Conselho de Relações Internacionais
09/08/2021Mercosul precisa se atualizar em relação às tarifas e superar entraves que prejudicam o comércio
Em reunião realizada pelo CRI, especialistas avaliam os 30 anos do bloco e também o futuro do acordo comercial entre Brasil e Chile
Transformações no Mercosul foram tema de reunião com empreendedores e especialistas
(Arte: TUTU)
Reunião realizada pelo Conselho de Relações Internacionais (CRI) da FecomercioSP em 2 de agosto, comandada pelo presidente do conselho, Rubens Medrano, tratou da trajetória do Mercado Comum do Sul (Mercosul) ao longo de seus 30 anos de existência, colocou em pauta a flexibilização na negociação de acordos comerciais entre os países do bloco e, também, debateu o acordo de livre-comércio entre Brasil e Chile, que avançou mais uma etapa no Congresso brasileiro recentemente.
Em relação ao atual estado do Mercosul, o CRI recebeu o presidente da Alaby Consultores Associados, Michel Alaby, que avaliou a forma como o Brasil perdeu a grande liderança que tinha no bloco e como questões ideológicas estão se tornando um impeditivo para avanços que poderiam tornar a união aduaneira mais competitiva.
“Quando completou 20 anos, em 2011, o Mercosul atingia US$ 27,8 bilhões em comércio. Até 2020, houve uma queda de mais de 70%, passando para US$ 7,7 bilhões. Antes, os demais países da América do Sul visavam ao bloco para fazer acordos. Atualmente, eles visam ao Pacífico, ao Canadá e aos Estados Unidos”, ponderou.
Além disso, segundo ele, há um grande problema em torno das relações entre as nações. “O bloco, que uma vez foi pragmático, agora se tornou ideológico, sobretudo em relação às diferenças [pessoais] entre os presidentes do Brasil e da Argentina. Ultimamente, essas diferenças têm sido gritantes. Ambos os presidentes ainda não se encontraram. Nas últimas reuniões do Mercosul, um ou outro se ausenta logo após a sua fala [aos líderes estrangeiros]. Isso demonstra que o bloco econômico está em um momento muito difícil.”
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Alaby acredita que haverá pouquíssimos avanços com o Brasil na atual presidência do Mercosul, em função de tais problemas. “O posicionamento brasileiro é de redução da Tarifa Externa Comum (TEC) em 10% imediatamente, e em mais 10%, a partir de janeiro de 2022. A Argentina acredita que a redução deva ser para matérias-primas, e não acabados. O Uruguai, por sua vez, tem um posicionamento mais próximo ao do Brasil, e de interesse em formatação de novos acordos negociados fora do âmbito do Bloco, inclusive com a China – por causa do comércio agro. Já o Paraguai está indeciso em relação à reforma da TEC. Infelizmente, não acredito que iremos reduzir a tarifa, apesar de ela possibilitar mais competitividade, inovação e avanços tecnológicos.”
Sobre o acordo com a União Europeia, Alaby lembra que, ainda que ele seja defendido por setores industriais europeus, países mais protecionistas, como França, Holanda e Áustria, têm uma visão pessimista sobre a forma como o Brasil tem tratado a questão do meio ambiente.
Medrano ponderou que, nesses 30 anos, o Mercosul tem acumulado uma série de imperfeições e não se atualizou, sobretudo em relação às tarifas, que datam de 1994. “O mundo evoluiu, e nós não podemos ficar desatualizados perante os novos conceitos mundiais de cadeias de valor. Contudo, o que realmente falta atualmente é um entendimento entre os presidentes. É o setor privado quem faz o comércio, mas os governos que fazem as leis. O fator ideológico está prejudicando as atividades comerciais do bloco. No entanto, acredito que Brasil e os demais parceiros desejam as mudanças, mas que estas não sejam um fator de ameaça à integração do Mercosul como bloco.”
Acordo de Comércio Brasil e Chile
O sócio-diretor da consultoria de internacionalização de pequenas e médias empresas Pro América, Oscar Páez Gamboa, também esteve presente e tratou do acordo de livre-comércio entre Brasil e Chile (no âmbito do Mercosul), recentemente aprovado na Câmara dos Deputados, e das estratégias que empresas brasileiras podem adotar para chegar de forma eficiente àquele mercado.
Ele ponderou que há inúmeras possibilidades de negócios para exportadoras brasileiras de produtos básicos, alimentos e bebidas (setor que será beneficiado pelo novo acordo), mas que, independentemente do acordo, é essencial um esforço de promoção no mercado chileno para divulgação do produto. “Essa promoção pode se basear em pontos culturais em comum e nos selos atualmente exigidos nas demandas chilenas: Sustentabilidade, Agenda Mulher e respeito aos povos originários. Não são apenas atributos, mas condições para que os chilenos demandem novos produtos”, enfatizou.
Para o comércio de cachaça, por exemplo, Gamboa comentou que os chilenos não conhecem os diferentes tipos da bebida (ouro, prata etc.), de forma que, mesmo beneficiada pelo acordo, as empresas daqui terão de fazer uma educação sobre quais os atributos da cachaça, indicações de consumo e harmonização etc.
“Para maquiagem, a mesma coisa. No caso do açaí, o conhecimento já está mais difundido por lá, mas sempre é importante fazer a promoção das propriedades do consumo. O pão de queijo pronto, por exemplo, é algo que está com demanda no Chile, mas só há em um supermercado – e em um espaço muito pequeno na prateleira. Então, o esforço é, também, de que fique mais perto da disponibilidade ao consumidor chileno, que sempre estará aberto para experimentar o produto brasileiro”, concluiu.
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