Editorial
15/10/2018Consciência no (pós-) consumo, por José Goldemberg e Cristiane Cortez
Em foco a importância do Dia do Consumo Consciente, celebrado em 15 de outubro
Data foi instituída para despertar a consciência das pessoas sobre os padrões de produção e consumo excessivos e insustentáveis
(Arte: TUTU)
Por José Goldemberg e Cristiane Lima Cortez
Todos os dias, nós consumimos ar, água, alimentos e uma infinidade de produtos manufaturados. Como consequência, geramos poluentes atmosféricos, efluentes líquidos e resíduos sólidos. Alguns, inevitáveis, como o gás carbônico da respiração, que junto com outras fontes de emissão de gases de efeito estufa – como o combustível dos transportes e o lixo orgânico disposto nos aterros sanitários – contribuem para o aumento do aquecimento global. Questão difícil de resolver, pois depende de ações integradas de todos os países, uma vez que seus efeitos são globais, e, assim, a sociedade muitas vezes não consegue se enxergar como parte da solução.
Mas se tomarmos consciência de que nossos hábitos de consumo estão diretamente ligados à solução (ou à piora) desses problemas, conseguiremos entender claramente como a responsabilidade é, em primeiro lugar, de cada um de nós. Essa é a proposta do Dia do Consumo Consciente, celebrado anualmente no dia 15 de outubro. A data foi instituída pelo Ministério do Meio Ambiente em 2009 para despertar a consciência das pessoas não apenas para as ameaças ambientais, mas sociais, econômicas e políticas, oriundas de padrões de produção e consumo excessivos e insustentáveis.
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Que tal começarmos pelos resíduos sólidos? Cada brasileiro gera, em média, 1 quilo de resíduo sólido por dia. Então, devemos agir em duas frentes: (i) produzir menos resíduos e (ii) segregar os resíduos produzidos a fim de que o máximo possível possa ser reutilizado ou reciclado.
Assim, o consumidor consciente evita usar produtos descartáveis e prefere comprar produtos com menos embalagens, optando por refis e alimentos a granel. O movimento “sem-lixo” ou “lixo zero” presente no mundo todo (e também no Brasil) mostra como famílias que vivem nos centros urbanos conseguem gerar pouco lixo – e, na maioria, biodegradável –, como cascas de frutas e legumes compostados em sistemas caseiros com minhocas, que ocupam pouco espaço.
A mudança de comportamento acontece de forma gradativa até que todos ao redor sejam positivamente influenciados a agir da mesma forma. É importante que todo o lixo produzido seja segregado e destinado de forma correta. O rejeito para a coleta municipal e reciclável pode ser levado até um ponto de entrega voluntário (PEV) do estabelecimento comercial, do ecoponto municipal ou associação/cooperativa de catadores ou submetido à coleta porta a porta que algumas cidades fazem. Estamos diante de muitas possibilidades.
Além disso, alguns resíduos especiais, como pilhas, baterias portáteis, eletroeletrônicos e lâmpadas, devem ser levados, de forma separada, até pontos de entrega específicos, como manda a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) (Lei n.º 12.305/2010), que instituiu a responsabilidade compartilhada entre todos os geradores de resíduos, incluindo os consumidores como protagonistas no processo. A corresponsabilidade é dividida entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, cidadãos e titulares de serviços de manejo dos resíduos sólidos urbanos.
Vários municípios possuem leis que preveem multas para a população e para os elos da cadeia produtiva que descumprirem as regras de segregação dos resíduos e não participarem de sistemas de logística reversa. Por sua vez, os municípios precisam ter coleta de rejeitos e de recicláveis, além de destinação eficaz dos resíduos coletados.
O consumo consciente começa a partir do momento que compreendemos que não existem atitudes isoladas. O que você faz (ou deixa de fazer) ao meio ambiente é refletido em consequências, boas ou ruins, e uma coisa é certa: a responsabilidade, sim, também é nossa.
*José Goldemberg e Cristiane Lima Cortez são, respectivamente, presidente e assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado no site Envolverde, em 11 de outubro de 2018.
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