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Sustentabilidade

Bioenergia pode reduzir custos com combustível e energia elétrica

Segundo especialistas, para suprir a demanda crescente o país deve aproveitar diversidade da flora e diversificar sua matriz energética

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Bioenergia pode reduzir custos com combustível e energia elétrica

Por Jamille Niero

Em tempos de conta de energia elétrica pesando no bolso do brasileiro, alternativas que prometam reduzir esse custo tornam-se fundamentais. Uma opção é a bioenergia, que é obtida a partir da biomassa, fonte de energia renovável. 

No Brasil as fontes de bioenergia em uso são os biocombustíveis (etanol e biodiesel), resíduos agrícolas (bagaço de cana, casca de arroz, etc.), resíduos de madeira, carvão vegetal e lenha. “No entanto, os mais importantes são o etanol de cana-de-açúcar e o biodiesel (principalmente de soja), bem como a cogeração com o bagaço de cana”, explica Hugo Molinari, pesquisador da Embrapa Agroenergia. Mundialmente as fontes de energia primária são principalmente de origem fóssil: óleo, carvão e gás, totalizando cerca de 85%. Assim, as fontes renováveis representam menos de 13%. Vale lembrar que a cana-de-açúcar é abundante no país, já que o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, com produção anual de cerca de 650 milhões de toneladas. 

Segundo o professor de engenheira ambiental da Universidade Federal de Pelotas Willian Cézar Nadaletti, o cultivo da cana-de-açúcar para ser usada como combustível teve início no Brasil na década de 1970. Na época, o governo criou o programa Pró-Alcool, que visava estimular a produção do etanol como alternativa à gasolina, já que o mercado do petróleo estava em crise no mundo todo. “Nos Estados Unidos, a experiência com o etanol data de 1940, mas o vegetal usado era o milho”, conta o especialista. 

Aplicações da cana-de-açúcar
Segundo Nadaletti, existem três usos principais da biomassa para a produção de bioenergia e o etanol é um deles. Ele é usado principalmente como combustível em veículos leves, como os automóveis, e mais pesados, como caminhões. “Causa menos impacto ambiental e é mais barato”, explica Nadaletti. 

A segunda aplicação mais comum é o biodiesel, que pode ser usado em motores padrão, substituindo total ou parcialmente o óleo diesel. Vale lembrar que desde setembro de 2014, é obrigatória a adição de biodiesel ao óleo diesel (feito do petróleo) comercializado para o consumidor final. O percentual obrigatório definido por lei de mistura do biodiesel ao óleo diesel atual é de 7%. Além disso, o biodiesel pode ser usado ainda para gerar eletricidade e em motores “estacionários”, como os geradores. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a principal matéria-prima do biodiesel em 2013 foi o óleo de soja (68,6%), seguido do sebo bovino (17,3%).

Entre os principais usos de biomassa para produção de energia está ainda o biogás. “O uso é bem amplo. Dá para produzir energia térmica, mecânica ou luminosa”, aponta o engenheiro. Ou seja, se usado em fogões, o biogás pode substituir o GLP (ou gás de cozinha); em motores de ônibus e caminhões gera a energia mecânica – por combustão interna; e a luminosa em lamparinas. 

Geração de energia elétrica e o potencial a ser explorado
Para Celso Junqueira Franco, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (UDOP), a bioeletricidade – que é a energia elétrica gerada por meio da queima de resíduos de biomassa, como o bagaço e a palha da cana – não é explorada como deveria. O especialista explica que muitas usinas sucroalcooleiras são autossuficientes em energia. Isso porque elas queimam o bagaço e, agora, também a palha que restaram da colheita da cana-de-açúcar nas caldeiras, gerando energia para consumo próprio. Em alguns casos, a produção gera mais energia do que a consumida e esse excedente é repassado para a distribuidora da região. 

“Infelizmente, o volume excedente que o Brasil produz no setor não chega a 15% do que poderia. Esse volume poderia ser ampliado em seis vezes”, diz Franco. Segundo ele, o problema para a ampliação é o investimento necessário, já que as usinas precisaram adotar equipamentos mais modernos. Além disso, há problemas na transmissão da energia excedente para a rede de distribuição, que não tem capacidade para receber o volume. 

“Algumas usinas estão a 50 quilômetros do ponto de conexão e a regra atual define que a própria usina é responsável pelo investimento na rede de conexão. O investimento é pesado e, se não houver retorno financeiro, não vale a pena”, indica o presidente da UDOP. Ele sugere que deveria haver mudança no critério e seguir a mesma linha das usinas eólicas, nas quais a distribuidora é quem busca a energia excedente em quem produz. 

Franco destaca ainda que a energia a partir da biomassa de cana-de-açúcar “não consome um quilo de combustível adicional” e é interessante porque aproveita uma energia que já existe. É útil ainda pois a geração do combustível se dá no período seco, quando as hidrelétricas – principal fonte na matriz energética brasileira – estão produzindo menos, já que há menos chuvas e o nível dos reservatórios está mais baixo. “É um modelo que gera segurança no abastecimento”, opina. 

Para Nadaletti, o uso da cana-de-açúcar como fonte para geração de energia elétrica é válido. Contudo, considerando a diversidade da flora brasileira, vale a pena buscar outras matérias-primas regionais, como o pinhão-manso, palma e outras palmeiras nativas. O engenheiro ambiental comenta ainda sobre o potencial do biogás gerado a partir da degradação anaeróbia de resíduos de aterros sanitários. Segundo levantamento publicado neste ano por ele e equipe, se aproveitado, todo o biogás produzido nos aterros brasileiros poderia abastecer toda a frota nacional de ônibus multiplicada nove vezes. 

“Para suprir a demanda crescente por energia e evitar o aumento dos custos que podem se prolongar no médio prazo, o Brasil precisa diversificar sua matriz energética”, acrescenta o especialista. 

Molinari, da Embrapa Agroenergia, reforça que falta apoio e incentivo para que a produção de bioenergia avance cada vez mais, tanto na área agrícola como na área industrial. “Na área agrícola, os ganhos com os aprimoramentos das práticas de produção e adoção de novas tecnologias podem alavancar o setor. No caso dos biocombustíveis, a oferta tem passado por grandes oscilações e adequação à demanda (etanol) e de capacidade instalada de produção muito acima do previsto (biodiesel)”. Segundo sua análise, a indústria de biocombustíveis brasileira precisa superar alguns desafios, como reestabelecer a sustentabilidade econômica em curto e médio prazo e desenhar estratégias de longo prazo para se posicionar na indústria baseada em biomassa do futuro. “A meta de longo-prazo é a inovação e a capacitação para a construção da indústria do futuro baseado na bioeconomia”, conclui.

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