Editorial
09/10/2018A consciência ainda está escassa, por Abram Szajman e Algirdas Antonio Balsevicius
Presidente da FecomercioSP e presidente do Sagasp analisam a importância do abastecimento alimentar
O abastecimento alimentar é coisa séria, e é preciso agir por nossa segurança alimentar e nutricional
(Arte: TUTU)
Por Abram Szajman e Algirdas Antonio Balsevicius
A partir de janeiro de 2019 teremos novos governantes. Caberá a eles cumprir a Constituição federal, que estabelece uma série de direitos sociais, entre os quais o direito à alimentação, que figura, também, como um dos principais direitos humanos.
Para atender a esse objetivo, o artigo 23 de nossa Carta Magna estabelece: “E competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar”.
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O Brasil tem hoje 214 milhões de habitantes. O que significa mais de 400 milhões de pratos de alimentos a serem consumidos diariamente, envolvendo imensa cadeia de abastecimento que vai da roça aos distribuidores e às pessoas e famílias. Apenas no Estado de São Paulo, que, de acordo com a Fundação do Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), conta com mais de 44milhões de habitantes, a demanda diária é da ordem de 90 milhões de refeições.
Esses números nos dão a dimensão do que representa, tanto para o poder público quanto para a sociedade, a responsabilidade de agir pela nossa segurança alimentar e nutricional.
O abastecimento alimentar é coisa muito séria, como ficou evidenciado no mês de maio deste ano, em razão da greve dos caminhoneiros e suas graves consequências. Em apenas uma semana, o preço do quilo da batata na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) passou de R$ 1,61 para R$ 17,50. Os legumes e as frutas foram os alimentos que tiveram seus preços mais impactados. O maior entreposto atacadista de alimentos da América Latina chegou a parar de divulgar a cotação oficial dos produtos, na expectativa de normalização do comércio.
Houve, também, um reflexo dos custos dos produtos em nível nacional, porque a formação dos preços dos alimentos hortifrútis é feita a partir de São Paulo. Fenômeno semelhante ocorreu com os cereais, porém o verdadeiro caos se instalou na suinocultura e na avicultura, que padeceram com a falta de ração e de insumos. Vale lembrar que os preços do tijolo, do cimento e da areia pouco se alteraram, sendo, portanto, o setor de alimentos o que mais afetou os índices de inflação.
Além disso, o segmento sofre com as perdas e o desperdício, problema global também presente entre nós, já que por aqui um pé de alface sai da roça com 45 folhas e chega ao mercado com apenas 21. Isso significa desperdício de mais de 40%.
Temos, ainda, índices alarmantes de magreza ou de sobrepeso e obesidade de nossa gente e a crescente presença de defensivos nos alimentos, pondo em risco a saúde pública.
Do campo para a cidade, os problemas são as limitadas práticas de manuseio, logística e infraestrutura de distribuição, cronicamente defasadas em relação às dimensões de nosso território. Outra lacuna é a inexistência de entrepostos modernos.
Diante de tamanhos desafios, registramos que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) promove anualmente, em mais de 150 países, no dia 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação. Além de estar entre as datas mais celebradas no calendário dessa organização, é uma oportunidade para a reflexão e para ações, tanto dos governos como da sociedade civil.
É bom lembrar que não há alimento sintético e que os produtos alimentícios não são produzidos dentro dos supermercados. São necessários terra, produtores competentes e distribuidores capacitados. O Brasil tem isso de sobra, mas ainda falta a consciência de que o abastecimento alimentar é coisa séria.
*Abram Szajman é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e Algirdas Antonio Balsevicius é presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios no Estado de São Paulo (Sagasp).
Artigo originalmente publicado no jornal O Estado de S. Paulo no dia 9 de outubro de 2018.
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