreciso. O ponto crucial a ser observado é a trajetória temporal do indicador.
Ao considerar a receita nominal do setor acumulada nos últimos 12 meses, observamos um crescimento de 9,8%, com um aumento no volume de 5,3%. Entretanto, se analisarmos esses mesmos indicadores para o período acumulado entre janeiro e agosto deste ano, os números caem para 7,8% e 4,1%, respectivamente.
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A situação fica ainda mais preocupante quando examinamos as informações referentes ao período entre agosto e julho de 2023: -0,2% na receita nominal e -0,9% no volume. São sinais claros de desaceleração. É razoável supor que o indicador não manterá alta taxa de crescimento, especialmente considerando a base elevada e o fato de já termos registrado 30 taxas positivas consecutivas em relação ao mesmo mês de 2022. A tendência aponta para a possibilidade de a pesquisa adentrar o território negativo do crescimento.
Em artigos publicados no fim do ano passado e no início deste ano, argumentamos que o impulso de expansão proporcionado pela poupança durante a pandemia e pela demanda reprimida da quarentena, imposta pelo surto de covid-19, estava se esgotando.
Nesse contexto, era necessária a adoção de um conjunto de medidas que sustentasse o desenvolvimento, incluindo garantia de taxas de juros baixas a longo prazo, responsabilidade fiscal por parte do governo e implementação de reformas microeconômicas que estimulassem o crédito e facilitassem os negócios.
Além disso, um plano claro que concedesse ao setor privado um papel central nos investimentos era essencial. O Brasil se destaca positivamente em relação aos seus concorrentes diretos em termos de atração de capital estrangeiro, sem os problemas geopolíticos ou naturais que afetam outros países. No entanto, para atrair investidores, o país precisa estabelecer uma política econômica coesa e consistente.
Diante de um quadro fiscal debilitado e indicadores financeiros inquietantes no primeiro semestre, a solução apontada até o momento tem sido a criação de mais impostos para o setor privado. Isso vai na contramão dos objetivos do arcabouço fiscal e reforça a ideia de reduzir a participação desse setor nos investimentos, sem o devido apoio para a execução de uma Reforma Administrativa ampla e urgente.
Para consolidar um cenário econômico positivo, é preciso adotar um plano sólido de reformas microeconômicas a curto prazo, incluindo concessões, privatizações e parcerias com a iniciativa privada, a fim de sustentar as taxas de crescimento no longo prazo. Declarações e ações contrárias a essas medidas podem prejudicar a visão empreendedora, especialmente entre investidores estrangeiros, em relação ao futuro do Brasil.
A equipe econômica precisa estabelecer diretrizes claras para o modelo de progresso que pretende seguir. Atualmente, um modelo centrado em investimentos estatais não parece ser a melhor opção. Não se trata de uma questão de escolha, mas de reconhecer que as finanças estatais estão estranguladas e que as experiências anteriores do País nesse sentido, nos últimos 20 anos, não obtiveram sucesso. É hora de mudar. Caso contrário, as perspectivas a médio e longo prazos não parecem muito promissoras.
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 19 de outubro de 2023.
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