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Editorial

As falhas do modelo chinês

Artigo debate sobre as intervenções do governo do país asiático na economia

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As falhas do modelo chinês

Só há uma solução: aumento expressivo da produtividade, de modo que os salários reais aumentem
(Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

Sempre ouvimos que o modelo econômico chinês, mais dia ou menos dia, apresentaria algumas contradições. Mais: que o modelo fechado político junto a um sistema aberto econômico poderia criar contrariedades que levariam o país a uma situação insustentável. No entanto, não podíamos prever que as próprias intervenções do governo do país asiático na economia antecipariam estas dificuldades.

Uma situação está se tornando muito perigosa agora: em uma das suas inúmeras intromissões, o governo excluiu o setor privado da educação básica, com a justificativa de que grupos estavam encarecendo muito o setor e deixando a classe média e os mais pobres à mercê das condições de mercado. Sendo assim, a educação básica foi “estatizada”.

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O problema é que governos de províncias, municípios ou condados respondem por até 80% dos gastos com a área naquele país. Desta forma, o custo é oneroso para estas regiões, que já vêm sofrendo enorme pressão para manter o crescimento chinês – próximo à meta de 6%.

Como se não bastasse, estimativas preliminares dizem que esses governos já estocam uma dívida de US$ 4 trilhões, fora as conhecidas hidden debts (ou “dívidas escondidas”), que não aparecem nos déficits oficiais.

As medidas que estrangulam as finanças de províncias, municípios ou condados não param por ai. Em decorrência das superendividadas incorporadoras da China – vide o caso Evergrande –, o governo instituiu rígidas regras de desalavancagem, incluindo dificultar, à população, a compra de uma segunda casa.

O grande problema é que a venda de terras é uma das maiores fontes de receita dessas regiões, que poderiam arcar com parte das contas vendendo mais terrenos. Assim, ao dificultar o mercado imobiliário com restrições maiores – as chamadas three red lines –, o governo retira destes locais parte do seu faturamento. Só em 2021, a renda com o comércio de terras caiu 10%, com previsão de chegar a mais de 15% em 2022.

Este descompasso já mostra a sua face: em algumas províncias, já há atrasos nos salários de professores e profissionais de saúde e segurança, causando preocupação pelo grande potencial de algum rompimento do tecido social. A fim de tentar amenizar a situação, o governo central tentou liberar mais recursos para que esses locais emitam bônus, flexibilizando a política monetária.

Sabemos bem, pelas políticas realizadas no Brasil em 2014, que ao “esticar a corda” em uma situação de superendividamento, o resultado geralmente é ruim, tal como vimos com as recessões daquele ano e em 2015. Portanto, o governo chinês não poderá se ater a este tipo de solução.

Para o gigante asiático, só há uma solução: aumento expressivo da produtividade, de modo que os salários reais aumentem, bem como as receitas estatais, evitando-se rusgas no modelo de common prosperity do país.

Contudo, até aí temos um contratempo: a briga do governo com as grandes empresas tecnológicas, que representam o motor da produtividade da economia chinesa.

Deste modo, será necessária uma mudança de postura do país em algum dos pontos, sob o risco de implodir o modelo de prosperidade comum e, até mesmo, os alicerces do governo autoritário chinês.

Os próximos passos serão essenciais para entender o caminho que a China seguirá.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 4 de fevereiro de 2022.

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