Economia
19/11/2021Globalização é irreversível e solução contra desigualdade mundial
Adolfo Mesquita Nunes, jurista e ativista político português, rechaça concepções de que integração das economias seria responsável por problemas contemporâneos

"Solução é capacitar e qualificar os recursos humanos para os novos empregos", diz Adolfo Nunes
(Foto: Divulgação)
Em que pese todas as críticas, a globalização é a responsável por aumentar a riqueza, diminuir a desigualdade e prover melhores condições de vida em todos os cantos do mundo. Ameaçado por defensores do isolacionismo, o processo, no entanto, não deixa de impor desafios, dos quais o principal é a necessidade de capacitação profissional para as exigências dos novos empregos. Assim resume e defende o movimento globalista Adolfo Mesquita Nunes, advogado, jurista e ativista político português.
Em entrevista ao UM BRASIL, uma realização da FecomercioSP, Nunes diz que, em razão dos avanços proporcionados pela globalização, a vida, hoje, não é comparável à de 50 anos atrás. Ele discorda da tese de que os países deveriam ser autossuficientes e rechaça teorias de que “haveria mais riqueza se o mundo não fosse tão global”.
Confira mais entrevistas do UM BRASIL
Brasil precisa mudar a lógica da política fiscal construída nos últimos 30 anos
“É mais fácil vender produtos portugueses na Lituânia do que produtos paulistas no Rio”
Investidores ainda estão à espera das reformas que o Brasil prometeu
“Existe uma espécie de romantização do passado, em que tendemos a olhar para as coisas positivas que nossos avós nos contam, esquecendo por completo das agruras pelas quais eles passavam”, observa Nunes. “É evidente que o cidadão médio, hoje, vive com mais dinheiro e oportunidades do que há 20, 30 ou 40 anos”, acrescenta.
De acordo com Nunes, a globalização é a responsável por diminuir a desigualdade mundial. Ao mesmo tempo, reconhece que a disparidade entre ricos e pobres está crescendo em alguns lugares do planeta, como nos Estados Unidos. Ainda assim, defende o processo globalista como redutor de desequilíbrios dizendo que, na Europa, os indicadores diferem conforme o país.
“As Nações Unidas têm concluído que a globalização não explica o aumento [localizado] da desigualdade, porque vários países igualmente expostos a ela têm comportamentos distintos. Isso significa que as políticas nacionais de combate à desigualdade são muito importantes, porque elas, de fato, são determinantes para haver maior ou menor desigualdade”, comenta o jurista.
Ex-deputado e secretário de Estado do Turismo de Portugal, Nunes salienta que, goste ou não da globalização, trata-se de um processo irreversível, o qual gera “empregos distintos nas várias áreas do globo”.
“A única solução que temos é capacitar e qualificar os recursos humanos para os novos empregos e criar condições para que os investimentos aconteçam nos nossos países”, afirma.
Modelo chinês e ameaça à democracia
Autodeclarado entusiasta do liberalismo, Nunes avalia que a China pode se tornar um problema para o mundo, por ter uma economia “politicamente motivada”. Com este modelo, no qual as empresas seguem ordens do governo, pretensões expansionistas e de interferência em outras nações ameaçam a estabilidade mundial.
“O mundo precisa pensar de que forma atua perante este gigante econômico. E não pode fazê-lo bilateralmente, porque nenhum país, nem mesmo os Estados Unidos, tem, hoje, condições de discutir de igual para igual com o poderio chinês. A única forma de reagir é multilateralmente. Isto é, que haja uma grande coligação das grandes economias de mercado mundiais para podermos fazer um contraponto”, conjectura.
Atualmente fora da política, Nunes destaca que a polarização sempre existiu. Contudo, nos últimos anos, a forma com que as pessoas lidam com o pensamento contraditório mudou, o que põe em risco o sistema democrático.
“A polarização, normalmente, é positiva. Isto é, adiro à direita porque concordo com a direita. A polarização à qual estamos assistindo, hoje, é negativa. Isto é, adiro à direita porque odeio a esquerda [e vice-versa]. Isto mina a democracia, porque o pressuposto da democracia é o respeito pela opinião contrária. É reconhecer ao outro o direito de pensar, de ganhar eleições e de existir, apesar de defender coisas completamente distintas das minhas”, explica o jurista.
Assista à entrevista na íntegra e se inscreva no Canal UM BRASIL no YouTube.
Ao mencionar esta notícia, por favor referencie a mesma através desse link:
www.fecomercio.com.br/um-brasil/materias/globalizacao-e-irreversivel-e-solucao-contra-desigualdade-mundial
Notícias relacionadas
-
Economia Digital
IA aplicada à logística beneficia o e-commerce; veja como
Automação e roteirização inteligente reduzem custos, melhoram a experiência e abrem novas oportunidades
-
Economia Digital
Cerco às Big Techs: decisão do STF impõe novo regime de moderação da internet
MercadoConfiança do empresário do Comércio sobe em julho, mas queda anual aponta reflexo negativo da política econômica
MercadoPreocupações econômicas retraem consumo das famílias paulistanas
Recomendadas para você
-
Economia Digital
Inovação a partir de quem usa
“É do usuário que novas indústrias surgem”, afirma Eric von Hippel, pesquisador no MIT
-
Internacional
Excesso de processos burocráticos traz prejuízos às empresas e ao País
Economia defende que agilizar a burocracia não é uma questão só de processos
-
Economia Digital
Regulação pode conter os perigos ds plataformas digitais e da IA
Para conter riscos e ameaças trazidas, jornalista defende a “regulação democrática”
-
Economia Digital
Evolução dos meios de pagamento exige diversificação
Dinheiro e cartões seguem importantes para o varejo, que deve priorizar combinação eficiente dos métodos