Economia
17/09/2021Crise ocasionada pela pandemia põe em risco 4% dos empregos na América Latina
Em entrevista ao UM BRASIL, Joana Silva, economista sênior do Banco Mundial, comenta estudo da instituição sobre aumento da informalidade e queda na renda em meio a períodos turbulentos

Joana Silva, economista sênior do Banco Mundial
(Foto: Shane Romig)
Alavancado ainda mais durante a pandemia, o desemprego tem se mostrado quase que irredutível para aproximadamente 14% da força de trabalho do País, além de sofrer transformações em sua dinâmica que estão levando parte dos trabalhadores para a informalidade: atualmente, 40,6% das pessoas empregadas em todo o território nacional são informais; há cerca de um ano, havia 30 milhões de trabalhadores nesta condição, agora, são 34 milhões, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Contudo, este efeito não é exclusivo do Brasil.
Segundo mostra o relatório Emprego em Crise: Trajetória para Melhores Empregos na América Latina Pós-Covid-19, do Banco Mundial, após três anos de um período de turbulência e recessão, em média, têm ocorrido contração de 3% no emprego formal e expansão do emprego informal em várias nações, em um ritmo diferente do visto em outros continentes. A crise atual deve ser ainda mais devastadora, causando redução de até 4% no emprego formal.
“Mesmo quando olhamos três anos depois do fim da crise média na América Latina, percebemos que há 1,5 milhão de empregos formais a menos – e que não são recuperados –, enquanto que há cerca de 2% a mais de vagas informais”, pondera a economista sênior do Banco Mundial, Joana Silva, em entrevista ao Canal UM BRASIL, uma realização FecomercioSP.
O estudo também alerta que, na América Latina, os danos de uma crise sobre a geração de empregos são intensos e duradouros, de forma que estas economias levam muitos anos para se recuperarem do encolhimento das vagas formais: 30 meses após o início da recessão, a taxa de vagas formais continua mais baixa do que antes.
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Trabalhadores menos qualificados tendem lidar com uma situação pior. No Brasil, segundo Joana, “quando há uma crise, ocorre também um ajuste na forma como as empresas produzem. Há um corte maior no número de trabalhadores menos qualificados. Como isso afeta o modo estrutural de se produzir, também há impacto na produtividade e na criação de empregos na recuperação. Contudo, em setores muito produtivos, as crises do Brasil não abalam os trabalhadores”, enfatiza.
Ela ainda comenta a solução geralmente tomada pelos governos da América Latina a outro problema relacionado: para pessoas menos qualificadas, os salários tendem a ficar mais baixos por cerca de dez anos após um período de crise, enquanto que para as mais qualificadas, por dois anos. “É uma estatística impressionante e que pode aumentar a desigualdade. As políticas de emprego [como resposta] muitas vezes são desenhadas pensando nos trabalhadores mais qualificados, sobretudo em relação a capacitá-los e ajudá-los a encontrar outro trabalho. Os trabalhadores menos qualificados, muitas vezes, têm um leque de problemas mais complexos.”
Além do papel do governo em estabilizar a economia e criar políticas em prol dos empregos, a economista também sinaliza que o setor privado pode contribuir para que os efeitos das crises sobre o mercado de trabalho não sejam tão prejudiciais: “As empresas precisam olhar com atenção para a forma como a produção é organizada e para a qualificação que fornecem aos trabalhadores, bem como precisam buscar inovação nos processos e serem resilientes, no sentido de terem poupança e boa capacidade financeira.”
Para que as empresas sejam mais resilientes em momentos de crise, Joana enfatiza que é necessário que fortaleçam os seus negócios com uma boa combinação na produção. Além disso, é essencial investir nos empregados.
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