Notamos que você possui
um ad-blocker ativo!

Para acessar todo o conteúdo dessa página (imagens, infográficos, tabelas), por favor, sugerimos que desabilite o recurso.

Editorial

A resiliente economia estadunidense pressiona o FED (e o mundo)

Banco demorou para subir os juros e, agora, enfrenta dificuldade para combater a inflação

Ajustar texto A+A-

A resiliente economia estadunidense pressiona o FED (e o mundo)
Situação pode ser positiva para o Brasil se o País aproveitar o ensejo para atrair investimentos produtivos (Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos do primeiro trimestre de 2023, divulgados pelo Departamento de Comércio do país, revelam uma angústia a mais para o Federal Reserve Board (FED), a versão americana do Banco Central (BC)

Apesar do aumento de 1,1%, abaixo do esperado pelo mercado, a previsão era uma alta próxima a 2%, após crescimento de 2,6% no trimestre anterior, a abertura do número não parece trazer tranquilidade para a flexibilização da política monetária e o fim do ciclo de aperto de juros.

Diante desse cenário, percebemos que os gastos do consumidor cresceram próximo a 2,5% na margem, revelando ainda um apetite forte do consumo do cidadão norte-americano e ressaltando que o efeito do aumento da taxa de juros ainda não afetou o poder de compra da população.

A surpresa foi grande, pois o consumo tinha mostrado arrefecimento considerável durante 2022, e isso parece indicar a necessidade de um esforço adicional do banco central de lá.

Ainda assim, os números de março referentes a gastos com bens e restaurantes já mostram uma desaceleração na margem, com queda de 1% em comparação a fevereiro, dessazonalizado. Entretanto, esse fato merece um cuidado especial, pois são dados que apresentam muita volatilidade mês a mês. Além disso, ainda há alguma possibilidade de revisões para baixo nas próximas leituras do mesmo PIB.

Por outro lado, os estoques caíram, na margem, mais de 2% no trimestre. Isso mostra que as empresas estão lançando mão de produtos estocados para atender ao aumento de demanda.

Além disso, não estão confiando em novos investimentos. Então, é possível deduzir que esse incremento no consumo foi servido, em partes, pelos estoques, bem como parece que a expansão dos juros afetou a produção antes de afetar as compras.

Tal afirmação pode ser corroborada pelo Personal Consumption Expenditures Price Index (PCE), ou Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal, o preferido do FED para medir a temperatura da economia.

O núcleo do indicador (desprezando os preços mais voláteis, ao excluir as variações dos alimentos e da energia, fora do controle das taxas de juros) subiu 0,3% em fevereiro, na margem, e 4,6%, na comparação anual, segundo números divulgados também pelo Departamento de Comércio norte-americano. Esse resultado se apresenta abaixo do esperado pelo mercado, que projetava altas de 0,4% (mensal) e de 4,7% (anual).

Em suma, a economia estadunidense, embora já tenha arrefecido, ainda continua rodando muito forte. A despeito da alta da taxa de juros (de próximo a zero a 4,75%), ainda não dá nenhum conforto para o FED começar o processo de flexibilização. Isso é consequência de um erro grave da autoridade monetária de reconhecer que a inflação era também de demanda, e não apenas de custos.

Mesmo diante dessa conjuntura, o banco demorou para subir os juros e, agora, enfrenta mais dificuldade para combater a inflação.

Toda essa situação pode ser positiva para o Brasil, que deve começar uma flexibilização monetária antes do mundo desenvolvido. Se fizer a lição de casa, ainda consegue aproveitar o ensejo para atrair investimentos produtivos.

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
 Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 4 de maio de 2023.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).

Inscreva-se para receber a newsletter e conteúdos relacionados

* Veja como nós tratamos os seus dados pessoais em nosso Aviso Externo de Privacidade.
Fechar (X)