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Economia

Brasil depende de avanços em infraestrutura e no ambiente de negócios

Há razões para a baixa produtividade no País? Assista ao debate com o economista Otaviano Canuto

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Brasil depende de avanços em infraestrutura e no ambiente de negócios
Para o pesquisador sênior, problemas em áreas estratégicas e um péssimo ambiente de negócios geram atrasos no desenvolvimento do País (Crédito: UM BRASIL)

Sim, há razões para a baixa produtividade no Brasil, explica o economista Otaviano Canuto. “Quando há carência de infraestrutura, criam-se desperdícios”, avalia. 

Para o pesquisador sênior no Policy Center for the New South, problemas em áreas estratégicas e um péssimo ambiente de negócios geram atrasos no desenvolvimento do País. 

Esta é a análise de Canuto em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). A conversa faz parte da série especial de debates promovida pelo Canal em Washington D.C.

Problemas domésticos 

  • Baixa produtividade. O pesquisador sênior no Policy Center for the New South lembra que, nos idos de 2004, o Brasil já era capaz de competir e bater os Estados Unidos na produção e na exportação de soja — apesar de, segundo o relatório do Banco Mundial, 30% da produção brasileira, na época, terem sido, literalmente, jogados fora por carência de logística, como a falta de armazenamento, explica Canuto. Esse é apenas um exemplo de como a falta de uma infraestrutura sólida causa desperdícios e põe em xeque a produtividade no País.
  • Ambiente de negócios. E os problemas não param por aí. O economista também avalia que temos um cenário cheio de dificuldades quando se fala em contratar e dispensar funcionários, resolver pendências judiciais, obter uma licença de construção, pagar impostos etc. “E não estou nem falando do tamanho dos impostos”, ressalta. “Em todas essas dimensões do ambiente de negócios, o Brasil é ruim.” Esse contexto faz com que o País se torne menos atraente para empresas, principalmente estrangeiras.
  • Gasto público. Aos problemas domésticos, somam-se os gastos públicos mandatórios. “Hoje, os gastos determinados por lei foram crescendo e comprimindo, inclusive, o espaço orçamentário, o espaço fiscal disponível para as despesas em infraestrutura”, ressalta Canuto. Segundo ele, em alguns segmentos do funcionalismo público, os salários estão bem acima dos equivalentes no setor privado, havendo, assim, uma margem de acomodação.
  • Abismos. Segundo cálculos da FecomercioSP, com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), a remuneração média no serviço público federal é, de fato, superior à do mercado privado. A diferença entre o vencimento médio em termos federais (R$ 11 mil) e os salários na iniciativa privada (R$ 3,1 mil) chegam a 254,4%. “Isso afeta a ‘anemia’ da produtividade. Esse aperto fiscal foi sendo empurrado com a barriga, ano após ano, mas vai ser inevitável que o País faça alguma coisa para alterar essa trajetória”, conclui. 

Nova face da economia global 

  • Efeitos do protecionismo. De acordo com Canuto, em todo o mundo, as medidas de proteção do mercado interno defendidas pelo presidente eleito Donald Trump, por meio do aumento de tarifas, são más notícias que trarão efeitos negativos — inclusive para os Estados Unidos. “Isso será um choque. Ainda que, no caso do Brasil, o impacto seja visto um pouco depois. Mas, sobre o resto do mundo, será imediato”, prevê.
  • Disputas comerciais. O economista explica que as medidas protecionistas têm foco específico na China, impulsionadas por rivalidades econômica e comercial. “Na cabeça de alguns trumpistas, existe, inclusive, a ideia de que você poderia, em princípio, repetir com a China uma espécie de ‘sufoco’ como aquele feito com a União Soviética, no fim da Guerra Fria”, explica.
  • Outros tempos. Canuto ressalta que a diferença é que, no contexto da Guerra Fria, a economia da União Soviética não era tão integrada com o resto do mundo e tão sólida em termos de avanço de produtividade quanto o país asiático é hoje. Ele conclui que não é possível tratar a China como as potências ocidentais fizeram décadas atrás com a nação soviética. Hoje, é quase impossível isolar os chineses economicamente.

Questões climáticas  

  • Assimetrias. O clima tem sido tema, cada vez mais, de um debate estratégico global. Mas, para Canuto, as mudanças climáticas reforçam desigualdades entre os países. “Os efeitos serão sentidos, particularmente, nas áreas mais pobres do planeta, que não têm muito a ver com a criação do problema. Por isso é um processo tão assimétrico: foi gerado, primordialmente, pelo consumo de combustíveis fósseis nas economias avançadas”, explica.
  • Oportunidades. Em meio à emergência climática, o Brasil deve fazer valer o power shoring, defende Canuto — estratégia que se baseia na exploração da disponibilidade de energia limpa e barata para gerar vantagem competitiva e atrair setores intensivos no uso de energia. “Essa capacidade de produzir energia renovável a baixo custo é uma fonte de atração para indústrias de alumínio e todas as indústrias que são intensivas em energia”, conclui. 

Assista, na íntegra, ao debate com o especialista.


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