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Economia

Após universalização da educação, Brasil precisa se equiparar ao mundo nas habilidades essenciais para o futuro

Processo foi um avanço essencial à redução da desigualdade, mas é necessário também modernizar para garantir que o ensino acompanhe o restante do mundo

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Após universalização da educação, Brasil precisa se equiparar ao mundo nas habilidades essenciais para o futuro
Com a universalização do acesso à educação, o desafio, agora, é também garantir a permanência do estudante na sala de aula (Arte: TUTU)

O Brasil alcançou um feito significativo entre as décadas de 1990 e 2010: a taxa de extrema pobreza caiu de 20%, em 1995, para cerca de 10%, em 2015, fato acompanhado por uma redução na desigualdade, com diminuição na diferença de renda entre os estratos mais pobres, medianos e mais ricos. Para André Portela, economista e especialista em Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), esse período foi marcado por um crescimento econômico combinado com uma distribuição de renda mais equitativa, o que contribuiu para o decréscimo da pobreza. Contudo, ele ressalta que o crescimento econômico não foi o único fator; a universalização da educação foi igualmente importante. 

“Se tivéssemos de destacar um único fator associado à redução das desigualdades de renda e da pobreza, escolheria a escolaridade como o elemento mais diretamente ligado. A primeira vez, na história do País, em que mais de 90% das crianças de sete anos estavam na escola foi em 1993, um marco recente. Nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra, essa mesma taxa foi alcançada no fim do século 19”, afirmou Portela, durante a reunião plenária das diretorias da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), realizada na última segunda-feira (26). 

“Levamos quase cem anos para universalizar o acesso à escolaridade. Nos anos 1930, mais de 90% dos adolescentes norte-americanos já frequentavam o ensino médio, enquanto que, no Brasil, atingimos essa marca há menos de uma década. Isso ilustra o nosso atraso e a necessidade de despertar para a universalização da educação”, enfatizou. 

Na ocasião, o economista também ressaltou que, ao se comparar a escolaridade de pais e filhos na década de 1970, nota-se que filhos de pais com nível superior tinham entre 60% e 70% de chance de cursar uma faculdade, enquanto filhos de progenitores analfabetos tinham em torno de 30% de chance de completar, no máximo, o ensino primário. “Essa é a face da perpetuação da desigualdade. Com a universalização do acesso, o desafio, agora, é garantir a permanência. Embora hoje 90% das crianças de até dez anos estejam matriculadas, muitas não concluem o ensino médio — e entre as que concluem, há deficiências no aprendizado. Para combater essa disparidade, precisamos melhorar a escolaridade e a qualidade do ensino”, afirmou Portela. 

De acordo com ele, romper esse círculo vicioso passa pela criação de igualdade de oportunidades educacionais para todos os estudantes brasileiros, garantindo que os jovens não dependam da capacidade dos pais de prover um ensino de qualidade. “Romper esse ciclo seria uma revolução positiva para a nossa sociedade”, afirmou. “O acesso e a qualidade educacional impactam diretamente a capacidade produtiva das pessoas, reduzindo a desigualdade. A educação capacita os indivíduos e lhes dá autonomia para serem produtivos, seja no mercado de trabalho, seja no empreendedorismo.” 

Segundo Ivo Dall’Acqua Júnior, presidente em exercício da FecomercioSP, o Brasil continua sendo uma das nações mais desiguais entre os países mais ricos do mundo, em grande parte graças à baixa qualificação da população. “Temos um sistema educacional universalizado, mas a qualidade ainda é questionável. Na Federação, temos nos dedicado a analisar os problemas estruturais do País. Além do trabalho de representação empresarial, defendemos a modernização do Estado em diversas frentes e articulamos esforços em torno dessa bandeira. Sabemos que, enquanto o Brasil não enfrentar as raízes da desigualdade, continuaremos com poucas perspectivas de avanço considerável.” 

Ao longo dos últimos meses, a Entidade abriu espaço para discussões com acadêmicos, empresários, especialistas e nomes importantes do setor público, de forma a apresentar os caminhos mais efetivos à modernização. A educação é um dos pilares desse processo. Clique aqui e acompanhe todos os trabalhos da FecomercioSP. 

Caminhos para um futuro competitivo  

Portela ainda explicou que aprimorar o ensino nacional não se trata apenas de aumentar os recursos, mas também melhorar a qualidade do gasto em todo o sistema. A questão para a qual ainda não se tem uma resposta clara é que, enquanto o País ainda corria para universalizar o acesso, o mundo também avançou, e as habilidades exigidas para os mercados de trabalho atual e futuro mudaram drasticamente. 

“O que é ensinado como habilidade essencial na maioria das escolas brasileiras está desalinhado com as exigências atuais do mercado, como capacidades de reflexão, tomada de decisão, interação e habilidades para utilizar novas tecnologias, incluindo Inteligência Artificial (IA) e Big Data. Alcançar isso, como fizemos com a universalização, nos permitirá atacar dois problemas: a produtividade lenta e a desigualdade”, concluiu o especialista.

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