Sustentabilidade
23/01/2017Empreendedoras com visão sustentável investem na chamada ressignificação de resíduos
Expansão do faturamento anual de empresa focada no conceito chega a 700%
Marcas utilizam resíduos sólidos para a confecção de produtos de qualidade e que atraem o consumidor
(Arte TUTU)
Por Deisy de Assis
Segundo o Dicionário Aurélio, “significado” é aquilo que atribui sentido a algo. Portanto, podemos entender que ressignificar é dar um novo sentido. Esse tem sido o foco de empreendedores que apostam na reutilização de resíduos para a criação e venda de produtos. Entre os resultados, alta de até 700% no faturamento.
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Esse crescimento foi conquistado pela empresa amazonense de móveis e objetos decorativos feitos com madeira de pallets, Fabiane Azevedo Marcenaria Sustentável. “Constatamos o aumento quando comparamos as vendas e encomendas de janeiro de 2016 com as deste mês”, afirma a fundadora do negócio, Fabiane Azevedo.
De administradora a empreendedora sustentável
Ela atuava no setor administrativo de uma indústria e dava aulas de logística, quando passou a estudar mais sobre a logística reversa. Ao deixar a indústria, lembrou-se da grande quantidade de pallets que, após o uso, eram encaminhados para incineração. “Tive a ideia de pedir autorização e recolher as peças e, em 2015, fiz cursos de marcenaria e aprendi formas de reaproveitá-las.”
No mesmo ano, Fabiane começou a vender molduras e pequenos móveis em uma feira de Manaus (AM). A crescente demanda levou a empreendedora a alugar uma marcenaria equipada, no segundo semestre de 2016. “Montei a equipe com um marceneiro mestre, responsável pelos móveis, e um auxiliar, além de uma sócia.”
Para manter o negócio, cuja produção mensal é de cerca de 100 peças, Fabiane abastece a empresa com um caminhão de pallets a cada dois meses, o que rende aproximadamente seis mil ripas de madeira. Isso significa que, em um semestre, a empresa evitou que 36 mil ripas de madeira de pallets fossem incineradas.
Madeira na moda
O resíduo de madeira também é a matéria-prima dos produtos da Crua Design, fundada em Santa Catarina. A designer e criadora da marca, Germana Lopes, atentou-se aos pequenos pedaços de madeira descartados na maquetaria (local de produção de maquetes) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde se graduou. Com eles, desenvolveu acessórios exclusivos, como colares e brincos.
“Era 2014. No ano seguinte, fui surpreendida com o crescimento do negócio”, conta Germana. Assim como Fabiane, ela optou por alugar uma marcenaria equipada. “Depois, criei a loja virtual da Crua Design e investi fortemente na divulgação em redes sociais e em eventos e feiras, o que atraiu mais olhares para a marca e gerou parcerias com lojas físicas.”
A produção, feita somente por Germana, chega a 250 peças por mês. E os toquinhos de madeiras hoje vêm de marcenarias que antes descartavam o resíduo.
Lixo eletrônico?
A confecção de acessórios da designer de moda Fernanda Nicolini, do Rio de Janeiro, é outro exemplo de empreendedorismo fundamentado no conceito de ressignificação. A aposta, porém, foi no chamado “lixo” eletrônico.
As primeiras peças foram feitas para o projeto de finalização da sua graduação em Moda. Logo caíram no gosto dos professores e amigos. “Vi, então, um caminho instigante, “fora da curva” e que me colocaria na linguagem que sempre desejei transmitir: uma moda com significado e autoral”, conta Fernanda sobre a criação da marca Odyssee, em 2015.
O resíduo eletrônico é recolhido em eventos, em um ponto fixo na oficina da Odyssee, e em escritórios de empresas parceiras. O resultado tem sido a produção de até 250 peças únicas por mês, que são comercializadas em seis lojas do Rio de Janeiro. “Na loja on-line, 60% do que é vendido vai para o Sul e Sudeste do País”, diz Fernanda, que também passou a receber pedidos de peças especiais por atacado.
Resíduos sólidos no Brasil
A assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Cristiane Cortez, frisa que a ressignificação ou reutilização são caminhos interessantes. “Os materiais ganham nova vida sem passar por processos de reciclagem, o que representa economia de energia e água nas indústrias de transformação, além da redução de gastos com o transporte dos resíduos da fonte geradora até estas empresas, e destas até outras empresas que usariam as matérias-primas provenientes da reciclagem.”
Ela destaca ainda a contribuição de negócios com esse conceito no que tange à redução da quantidade de materiais recicláveis que acabam não tendo a destinação correta.
Para se ter uma ideia, de acorco com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (2012), o Brasil produz aproximadamente 2,6 kg por ano de resíduos eletrônicos por habitante e 50,8 milhões de metros cúbicos por ano de resíduos de madeira provenientes do processamento mecânico.
Crescimento
Os números alarmantes deixam clara a necessidade de políticas públicas efetivas que visem à redução e destinação correta de resíduos sólidos. Mas no que diz respeito a negócios com materiais descartados, Fernanda, Germana e Fabiane mostram que não medirão esforços para que suas empresas cresçam tendo como foco central a ressignificação do que muitos consideram lixo.
A Fabiane Azevedo Marcenaria Sustentável, que só comercializava nas feiras itinerantes, abriu este mês sua primeira loja e com isso prevê aumento de demanda e a contratação de um funcionário.
A Crua Design passará de Microempreendedor Individual (MEI) para Microempresa(ME), cujo limite de faturamento é maior. Germana já conta com a venda em pontos físicos de São Paulo e Santa Catarina, a partir das parcerias com lojistas. Agora, quer investir na exportação. “Estamos estudando começar este ano, pela Austrália, onde já tenho alguns contatos.”
Na Odyssee, a meta também é ampliar o alcance das peças. “Vamos turbinar nosso e-commerce em todas as regiões do Brasil e começar um processo de internacionalização da marca”, comenta Fernanda. A designer pretende aumentar a cadeia de produção criando projetos de capacitação de pessoas nos processos de desmanche de peças eletrônicas e confecção dos acessórios.
Prêmio FecomercioSP de Sustentabilidade
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) lançou a sexta edição do Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, que acontecerá em março 2018.
A nova edição tem como tema os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Trata-se de uma agenda mundial adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), com 169 metas a serem atingidas pela humanidade até o ano de 2030. Essas medidas envolvem ações nas áreas de erradicação da pobreza, segurança alimentar, agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, entre outras.
Serão reconhecidos projetos com foco nos princípios da sustentabilidade. As categorias contempladas são: empresa; indústria; órgão público; academia; reportagem jornalística; e entidades empresariais.
Os finalistas serão anunciados em fevereiro de 2018. Os vencedores receberão títulos de capitalização ou previdência, no valor de R$ 15 mil, e troféu. Os trabalhos classificados em segundo e terceiro lugares também serão reconhecidos. Clique aqui (inserir link para o site do prêmio) e saiba mais.
Veja também:
Vidros quebrados viram peças de ecodesign
https://www.fecomercio.com.br/noticia/vidros-quebrados-viram-pecas-de-ecodesign
Programa educacional reforça coleta seletiva em São José dos Campos
https://www.fecomercio.com.br/noticia/programa-educacional-reforca-coleta-seletiva-em-sao-jose-dos-campos
Projeto de logística reversa coleta eletroeletrônicos em residências
https://www.fecomercio.com.br/noticia/projeto-de-logistica-reversa-coleta-eletroeletronicos-em-residencias
Sustentabilidade: de causa nobre a novo modelo de negócio
https://www.fecomercio.com.br/noticia/sustentabilidade-de-causa-nobre-a-novo-modelo-de-negocio
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