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Editorial

Até onde iremos com o novo ciclo de aumento de juros?

Entenda o cenário econômico que se apresenta para o futuro em relação ao juros

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Até onde iremos com o novo ciclo de aumento de juros?

Recuperação rápida veio acompanhada de pressão de custos, falta de insumos e inflação
(Arte: TUTU)

*Por André Sacconato

Estamos claramente em tempos de recuperação das economias mundiais. China, Estados Unidos e até Europa já mostram sinais consistentes de avanço da vacinação e da volta ao normal em variáveis que, antes, pareciam distantes, como vendas do varejo, eventos e serviços.

No Brasil, apesar de estarmos um pouco atrasados, parece que engatamos uma boa velocidade na vacinação e, como a recuperação parece ter se iniciado já no primeiro trimestre, é bem possível que tenhamos uma boa perspectiva econômica para o restante do ano e para o crescimento geral.

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Por outro lado, o fato de a pandemia ter quebrado várias cadeias globais de produção e mexido com planejamento de estoques e linhas de produto, esta recuperação rápida veio acompanhada de pressão de custos, falta de insumos e inflação.

Nos Estados Unidos, essa pressão ainda veio potencializada pelo fato de que as pessoas estão ganhando incentivos econômicos do governo e não voltaram ao mercado de trabalho – inclusive, alguns têm medo de oferecer seus serviços em tempos de pandemia. Assim, as empresas experimentam mais um custo: a pressão sobre salários. Apesar do desemprego estar maior do que antes da pandemia, a dificuldade de buscar trabalhadores já gera pressão de custos do fator laboral.

Estes fenômenos já vêm se refletindo nos índices inflacionários. No país norte-americano, o índice que mede a inflação oficial, o CPI, bateu 5% anualizado em maio, lembrando que a meta daquele país é de 2%. Foi a maior inflação em 12 anos. Se considerarmos o core, a mesma inflação, extraídos os preços voláteis, temos 3,8% anualizado, o maior valor desde 1992.

No Brasil o índice oficial, o Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), já atingiu mais de 8% em 12 meses e ainda deve subir para algo entre 9% e 10% até junho. Os índices de preços no atacado, como o IPA, já atingiram mais de 50% no ano, evidenciando que o cenário dos índices ao consumidor, como o IPCA, pode se tornar ainda mais severo.

É este cenário que os bancos centrais estão enfrentando nos países. Tanto o Banco Central do Brasil (BC) quanto o estadunidense Federal Reserve (Fed) já mostram preocupação com a inflação corrente, mais rápido do que se imaginava nos tempos de pandemia.

Assim, o Fed – que nos seus comunicados anteriores não mostrava grande preocupação com inflação – mudou o tom agora, em junho, e já cita com mais veemência a melhoria da economia do que a preocupação com o mercado de trabalho. Isso significa que a inflação alta e o aquecimento econômico parecem ser, agora, a preocupação central. Isso não significa que teremos aumentos de juros naquele país, mas os diretores da autoridade monetária já ventilam que isso acontecerá em 2022 e não mais em 2023. Além disso, o programa de compras de ativos daquela instituição (US$ 120 bilhões/mês) deve ser diminuído já neste ano, por causa do aquecimento da economia.

Nos Estados Unidos, a bonança monetária deve permanecer até 2023, mas com solavancos, dada a supressão do programa de aquisição e ativos. O mercado já exige uma postura um pouco menos titubeante do banco. É importante notar que uma política monetária mais restrita lá pode influenciar o câmbio daqui, já que os dólares podem voltar para o país norte-americano, a fim de aproveitar juros maiores.

No Brasil, a necessidade de ação é mais urgente. Os índices inflacionários estão muito altos, e a economia vem se recuperando antes do esperado. Com o aumento da vacinação, esta necessidade deve se intensificar. Assim, o BC já iniciou processo e alta na taxa de juros que devem demorar para acabar. Segundo a própria autoridade monetária, esse processo deve se estender até que a taxa de juros fique neutra. Essa taxa de juros “neutra” significa um valor em que a política monetária não permita que se aumente, nem que se diminua, a quantidade de moeda da economia. Alguns economistas estimam que essa taxa, hoje, seja próxima a 6,5% ou 7%. O BC afirmou que deve buscá-la até o início de 2022, o que nos dá uma boa pista de como estaremos em termos de juros até lá.

Sabíamos que o nível de 2,5% era específico para as condições da pandemia. Não era a taxa que estava de acordo com a nossa economia e que, algum dia, voltaria a algum patamar, desconhecido até então. Agora, já temos mais clareza do nosso destino. É uma taxa alta, mas ainda baixa em relação ao histórico do País.

Se tivermos disciplina fiscal e estabilidade política, poderemos, com o tempo, voltar a taxas mais baixas. Isso depende apenas de atitudes do governo – mas, por enquanto, o é a taxa que temos que trabalhar no médio prazo.

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 25 de junho de 2021.

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