Sustentabilidade
18/03/2016Cresce demanda pela arquitetura sustentável no Brasil
Projetos verdes buscam redução dos impactos no meio ambiente e movimentam cadeia comercial que oferece materiais mais ecológicos
Construções verdes passaram a ser mais procuradas em escritórios de arquitetura
(Arte TUTU)
Por Deisy de Assis
A demanda por projetos de empreendimentos ambientalmente adequados se expande nos escritórios de arquitetura. Segundo especialistas, o motor dessa onda é o interesse das incorporadoras por certificações nacionais e internacionais, que têm papel fundamental para o cenário de disseminação das construções ecológicas.
A professora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes, Lúcia Pirró, conta que a tendência vem se fortalecendo no Brasil a partir do fim dos anos de 1990, quando as empresas começaram a se interessar em atender aos critérios – como redução do consumos de energia elétrica, água e outros recursos – necessários para obter a certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design, em português, “Liderança em Energia e Design Ambiental”).
O reconhecimento, concedido pela ONG americana U.S. Green Building Council, já foi alcançado por mil empreendimentos no Brasil, segundo a representação brasileira da entidade.
“Nossa estreia foi em 2005, com a certificação de um pequeno imóvel que abriga um banco na Granja Viana, em São Paulo”, conta Lúcia. A especialista frisa que, atualmente, fora os Estados Unidos, o Brasil é o terceiro país no mundo com maior número de processos de certificação.
O primeiro grande empreendimento brasileiro a receber a Leed foi o prédio do Shopping Eldorado Tower, na capital, com projeto desenvolvido pelo escritório Aflalo Gasperini Arquitetos. O prédio possui eficiência energética e foi construído com processos e materiais de baixo impacto ambiental. “Envolve muitos critérios, como os confortos térmico e de iluminação, alcançando até a captação de água das paredes do subsolo para reúso”, diz Flávia Marcondes, arquiteta e diretora associada do escritório Aflalo Gasperini Arquitetos, que já soma mais de 20 projetos que visavam a certificações e sustentabilidade.
“A certificação nacional é mais pleiteada por construções residenciais e comerciais”, diz a arquiteta, referindo-se à Alta Qualidade Ambiental (Aqua), da Fundação Vanzolini, que segue os padrões da certificação francesa HQE (Haute Qualité Environnementale, em português, “Alta Qualidade Ambiental”), cujo processo para conquista requer redução do consumo dos recursos.
Flávia acrescenta que, no caso das grandes corporações, o objetivo mais comum é a Leed, por ter vigência internacional.
Escolhas sustentáveis
A busca por uma arquitetura mais verde se reflete diretamente no balcão do comércio de materiais de construção. Na rede Telhadão & Cia., com unidades na capital e Grande São Paulo, a demanda residencial elevou as vendas de caixas d´água, cabos e fios, telhas, janelas, lustres e batentes de portas fabricados com material reciclado.
“Um dos itens que estamos comercializando mais são as janelas que têm 80% de alumínio reciclado na composição. A alta foi de aproximadamente 30% nos últimos três anos”, frisa o gerente Cesar Perassolli.
Desafios
Para a professora Lúcia, entre os principais desafios para que essa demanda ganhe escala está a ideia de que o ecológico custa mais caro.
“Se os investimentos forem analisados a fundo, não são tão mais altos. No fim, a relação entre custo e benefício é imensamente maior nas construções sustentáveis, cuja economia se dá diariamente, graças à eficiência”, diz a professora.
Bom exemplo de construção eficiente e econômica é a residência de uma família de baixa renda da zona leste de São Paulo. Erguido com R$ 150 mil e projetado pelo escritório Terra e Tuma Arquitetos, o imóvel capta mais luz natural, possui paredes de blocos aparentes e chão de cimento queimado. Sua arquitetura rendeu reconhecimento com a premiação internacional Building of the Year 2016, criada pelo site de arquitetura Arch Daily, para dar visibilidade a construções relevantes no mundo.
Um dos sócios do escritório, Pedro Tuma, conta que no terreno havia uma casa condenada e o orçamento da família era de até R$ 150 mil. “O interessante desse projeto foi a quebra do paradigma que liga a arquitetura às construções de alto padrão. Trata-se de um imóvel eficiente que está ligado a problemas reais do País”, diz Tuma, referindo-se ao pilar socioeconômico, que faz parte do conceito de sustentabilidade.
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