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Sustentabilidade

“A IA pode ser um motor de sustentabilidade, mas precisa estar acompanhada de políticas sérias de governança e gestão de dados”, adverte especialista

Debate destaca as novas tecnologias e seus impactos como impulsionadoras dos pilares de ESG e do desenvolvimento sustentável

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“A IA pode ser um motor de sustentabilidade, mas precisa estar acompanhada de políticas sérias de governança e gestão de dados”, adverte especialista
Especialistas apresentaram análises provocadoras sobre o papel da tecnologia e da IA no cenário atual (Arte: TUTU)

O ser humano levou 2,4 milhões de anos entre o ato de dominar o fogo e usá-lo para cozinhar. Entre o surgimento da locomotiva a vapor e a chegada da Inteligência Artificial (IA), houve um intervalo de tempo de 200 anos. E, hoje, a habilidade humana de gerar tecnologia está curta e cada vez mais acelerada. Ian Beacraft, CEO da Signal and Cipher, no SXSW 2025, apontou justamente isso. “Precisamos olhar para o uso da tecnologia com métricas diferentes, porque essa aceleração afeta muito as empresas. Hoje, não dá mais para fazer evolução, precisamos fazer transformação”, citou a frase do executivo a publisher Silvia Bassi, da The Shift — uma plataforma de conteúdo voltada para a cobertura do contexto da inovação disruptiva. Ela foi uma das palestrantes na reunião conjunta dos conselhos de Economia Digital e Inovação e de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Nesse contexto de velocidade, a gestão eficiente dos dados é a chave do sucesso. Segundo o relatório The Age of Data, da Hinrich Foundation, as informações hoje sustentam um setor de serviços de US$ 4 trilhões, que responde por dois terços da economia global — metade do Comércio, em termos de valor agregado, e metade do emprego mundiais. Isto é, nenhum comércio de serviços acontece sem dados. “Precisamos olhar com muito cuidado para os dados, porque são os alimentos da IA e das empresas. Se não foram bem cuidados, uma estratégia de ESG ou corporativa vai para o brejo”, provocou Silvia.

Transformações em curso

Essas reflexões estratégicas sobre a transformação do conceito de sustentabilidade e o papel decisivo da IA na construção de soluções para os entraves ambientais e sociais contemporâneos foram o alvo das discussões. Na abertura do encontro, o presidente do Conselho de Sustentabilidade, José Goldemberg, resgatou a trajetória do desenvolvimento sustentável desde a sua ascensão, nas décadas de 1970 e 1980, até os debates atuais sobre ESG (Ambiental, Social e de Governança).

Goldemberg destacou que, para a FecomercioSP, a sustentabilidade vai além do discurso e é traduzida em ações práticas há mais de 15 anos, com foco em seis eixos estruturantes: economia circular; eficiência no consumo de água e energia; combate à poluição atmosférica; regulamentação do mercado de carbono; aceleração da transição energética; e combate ao desmatamento ilegal. “Nossa missão é transformar o desenvolvimento sustentável em ações concretas que gerem resultados reais para as empresas e a sociedade”, afirmou.

Com esse foco, o evento trouxe insights com o segundo painel: “Inteligência Artificial como Motor das práticas ESG: Transformando Dados em Ações Sustentáveis”, que contou com as participações de Rodolfo Fücher, presidente do Conselho da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), e de Silvia, da The Shift. Os especialistas apresentaram análises provocadoras sobre o papel da tecnologia e da IA no cenário atual, e como estas se mostram um verdadeiro motor das práticas de ESG.

IA como aliada na redução da desigualdade

Fücher abordou o potencial da ferramenta para promover uma sociedade mais digital e menos desigual. Ele destacou exemplos de como a IA pode ampliar o acesso à educação, democratizar oportunidades de renda e gerar eficiência em setores estratégicos, como na Saúde e na Agricultura. “A tecnologia tem o poder de transformar a vida das pessoas de forma inclusiva, mas isso exige consciência sobre uso e aplicação”, ressaltou.

Nesse contexto, o executivo da Abes chamou a atenção para inovações como a produção de carne cultivada em laboratório e o uso da IA em diagnósticos médicos avançados, incluindo edição genética e análise de genomas. Ele também mencionou iniciativas de Logística Reversa (LR) e de recondicionamento de equipamentos obsoletos, que impactam diretamente os projetos sociais e ajudam a reduzir a desigualdade digital no País. “Nosso programa ReciTech tem esse objetivo. Cada tonelada de equipamentos reciclados contribui para mudar a vida de dezenas de pessoas e, ainda, apoia o cumprimento de múltiplos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS]”, afirmou.

O risco da velocidade e o efeito nos pilares ESG

Silvia, por sua vez, trouxe um alerta importante a respeito da velocidade exponencial das inovações tecnológicas e dos seus riscos para o meio ambiente, a governança e as relações de trabalho. Em sua análise, destacou que, mesmo que a IA esteja cada vez mais presente nas decisões das empresas, muitas organizações ainda não contam uma governança tecnológica adequada para lidar com os efeitos da ferramenta. “Estamos vivendo uma aceleração inédita na história da humanidade. E muitas empresas ainda avaliam essas mudanças com as métricas da Revolução Industrial”, provocou.

A especialista também destacou que a IA, ao mesmo tempo que se mostra uma ferramenta poderosa para reduzir emissões, otimizar processos e melhorar a eficiência energética, apresenta um lado negativo: o aumento do consumo de energia em data centers e o risco de aumentar a pegada de carbono das operações digitais. “A IA pode ser um motor de sustentabilidade, mas precisa ser acompanhada de políticas sérias de governança e gestão de dados. Caso contrário, pode minar os próprios pilares do ESG”, advertiu.

A publisher ainda ressaltou que o avanço da tecnologia no mercado de trabalho levanta dilemas éticos, como a substituição de vagas de emprego e a exclusão dos profissionais que não conseguem acompanhar a velocidade dessa transformação. “Estamos falando de decisões que afetarão a vida de milhões de trabalhadores. Como garantir que a tecnologia seja um complemento, e não um substituto para as pessoas?”, questionou.

Confira a seguir, em detalhes, como as tecnologias podem ser ferramentas produtivas para aprimorar os pilares de ESG, incluindo os impactos destacados pela especialista.

  • Pilar E: em sustentabilidade ambiental, por meio de algoritmos sofisticados e análises preditivas, a IA pode otimizar o uso de energia em edifícios, fábricas e sistemas de transporte, levando a reduções relevantes nas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). “Os sistemas de gerenciamento de resíduos com tecnologia também podem melhorar a reciclagem e a separação de rejeitos, reduzindo os reflexos ambientais de descarte. Também é um recurso potente de monitoramento ambiental, fornecendo dados em tempo real sobre a qualidade do ar, os níveis de água e outros indicadores críticos, permitindo intervenções rápidas e direcionadas para tratar de problemas emergentes”, reforçou.
  • Pilar S: segundo o relatório recente do Word Economic Forum, estima-se que 22% dos empregos atuais serão afetados pela criação ou pela erradicação de vagas de emprego. Essa mudança estrutural no mercado de trabalho mundial promete criar 170 milhões de novas vagas, mas também deslocar 92 milhões de funções existentes, resultando em um crescimento líquido de 78 milhões de empregos. “Nesse pilar, é preciso treinar pessoas para lidar com as ferramentas exponenciais. A adaptabilidade é a competência mais importante agora — aprender a usar as novas tecnologias e aplicá-las, além de desaprender os processos obsoletos. Isso vai fazer a diferença total para qualquer profissional”, apresentou.
  • Pilar G: na governança, os impactos são positivos em transparência aperfeiçoada pelo o uso de dados, melhoria na gestão de riscos, processos de decisão otimizados e compliance regulatório. “Já os desafios e as considerações são: a coleta de dados privados como um grande disruptor da governança; o viés dos algoritmos de IA que podem refletir e ampliar preconceitos sociais, levando a tomadas de decisão injustas e discriminatórias, que devem ser reduzidas; o desenvolvimento ético, que exige fortes princípios como transparência, responsabilidades e explicabilidade; e a marginalização da força de trabalho, pois a adoção de IA nas práticas de ESG pode levar ao descolamento de empregos, exigindo ações de retreinamento e requalificação”, indicou.

Encerrando a apresentação, Silvia citou uma frase de Amy Webb, fundadora e CEO do Future Today Institute, que diz que “O futuro é uma pedra no sapato que a gente não vai poder parar para tirar, porque não dá tempo. Precisamos aprender a tomar decisões com a pedra no sapato”.

Veja também

Clique no link abaixo e confira as palestras do primeiro painel “Sustentabilidade para IA vs IA para sustentabilidade: Desafios e Oportunidades”.

Integração entre sustentabilidade e inovação

A reunião conjunta dos conselhos da FecomercioSP reforçou a necessidade urgente de um diálogo contínuo entre sustentabilidade e inovação tecnológica. A IA, segundo os especialistas, pode ser uma grande aliada na busca por soluções climáticas e sociais, mas precisa ser implementada com responsabilidade e visão de longo prazo.

A Entidade, por meio dos seus conselhos de Economia Digital e Inovação e de Sustentabilidade, reafirmou o compromisso de liderar esse debate nos setores de Comércio, Serviços e Turismo, estimulando ações que unam desenvolvimento econômico, justiça social e preservação ambiental. A Federação segue comprometida com a função de conectar o setor produtivo às melhores práticas e às tendências globais em sustentabilidade e inovação.

Acompanhe todas as novidades e iniciativas promovidas por meio destes links: economia digital e sustentabilidade.

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