Negócios
22/03/2024Baixo investimento em infraestrutura afeta o desempenho do turismo
Crescimento tímido e propostas para alavancar os potenciais desse mercado são discutidos na FecomercioSP
Em meio ao impasse pelo possível fim do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), o Turismo nacional cresceu 7,8%, em 2023, somando um faturamento de R$ 189,4 bilhões. No entanto, os investimentos na infraestrutura relativa ao segmento no Brasil continuam tímidos. A conjuntura econômica e as perspectivas do mercado e seus respectivos subsegmentos foram os temas de destaque da última reunião mensal do Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
O economista e sócio da BR Infra Group, Marcelo Allain, mostrou o histórico e o pipeline de investimentos em infraestrutura divididos pelos setores público e privado, a distribuição por segmentos e regiões, as implicações e as iniciativas para beneficiar o mercado do turismo brasileiro. “De 2010 a 2024, o Estado investiu 1,87% do PIB em infraestrutura — enquanto que os outros países destinaram mais do que o dobro desse valor (4%). Nesse contexto, o Brasil não vive uma expansão e uma modernização, mas atua só na manutenção do conjunto de serviços de saneamento, transporte, energia e telecomunicação”, opinou Allain.
Na visão do economista, as implicações desse baixo investimento são: baixa qualidade dos meios de transportes que onera o setor (com exceção do aéreo) e uma limitada malha rodoviária concedida com boa qualidade, como a do Estado de São Paulo. “O setor portuário, por exemplo, tem alguns bons terminais de cargas, mas lida com escassez de terminais turísticos e acessos inadequados. Já a pequena densidade de metrôs e de Veículos Leves sob Trilhos (VLTs) e faltas de segurança pública e de transporte rodoviário também prejudicam a mobilidade urbana e o mercado, respectivamente”, disse.
Allain destacou, ainda, algumas propostas com potencial de beneficiar o setor, como ampliar e promover melhorias nas vias de transporte na Região Centro-Oeste, entre outras frentes. “A narrativa do programa do governo Voa Brasil, por exemplo, pode focar na diferenciação das passagens (não só em baratear); o setor aéreo pode atuar na cobrança de bagagens despachadas e reduzir a litigiosidade nos atrasos de voos para atrair companhias de baixo custo.” A modernização do acesso do Porto de Santos; a abertura para companhias operarem viagens interestaduais de ônibus sob autorização; a melhor integração do metrô/VLT com aeroportos, portos e rodoviárias; e a regulamentação dos EVTOLs foram outras alternativas apontadas pelo especialista.
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Dados da conjuntura econômica
Ao discorrer sobre o panorama, Guilherme Dietze, presidente do Conselho de Turismo, falou sobre o resultado recente do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Embora tenha havido um crescimento de 2,9% no ano passado, a qualidade desse avanço está ruim, sobretudo pela queda nos investimentos em 3% e na perda da capacidade de poupar do País. “Esse resultado mostra claramente as necessidades de uma modernização do Estado, um ambiente de negócios mais favorável para investimentos, reduções de carga tributária e juros e mais eficiência dos gastos públicos.”
Acerca do turismo nacional, Dietze comentou que o dado mais recente da FecomercioSP mostra um faturamento de R$ 190 bilhões — um incremento de 7,8% registrado em 2023. “Contudo, temos ainda limitadores que precisam de atenção, especialmente os relativos às dificuldades na ampliação da oferta, principalmente na malha aérea”, destacou.
O presidente do conselho reiterou que o turismo brasileiro tem frentes com alto potencial de incremento. “O crescimento do setor está bom, e temos muito potencial para explorar e alavancar, especialmente nas viagens corporativas e no turismo do entretenimento, feiras e grandes eventos, além de melhorar e modernizar a infraestrutura e, especialmente, aproveitar o avanço exponencial do mercado de luxo”, concluiu.