Editorial
17/06/2022As boas novas e os desafios do varejo e dos serviços
Apesar dos dados favoráveis do último Caged, a renda real e a massa de renda não conseguem subir de forma consistente
O momento, agora, é de fazer ajustes, aumentar produtividade e traçar estratégias bem detalhadas
(Arte: TUTU)
Por André Sacconato*
Em abril, ambos os indicadores de comércio e serviços apontaram resultados positivos – embora o segundo tenha atuado perto da estabilidade – dando início ao segundo trimestre com altas, embora menos intensas do que nos três meses anteriores.
Não é de hoje que o varejo vem surpreendendo a economia brasileira. O crescimento de 0,9% em abril, após três altas seguidas (a começar com 2,4% em janeiro), já mostra um setor com incremento positivo de 2,3% nos quatro primeiros meses do ano, superando o campo neutro em 12 meses, com alta de 0,8%.
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Apesar de o crescimento na margem estar menor do que o observado no início de 2022, a persistência no campo positivo já é uma vitória, em tempos tão turbulentos. Sem contar que, ao contrário da indústria, já estamos quase 4% maiores do que no período pré-pandemia, com mais fôlego para os próximos três meses.
O varejo ampliado, que inclui automóveis e construção civil, também apresentou vigor, com alta de 0,7% no mês. Ainda que o setor de automóveis tenha tido um mês ruim, o índice geral sustentou o resultado.
Só devemos ter cuidado para não levar em consideração o crescimento em comparação a abril de 2021, pois, à época, vivíamos o pico dos fechamentos dos estabelecimentos, principalmente no Estado de São Paulo, em decorrência da onda da variante Ômicron do coronavírus.
Dentre os destaques, o setor de móveis e eletrodomésticos cresceu 2,3%, assim como o segmento de tecidos e vestuário, com 1,7%. Este último tem mantido a expansão nas vendas, tanto pelo frio extremo que temos presenciado como pela demanda reprimida na pandemia.
Outro dado importante e promissor: a receita nominal do setor cresceu 1,3%, na margem, e 22,3%, em comparação a abril do ano passado, apontando avanço real, a despeito de a renda dos consumidores não ter subido.
Assim, é possível que a população ainda esteja fazendo uso da poupança para o consumo, adquirida nos tempos de confinamento.
Dito isso, este é um ponto que traz preocupação, principalmente para o segundo semestre: a taxa de poupança, embora ainda alta, vem decaindo – e o consumo tem demandado mais rendimentos.
O índice de serviços do mês de abril também apontou alta (mas modesta), de 0,2%, já se mantendo muito acima do período pré-pandemia, embora muito abaixo do pico de novembro de 2014.
Apesar de favorável, a informação aflige, pois revela perda de força. O grande indutor do desenvolvimento foi o setor de serviços a famílias, principalmente bares e restaurantes, que retomam a vida normal.
O turismo também indicou ascensão potencial no quarto mês do ano: 2,5%, embora ainda esteja 3,4% menor do que antes da crise sanitária.
Em geral, os números são otimistas, mas mostram um quadro trabalhoso para o segundo semestre: tanto varejo quanto serviços estão perdendo força, e ambos devem enfrentar circunstâncias mais hostis.
Subida dos juros nos Estados Unidos, conflito na Ucrânia e perda de força do crescimento chinês, além dos fatores internos, como juros altos, endividamento e inflação, proporcionarão dificuldades.
O momento, agora, é de fazer ajustes, aumentar produtividade e traçar estratégias bem detalhadas para enfrentar este cenário, enquanto os números ainda são positivos.
Nos momentos mais complexos, é necessário inovar – e quem conseguir o feito deve tirar benefícios da situação.
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*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 16 de junho de 2022.