Editorial
17/04/2023Boas novas na inflação
Especialista comenta sobre o cenário inflacionário no país, apontando os percentuais da realidade
Por André Sacconato*
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou inflação de 0,71% no mês de março, contra um consenso de mercado de 0,77%, após um resultado de 0,84% em fevereiro, diante da queda do índice de difusão (porcentagem dos produtos que aumentaram de preço) de 65%, no segundo mês do ano, para 60%, no seguinte.
Com isso, em 12 meses, o índice baixou de 5,6% para 4,65%, ao passo que a taxa de serviços ainda permanece em 7,63%. Este valor deve continuar caindo até o meio do ano, quando voltar a subir em razão da baixa artificial dos combustíveis ocasionada pela queda dos impostos, no ano passado. Sendo assim, a previsão é que o índice feche 2023 entre 5,5% e 6%.
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Essa abertura traz boas e más notícias para a análise do que está por vir e, aqui reforço: mais boas do que ruins, o que já é um grande avanço. A primeira (é ótima) é a manutenção do bom comportamento dos preços da comida. Veja: a alimentação em casa sofreu queda de 0,14%, enquanto a fora do domicílio registrou alta de 0,6%, com a composição de “alimentos e bebidas” praticamente estável (0,07%).
Contudo, o número, infelizmente, também traz consigo uma das más notícias: o preço dos serviços continua alto, incentivado pela melhoria no mercado de trabalho. Desta forma, enquanto o ato de comer em casa está intimamente ligado à compra de itens no supermercado, sair para comer está relacionado ao serviço prestado no restaurante.
Vale lembrar também que metade dessa alta se deve ao ajuste nos preços da gasolina. O governo resolveu voltar, em partes, com os impostos dos combustíveis, o que fez o subitem apresentar um aumento de 8,33% no mês, ao passo que o etanol indicou alta de 3,2%. Este efeito deve impactar o índice no próximo mês.
Os grupos Saúde e cuidados pessoais (0,82%) e Habitação (0,57%), embora em níveis altos, apresentaram quedas em comparação a fevereiro. Os planos de saúde, os grandes responsáveis pelo resultado do primeiro segmento, ao apresentar alta de 1,2%, devem dar uma trégua nos próximos meses, pois não há nova previsão de reajuste, uma vez que só os planos antigos foram afetados.
No segundo caso, o grande vilão foi a alta da energia elétrica residencial (2,23%), mesmo com a bandeira verde em pleno funcionamento.
Em geral, o IPCA tem apresentado conduta mais estável, apesar de ainda estar longe de ter plenas condições para dar suporte a uma baixa de juros pelo Banco Central (Bacen).
Para entender isso, basta estipular a hipótese de que, se projetarmos uma inflação deste porte para 12 meses, teríamos uma alta de 9,6% ao ano (a.a.), praticamente três vezes a meta a ser atingida (e o dobro da banda superior). Como se tudo isso não bastasse, ainda há elevação das perspectivas de inflação para 2024 e 2025 pelo boletim Focus, o relatório de expectativas do Bacen.
Além disso, diante da falta de definições e da leitura reticente do mercado acerca do novo arcabouço fiscal, ainda é muito cedo para movimentos de baixa. Soma-se a isso o desempenho perigoso dos serviços, que desautoriza por completo a discussão de uma queda imediata dos juros.
Aparentemente, o lado bom de toda esta situação é que, com alguma paciência, a tendência é de acomodação do índice e, somada à adaptação das expectativas, há chances do advento de um ambiente propício para se dar início a um ciclo de baixa consistente da taxa de juros ainda neste ano.
Agora, é preciso calma para não arruinar um processo linear e sustentável, ao dar tempo ao tempo e não lançar mão de discussões mais políticas do que técnicas.
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 14 de abril de 2023.
Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).