Editorial
18/08/2017Água e saneamento básico, por José Goldemberg
Para presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecomercio, universalizar acesso a esses serviços demandaria investimentos anuais de R$ 20 bilhões por 15 anos
No que se refere à água potável, no Brasil existem 602,4 mil km de redes de água, às quais estão conectados 53,4 milhões de ramais prediais (Foto: Banco de imagens)
Entre todas as questões de infraestrutura que são essenciais para as sociedades modernas, como comunicação, transporte e energia, saneamento básico é a mais importante. É ele que garante diretamente a saúde da população, e sem ela a vida em grandes cidades seria inviável.
Não é por outro motivo que a grande cidade de Roma, com 1 milhão de habitantes há 2 mil anos, já dispunha de água potável trazida de grandes distâncias nos magníficos aquedutos que sobreviveram até hoje e coleta de esgotos cuja construção começou no século 3 antes de Cristo.
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As grandes pestes que devastaram a Europa na Idade Média são devidas diretamente às precariíssimas condições sanitárias das cidades medievais, situação essa que persistiu em cidades como Londres até o século 20 devido à poluição do rio Tâmisa.
Sucede que saneamento básico tem custos elevados porque os equipamentos usados em países ricos e pobres não são muito diferentes. Não é de surpreender, portanto, que em países mais pobres o saneamento básico não atinja toda a população.
No Brasil a população urbana atendida por rede de esgoto é de 98 milhões de habitantes. O índice médio de atendimento é de 58% nas áreas urbanas das cidades brasileiras, destacando-se a região Sudeste, com média de 81,9%. Quanto ao tratamento dos esgotos, o índice médio do País é de 42,7%.
No que se refere à água potável existem 602,4 mil km de redes de água, às quais estão conectados 53,4 milhões de ramais prediais. A população urbana atendida por redes de água é de 157,2 milhões de habitantes.
O consumo médio de água no País é de 154 litros por habitante/ dia. A distribuição sofre perdas que na média nacional alcançam 36,7%, o que explica a lamentável situação em que se encontra o setor de água e saneamento no Brasil.
A tabela abaixo ilustra bem essa situação para o caso de água potável em vários países. Desde os Estados Unidos, com uma renda per capita de US$ 57,5 mil, até o Brasil, com uma renda per capita de US$ 15 mil, cerca de quatro vezes menor, observa-se, contudo, que o custo da água é US$ 18,5 por m3 nos Estados Unidos e apenas US$ 8,9 por m3 no Brasil.
O custo de água nos Estados Unidos reflete o valor real de produzi-la e, como se vê na tabela, difere pouco do custo nos países ricos. O que sucede no Brasil é que o custo da água é baixo, o que desencoraja investimentos nesta área.
A fração do GDP/per capita (PIB/ per capita) gasto com água no Brasil não difere muito do que ocorre nos outros países, mas o GDP do Brasil é mais baixo. Se o GDP crescesse, o custo da água poderia subir e tornar os investimentos nesta área mais atraentes.
Em 2015 foram investidos R$ 12,2 bilhões no setor. Estima-se que seriam necessários investimentos de US$ 20 bilhões por ano durante 15 anos para universalizar o acesso à água e ao saneamento, isto é, o dobro do que está sendo aplicado atualmente.
* José Goldemberg é presidente do Conselho de Sustentabilidade da Fecormercio SP
Artigo originalmente publicado na revista Lide São Paulo no dia 31 de julho de 2017
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