Conselho de Relações Internacionais
10/04/2018Economia extensa e fértil, por Rubens Medrano
Vice-presidente da FecomercioSP analisa em artigo a evolução do comércio internacional brasileiro nos últimos 20 anos
Medrano afirma que se o País investir em pesquisa e inovação, em alguns anos os índices da produção e de exportações de manufaturados poderão ser tão vistosos como o das commodities
(Arte: TUTU)
Por Rubens Medrano*
A análise da evolução do comércio internacional brasileiro nos últimos 20 anos mostra uma realidade, de certa forma, conhecida. Mas alguns detalhes nem sempre são bem percebidos. Por um lado, é verdade que o País continua a exportar commodities, e que o saldo comercial em 2017 de R$ 67 bilhões foi quase que inteiramente em decorrência da exportação líquida de produtos básicos e uns poucos semimanufaturados que geralmente são básicos “melhorados”, como o suco de laranja concentrado. Por outro lado, é errado afirmar que o País não tenha nenhuma competitividade na produção industrial mais elaborada.
Parte dessa constatação está diretamente ligada ao fato de que o Brasil é um grande e histórico exportador de commodities e importador de manufaturados. Mas se olharmos a trajetória do saldo comercial ao longo de duas décadas, podemos notar que não é irrelevante a capacidade brasileira de se fazer saldo ou ao menos de reduzir o déficit dos manufaturados. Importante salientar que essas variações dependeram do câmbio e foram influenciadas por momentos de recessão, mas, de qualquer maneira, a oscilação positiva do resultado indica que o País tem uma indústria complexa e capaz de exportar e competir – é claro, se dispor de condições favoráveis.
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A solução não passa por fechar a economia ou dar subsídios ineficientes e custos ao resto da sociedade. Também não é o caso de guerra cambial, mas de buscar ganhos internos e duradouros de competitividade, tais como trabalhar para diminuir custos trabalhistas, reduzir risco jurídico (que aparentemente está melhorando), desburocratizar a relação entre empresa e Estado, melhorar a legislação e elaborar acordos bilaterais mais eficientes. Nesse sentido, a FecomercioSP acaba de criar a Comissão de Relações Internacionais, que desenvolverá iniciativas em conjunto com consulados e câmaras de comércio, propondo ações que aprimorem o protagonismo do Brasil perante a comunidade internacional.
Para exemplificar, analisemos o setor de carros. Em 2017, o Brasil exportou 60% mais automóveis do que em 2016, o que significou uma venda internacional nada desprezível de 800 mil a 900 mil automóveis produzidos aqui. Alguns fatores devem ser levados em conta para esse resultado: a recuperação de economias como a da Argentina; e a queda do mercado interno, que despertou nas montadoras um olhar mais cuidadoso para o mercado externo.
Se o País combinar investimentos em pesquisa e inovação, sua posição estratégica no Hemisfério Sul e o grande potencial na indústria, em alguns anos os índices da produção e de exportações de manufaturados poderão ser tão vistosos como o das commodities, em que a produtividade brasileira é imbatível, ainda que mais pelas condições naturais do que pelo ambiente de negócios.
O Brasil carece agora de ser “ensolarado, extenso e fértil” também no cenário econômico, e de evoluir para além das vantagens naturais, criando vantagens de capital humano e de segurança jurídica, entre outros pontos que a Comissão de Relações Internacionais da Entidade apontará em seu trabalho.
*Rubens Medrano é vice-presidente da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado na Revista Problemas Brasileiros, número 445.
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