Negócios
15/12/2016Educação digital no dia a dia dos alunos
Instituições de ensino da Capital fomentam visão crítica e segurança no uso da internet em aulas semanais
As escolas Liceu Santa Cruz, na Mooca, e Bandeirantes, na Vila Mariana, implementaram programas especiais
(Arte TUTU)
Por Deisy de Assis
As novas dinâmicas trazidas pela era digital impõem desafios às escolas para a promoção da educação digital. Em algumas instituições de ensino, a solução foi a criação de programas específicos para a abordagem de temas como segurança e privacidade na rede, direitos humanos e a visão crítica no uso da internet.
É o caso do colégio Liceu Santa Cruz, sediado no bairro da Mooca, em São Paulo. O projeto “Empreendedorismo e Projeto de vida” - que já existia para a abordagem de assuntos como valores morais, relações sociais e resolução de conflitos - ganhou mais um braço em 2016, o “Educação para a cidadania digital”.
Conteúdo diferenciado
A diretora da escola, Mirna Elói Suzano, comenta que apostou em um material didático, em formato de apostila, que é complementar ao de uso regular. “A escolha foi feita depois de muitos diálogos entre os educadores.”
O conteúdo inclui textos sobre privacidade na rede e direito autoral, entre outros. Sua aplicação se dá em aulas semanais, que são direcionadas aos 63 alunos dos 6º, 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II. O grupo de pré-adolescentes de 12 e 13 anos foi escolhido por ter sido identificada entre alunos dessas idades a maior incidência de problemas com o uso da rede.
“A partir do material, abrimos espaço para que os alunos falem sobre como lidam com a rede e observamos também a repercussão do que está sendo comentado”, explica a professora responsável pelas aulas, Andreia Gomes, que ressalta que os alunos das demais faixas etárias têm as discussões em atividades de outras disciplinas.
Ações interligadas
No Colégio Bandeirantes, na Vila Mariana, também foi dentro de um projeto mais abrangente que nasceu, em 2007, o programa “Ética e Cidadania”, com foco na educação digital e aplicado aos 2,7 mil alunos.
De acordo com a coordenadora do programa, Cristiana Mattos de Assumpção, o passo inicial para a implementação foi a contratação de consultoria especializada em pedagogia e direito digital.
A partir daí houve uma organização para ações interligadas, como a criação de material didático próprio - para pais, alunos e funcionários -, a mobilização de todos os profissionais da escola, bem como a adoção de nova postura nos processos internos que envolvem recursos tecnológicos.
“Em sala, as aulas incluem discussões sobre casos reais e as possíveis consequências, além de exercícios de boas práticas”, diz Cristiana, que cita ainda uma pesquisa anual criada para mapear como os alunos se comportam on-line e identificar riscos.
Resultados
Para a responsável pelo programa do Liceu Santa Cruz, um resultado concreto alcançado foi a extinção de problemas como o compartilhamento de nudes (fotos de pessoas nuas ou seminuas) entre alunos. De acordo com Andreia, no ano passado houve pelo menos três casos de meninas que foram expostas com fotos compartilhadas na rede. “Este ano, não tivemos nenhum registro."
No caso do Colégio Bandeirantes, houve uma transformação da cultura da escola. “Percebemos isso, por exemplo, no pedido de um aluno para fotografar a lousa, pois ele aprendeu sobre o direito de imagem, ou quando ex-alunos solicitam nosso material para trabalhos universitários”, conta Cristiana.
Desafios
Apesar dos bons resultados, as escolas continuam sendo desafiadas diariamente para a promoção da educação digital.
Na opinião de Andreia, a falta de posicionamento correta por parte das famílias é o grande desafio. “Os pais, além de não disciplinarem o acesso dos filhos à internet, com frequência consideram nossos alertas um cuidado exagerado.”
Cristina também menciona a inclusão dos pais nas conversas sobre o assunto como uma das barreiras a ser quebrada.
A advogada e membro da Comissão de Estudos de Direito Digital do Conselho Superior de Direito da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Alessandra Borelli, é categórica ao comentar o assunto.
“Famílias e escolas precisam unir esforços e falar a mesma língua, se o que temos por objetivo é direcionar crianças e adolescentes para o melhor e mais seguro proveito das novas tecnologias, mitigar os riscos de tê-los em condição de vítima ou infrator de crimes e ilícitos cibernéticos, tais como: pornografia e exploração sexual infantil, crimes contra a honra, violação de privacidade, entre outros que, inclusive, podem não só causar sérios prejuízos, por vezes irreversíveis (transtornos psicológicos, suicídios por cyberbullying , vazamento de nudes e etc), como também desdobrar-se em ações ajuizadas contra os próprios pais/responsáveis e escolas.”
Alessandra ainda frisa que leis como a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº 8.069/1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996) e o Marco Civil (lei 12.965/2015), estabelecem como premissas básicas da educação: o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o mercado de trabalho. “Ora, sendo pois, as novas tecnologias a principal, se não a única considerada por estes, fonte de acesso à informação e meio de comunicação das novas gerações, como dissociar da educação, orientações sobre como melhor utilizar todos os recursos oferecidos?”
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