Economia
18/02/2016“Brasil paga caro pelos erros do passado”, afirma Rodrigo Soares, professor da FGV
Crise que o Brasil enfrenta expõe ineficiências acumuladas durante décadas, como falta de investimentos em educação, saúde e infraestrutura
Para Rodrigo Soares, questões de longo prazo, como investimentos em educação, saúde e áreas de infraestrutura foram esquecidas.
(Reprodução/YouTube/FecomercioSP)
Se todos os recursos gastos em financiamentos subsidiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao longo dos últimos anos tivessem sido investidos na melhoria da qualidade da educação, o Brasil provavelmente não estaria na situação que está hoje. A opinião é do economista Rodrigo Soares, professor titular da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Durante entrevista realizada nos Estados Unidos pela plataforma UM BRASIL e idealizada pela FecomercioSP – em parceria com a Columbia Global Centers, no Rio de Janeiro, e com o Lemann Center for Brazilian Studies da Universidade Columbia, nos Estados Unidos –, o especialista frisou que a crise do Brasil expõe ineficiências acumuladas durante décadas.
“O passado histórico brasileiro é muito pesado. As taxas de analfabetismo, até meados do século 20, eram muito elevadas. Questões de longo prazo, como investimentos em educação, saúde e áreas de infraestrutura foram esquecidas.”
Proporcionalmente mais grave do que a crise mundial que abalou os Estados e o capitalismo mundial, a recessão nacional poderá ser ainda maior se medidas não forem tomadas com rapidez. “Será preciso exigir custo de curto prazo para ajeitar a casa. Isso pode ser feito de várias maneiras, algumas mais dolorosas, outras menos, porém, é inevitável. O governo não tem dado nenhuma demonstração de que está disposto a fazer isso, o que estenderá o problema.”
Outro desafio é a excessiva interferência do Estado nas decisões educacionais e empresariais, dificultando ainda mais o desenvolvimento. “O governo tenta guiar todos os agentes da sociedade e atrapalha a alocação de recursos. É a empresa que sabe qual o melhor insumo para utilizar em suas produções, assim como é a universidade, em princípio, que desenha o melhor curso para oferecer. Em termos institucionais, o nível de liberdade é pequeno”, acrescenta.
Apesar da ineficiência em diversos segmentos políticos e econômicos, o professor reconhece mudanças profundas e fundamentais. “Há uma grande parte da população que, de fato, desfruta hoje de maior bem-estar do que havia há 20 ou 30 anos. Programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, tiveram impactos na redução da miséria. Esses ganhos existem. Contudo, o que frustra é ver a involução do Brasil nos últimos 15 anos. Em boa parte, a responsabilidade do que está acontecendo é de todos nós”, aponta.
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