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Editorial

Economia da alta renda e o turismo

Aumento da riqueza média e a conscientização ambiental reflete no setor

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Economia da alta renda e o turismo
Este mercado passa por uma transformação significativa, indo além do mero consumo superficial (Arte: TUTU)

É desafiador conceber que a queda no valor da riqueza global tenha ocorrido. No entanto, tal cenário se materializou em 2022, conforme atestado pelo mais recente relatório dos bancos UBS e Credit Suisse, após 15 anos de crescimento contínuo. Em escala global, observou-se uma redução média de 2,4%, tendência que se replicou na maioria das regiões, como América do Norte (-4,5%) e Europa (-3,4%).

Curiosamente, a América Latina se destacou neste estudo, registrando, por outro lado, um crescimento notável de 18,6%, resultando em uma riqueza média por adulto de 32,7 mil dólares, aproximadamente R$ 14 mil por mês. O Brasil, em particular, desempenhou um papel significativo nessa tendência. Entre 2021 e 2022, o número de pessoas com um patrimônio líquido superior a 1 milhão de dólares no País saltou de 293 mil para 413 mil, sendo o maior ganho entre as nações analisadas pelos bancos.

Este ganho de riqueza em 2022 pode ser atribuído, em parte, à valorização do real e a um processo inflacionário mais equilibrado. Isso também aponta para um mercado de consumo de alta renda potencial no País. Definir o que constitui uma renda elevada é relativo, mas estar entre o 1% mais rico do País é considerado uma posição privilegiada, com um valor mensal de R$ 17 mil colocando alguém nesse grupo seleto. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para se classificar como renda B, é necessário ter uma renda superior a 10 salários-mínimos, o que equivale a pouco mais de R$ 13 mil.

Esse público demonstra um apetite crescente pelo consumo. O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), elaborado pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), revela um aumento anual de 14% nas condições econômicas das famílias brasileiras com renda acima de 10 salários-mínimos, o maior nível desde o início da pandemia em março de 2022.

Durante a pandemia, esse perfil de consumidor conseguiu aumentar suas economias e investimentos. Agora, com a inflação baixa e a queda nas taxas de juros, a tendência é que o consumo aumente mais. A Associação Brasileira de Empresas de Luxo (Abrael) prevê um crescimento de 3% no mercado de alta renda no País até 2025.

Um fator interessante é a chegada da Geração Z, que começará a fazer parte desse segmento de luxo e alta renda de alguma forma. Essa geração apresenta características diferentes, como a preferência por esquemas de trabalho híbridos ou remotos, preocupação com as mudanças climáticas e um enfoque na consciência ambiental.

Esse cenário de aumento nos gastos e conscientização ambiental está correlacionado com o setor de Turismo, que tem apresentado um desempenho excelente no Brasil. As pessoas economizaram nos últimos anos e agora buscam aproveitar qualquer oportunidade de viagem, mesmo aqueles que podem trabalhar remotamente.

Para se ter uma ideia, o setor de Turismo cresceu 12% no primeiro semestre de 2023, de acordo com a FecomercioSP, e é projetado um aumento de 13% até o final do ano, com um faturamento estimado de R$ 200 bilhões. O mercado de alta renda está acompanhando essa tendência favorável e realizando investimentos.

Por exemplo, a Hotel Invest prevê investimentos de aproximadamente R$ 6 bilhões até 2027, com R$ 1,5 bilhão destinados especificamente ao segmento de upscale/hixo, representando 27% do total mencionado. No entanto, o número de lançamentos de residências é menor, apenas 10%, indicando que é um mercado exclusivo para um público seleto.

Além disso, o segmento de luxo, que costumava ser concentrado principalmente no eixo Rio-São Paulo, está se expandindo para outros estados do País, como o Rio Grande do Sul, Bahia e Ceará. Empresas como o TP Group estão investindo em destinos menos explorados, como a região dos Lençóis Maranhenses, e o Club Med está construindo um resort de luxo em Gramado, Rio Grande do Sul, com um investimento superior a R$ 1 bilhão, programado para ser concluído em 2025.

Independentemente se é uma localização urbana ou rural, de praia ou campo, o mercado de luxo está aquecido e influenciado pelos consumidores brasileiros de alta renda. De acordo com a pesquisa da Brazilian Luxury Travei Association (BLTA), 8 em cada 10 hóspedes de hotéis associados são domésticos e a maioria viaja a lazer, gastando em média cerca de R$ 2.100 por diária.

Os benefícios se estendem além dos R$ 2,2 bilhões de faturamento dos associados da BLTA, envolvendo uma cadeia relevante que inclui serviços adicionais, como pacotes de experiências, eventos privativos, transporte de luxo e alta gastronomia. Isso significa que além da hospedagem, estão envolvidos transportes, alimentação, comércio, com um ticket médio elevado.

Para quem atende a esse público seletivo, já se perceberam algumas mudanças nos últimos anos. Esses consumidores estão mais informados ao planejar suas viagens, buscam experiências exclusivas e valorizam o bem-estar e a sustentabilidade. Tanto que consumidores e empresários estão investindo em práticas em prol do meio ambiente, pensando sobre a neutralização de carbono, uso eficiente de água e energia, resíduos biodegradáveis e etc.

O que podemos esperar no futuro próximo?

Compreender o cenário econômico é fundamental, pois o mercado de consumo de alta renda e Turismo de luxo está intrinsecamente ligado ao desempenho do mercado de trabalho, resultados empresariais e retorno de investimentos, acompanhando de perto o Produto Interno Bruto (PIB). Para 2023, a tendência é que o Brasil cresça cerca de 3%, com projeção de 1,5% para o ano seguinte.

Estes dados, por si só, constituem elementos que indicam que o mercado de luxo permanecerá em um estado positivo. Entretanto, é importante notar que o ritmo de crescimento não deverá ser tão vigoroso quanto o observado nos anos anteriores. Isso se deve, em grande parte, à base de comparação prejudicada pela pandemia, o que resultou em flutuações acentuadas nos números. Agora, com uma base de comparação mais equilibrada, é natural que os percentuais de crescimento sejam mais modestos.

Outro fator a ser considerado é a concorrência global e a relativa estabilidade do dólar em comparação a alguns anos atrás, o que pode influenciar as decisões de planejamento dos consumidores, direcionando-os ao mercado internacional.

No entanto, é importante destacar que o Brasil é um país dos grandes números pelo seu tamanho e, portanto, continua havendo espaço para o crescimento do segmento de luxo. Este mercado está passando por uma transformação significativa, indo além do mero consumo superficial, e valorizando a incorporação de valores pessoais e contribuições para a humanidade. Isso inclui uma atenção mais cuidadosa às questões de sustentabilidade, especialmente em vista das próximas gerações.

*Guilherme Dietze é economista e coordenador do Conselho de Turismo da FecomercioSP.
Artigo originalmente publicado na edição de 2023/2024 do Annual Luxury Travel Report: Brazil - Latin America, lançado pela ILTM em parceria com a PANROTAS Editora, em 11 de dezembro de 2023.

Saiba mais sobre o Conselho de Turismo aqui.

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