Economia
17/12/2025Datas comemorativas de fim de ano aumentam confiança e consumo das famílias paulistanas
De acordo com a FecomercioSP, apesar de o otimismo ser pontual, há cautela estrutural
Pagamento do décimo terceiro e festas de fim de ano aumentaram o fluxo do varejo e as contratações temporárias, bem como estimularam o consumo na capital paulista em novembro. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) — que mede o humor e a propensão imediata ao consumo — sinalizou alta de 2,6% em relação a outubro e alcançou 109,8 pontos em novembro [gráfico 1]. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), que reflete percepções sobre o ambiente econômico e as expectativas de longo prazo, também avançou, registrando 4,4% frente a outubro, marcando 118,7 pontos [gráfico 2].
[GRÁFICO 1]
Intenção de Consumo das Famílias (ICF)
Série Histórica — 13 meses
Fonte: FecomercioSP

[GRÁFICO 2]
Índice de Confiança do Consumidor (ICC)
Série histórica — 13 meses
Fonte: FecomercioSP
Segundo a FecomercioSP, os dados refletem, de forma significativa, que há otimismo pontual, mas ainda cautela estrutural. Os estímulos de curto prazo favorecem principalmente as compras de menor valor, a reposição básica e o pagamento de dívidas, mas não alteram o quadro marcado por crédito caro, juros elevados e renda real ainda limitada.
Melhoria da intenção de consumo em relação ao ano passado
O ICF avançou 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado, indicando melhoria moderada na disposição imediata dos lares para consumir. Esse resultado foi impulsionado pelo décimo terceiro e pelas expectativas de contratações temporárias e vendas natalinas, reforçando a sensação de estabilidade de renda.
[TABELA 1]
Índice de Confiança do Consumidor (ICF) — renda, gênero e idade
Fonte: FecomercioSP

No entanto, dois dos sete indicadores do ICF permaneceram na zona de pessimismo: momento para duráveis (75,3 pontos) e nível de consumo atual (86,8 pontos). Esses dados mostram que o consumidor está evitando compromissos financeiros prolongados, em razão da inflação acima da meta, a Selic em 15% ao ano e as incertezas fiscais quanto a 2026.
No comparativo anual, dois indicadores também registraram queda: renda atual (-1,4%) e momento para duráveis (-1,2%), reforçando que, apesar de haver melhoria na percepção, as condições objetivas para consumir permanecem limitadas.
Na análise por faixa de renda, para as famílias com até dez salários mínimos, a alta foi de 3% no mês, registrando 108,2 pontos — no comparativo anual, o crescimento foi de 8% —, apontando resiliência relativa, favorecida por ganho marginal de renda real e pelo efeito do décimo terceiro salário. Contudo, o endividamento elevado e o crédito caro continuam limitando uma recuperação mais firme.
Já para as famílias com mais de dez salário -mínimos, houve queda de 5,3% em relação a outubro, chegando a 114,4 pontos. No comparativo anual, porém, apresentou uma alta de 1,8%. Essas famílias são mais sensíveis ao cenário macroeconômico e refletem expectativas negativas em relação a volatilidade internacional, desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) e dúvidas sobre o próximo ano.
Melhoria na intenção de consumo em comparação com 0o ano passado
O ICC registrou queda de 4,3% em relação a novembro de 2024 — sendo a 16º retração interanual —, sinal de que, apesar do alívio recente, o cenário de longo prazo permanece deteriorado. A melhoria mensal está associada ao ambiente típico de fim de ano, quando a injeção do décimo terceiro e as datas sazonais de mais consumo, como Black Friday e Natal, reforçam o otimismo imediato das famílias.
[GRÁFICO 3]
Subíndices do Índice de Confiança do Consumidor (ICC)
Série histórica — 13 meses
Fonte: FecomercioSP
Dentre os indicadores do ICC, o Índice de Confiança Econômica das Famílias (ICEA) avançou 4,2% em novembro e alcançou 114 pontos, sinalizando uma percepção mais favorável sobre o momento presente. A injeção do décimo terceiro também contribuiu para ampliar a liquidez dos lares, favorecendo tanto o consumo imediato quanto a quitação de dívidas. Apesar do avanço mensal, o índice registrou queda anual de 1,5%, refletindo o alto nível de endividamento.
O Índice de Expectativas do Consumidor (IEC), por sua vez, também registrou alta (4,6%) em novembro, atingindo 121,8 pontos. Mesmo com o avanço mensal, no comparativo interanual houve queda de 5,9%, sinalizando uma revisão das projeções de médio prazo. O descompasso entre a melhoria de curto prazo e a fragilidade estrutural resulta em um consumidor mais seletivo, prudente e focado em necessidades imediatas.
Estratégias para o Varejo
O comportamento do consumidor em novembro revela uma conjuntura de oportunidades no curto prazo, impulsionada pela sazonalidade de fim de ano, mas marcada por maior racionalidade nas decisões de compra. Para aproveitar esse momento, a FecomercioSP indica que o varejo deve intensificar promoções e condições atrativas de parcelamento, garantir uma experiência fluida entre canais físico e digital e reforçar operações logísticas para atender à demanda de forma rápida e eficiente. As estratégias baseadas em dados também ganham relevância, permitindo campanhas personalizadas que conversem diretamente com o momento e o perfil de cada público.
Em médio e longo prazos, porém, a cautela do cliente diante de fundamentos econômicos ainda frágeis exige ações voltadas para a retenção e a construção de confiança. Nesse sentido, programas de fidelização, investimentos em produtividade e digitalização, crédito responsável e sortimentos ajustados ao novo padrão de consumo tornam-se essenciais. A atenção a indicadores como Selic, inflação e custo do crédito também será determinante para orientar decisões estratégicas em um ambiente que ainda carece de fortes sinais de recuperação.
Diante disso, a Federação aponta que as perspectivas para o Comércio seja de um fim de ano moderado, sustentado pelas festividades, mas ainda condicionado por um cenário estrutural desafiador. Sendo assim, as empresas que apostarem em eficiência, personalização e relacionamento terão vantagem competitiva em um mercado cada vez mais seletivo.