Economia
25/03/2022Inflação e conflito entre Rússia e Ucrânia arriscam segurança alimentar do Brasil e do mundo
Canal UM BRASIL entrevista Marcos Jank, professor sênior de Agronegócio no Insper
Marcos Jank, professor sênior de Agronegócio no Insper
(Foto: Christian Parente)
A guerra entre Rússia e Ucrânia envolve dois grandes supridores de fertilizantes e produtos agropecuários e de energia. Juntos, ambas as nações respondem por quase 30% da exportação mundial de trigo e por quase 20% da exportação de milho.
Para o Brasil, o conflito representa uma complicação econômica em razão da grande quantidade de fertilizantes que importamos, isto é, 85% do consumo, sendo que a Rússia é o nosso principal fornecedor. “A ministra [da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina] ‘saiu correndo’ para buscar outros fornecedores. A safra começa em setembro, mas não há garantia de que teremos volume suficiente [de fertilizantes]. É um quadro muito preocupante”, afirma Marcos Jank, professor sênior de Agronegócio no Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e coordenador do centro Insper Agro Global.
Jank comenta que, antes mesmo da guerra, o setor agro brasileiro já estava trabalhando de forma “muito estressada”, graças à pandemia, aos custos altos e ao desequilíbrio entre oferta e demanda que estavam ocorrendo mundo afora, bem como aos efeitos da mudança climática sobre as produções de milho, cana, café e pastagens, além das secas. “A guerra deixa a situação mais complicada.”
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O professor pondera que há dois outros problemas que resultam do conflito bélico. O primeiro é a junção da inflação com a insegurança alimentar. “As altas de preços dos alimentos, que já estavam ocorrendo antes da guerra, se refletem em uma inflação que está sendo sentida principalmente pelo consumidor mais pobre, para quem a cesta básica de alimentos é muito importante. A insegurança alimentar é uma realidade no País, e será também, em decorrência da guerra, em várias regiões do mundo.”
O segundo problema é o aumento dos custos de produção no Brasil. Isso ocorre pela soma da falta de fertilizantes com as altas dos preços do petróleo, da gasolina e do diesel, além do problema de aprovisionamento de máquinas e equipamentos, como tratores e colheitadeiras. “Estamos assistindo a um aumento importante de custos na agricultura. Por outro lado, o País é um grande supridor de soja e milho. Tanto o Brasil quanto a América do Sul vão aprovisionar os espaços deixados pela guerra”, sinaliza Jank.
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