Economia
16/09/2024Banco Central precisa observar inflação ou aquecimento da demanda para definir Selic
Para a FecomercioSP, a taxa será influenciada por dados de preços, desemprego em queda e alta na massa de renda
Há alguns dias, o boletim Focus, do Banco Central (Bacen), afinou as expectativas do mercado sobre o que vai acontecer nesta semana, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição se debruçará novamente sobre a taxa básica de juros, a Selic. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), dado o cenário paradoxal, será uma reunião em que a instituição terá de tomar uma decisão difícil. Mas... por quê?
Quem argumenta que é possível manter a Selic no patamar atual (10,5%) usa os dados inflacionários recentes para dizer que os preços estão comportados.
De fato, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto, divulgado pelo IBGE há alguns dias, mostrou queda de 0,02%. Com isso, o indicador acumula altas de 2,85%, no ano, e de 4,24%, em 12 meses — abaixo da banda superior da meta. É uma taxa inferior ao 0,23% registrado em agosto de 2023. Especialmente nas aberturas, o índice do mês passado mostrou mesmo um bom comportamento. O grupo de alimentação e bebidas registrou deflação de 0,44%, por exemplo, influenciado pelo consumo em domicílio (-0,73%). A alimentação fora do domicílio, por sua vez, aumentou 0,33%.
A conjuntura internacional joga também pelo lado da manutenção da taxa. É muito provável que o FED, o banco central dos Estados Unidos, corte a taxa básica de juros do país na próxima reunião, o que pode levar a uma valorização do real e a uma diminuição do efeito inflacionário do câmbio. Além disso, os preços do petróleo vêm despencando, o que pesa nos índices brasileiros. Mas há um consenso nos agentes de mercado de que a inflação só ficará dentro da meta estabelecida pelo Bacen (de 3%) se os juros subirem agora. Ainda que o IPCA tenha caído timidamente, o acumulado de 2024 está perto dessa margem.
Sem contar que o setor de Serviços subiu 0,24% em agosto, taxa considerada positiva, mas que chegou após uma elevação de 0,75% no mês imediatamente anterior. Em outras palavras, é uma volatilidade que impede uma análise mais concreta sobre arrefecimento dos custos. Não é à toa que o Focus projete taxas da Selic de 11,25%, para o fim deste ano, e de 10,25%, para 2025.
Ademais, há um elemento que nem todos os analistas do mercado estão observando — e que tem se refletido nas reuniões do Conselho Superior de Economia, Sociologia e Política da Federação: uma conjuntura de aquecimento de demanda, marcada por uma taxa de desemprego em queda brusca (6,8%, no trimestre encerrado em julho), que já alcançou o menor patamar desde 2012, e por uma massa de renda real em níveis históricos. Tudo isso se reflete no PIB, que também registrou crescimento de 1,4% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o salto foi de 3,3% — muito além do que o mercado esperava.
Esse cenário faz com que o Bacen tenha de esperar os próximos números da inflação — para confirmar essa trajetória de queda — ou agir agora para estancar, desde já, esse potencial aquecimento.