Negócios
09/10/2025Endividamento elevado e pessimismo dos empresários desafiam varejo no fim de 2025, aponta FecomercioSP
Cenário, que aponta consumidores e empresas pressionados por dívidas e confiança em queda, foi apresentado na reunião do Comitê de Relacionamento das Assessorias Econômicas e Especiais (CRAEE)

O último trimestre deste ano começa envolto em uma conjuntura de cautela para o Varejo paulista. Segundo dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o endividamento das famílias atingiu 72,7%, o maior nível em dois anos — aproximadamente 3 milhões de lares com dívidas. Embora o comprometimento da renda esteja estável em 26,6%, a inadimplência preocupa: 22,7% das famílias têm contas em atraso, das quais quase 10% afirmam não ter condições de pagar.
As informações foram apresentadas na reunião do Comitê de Relacionamento das Assessorias Econômicas e Especiais (CRAEE) da FecomercioSP, em outubro. Os indicadores mostram que tanto consumidores quanto empresas enfrentam um ambiente econômico restritivo, o que exige planejamento e cuidado nas decisões de fim de ano.
De acordo com Bruno de Souza, assessor da Federação, esse quadro reflete o uso do crédito como ferramenta de consumo, mas com limites claros. “O cartão de crédito segue como o principal meio de endividamento, responsável por 80% das dívidas, mas também alto custo e risco de inadimplência. Essa combinação de custo elevado e renda apertada exige mais planejamento financeiro familiar”, explicou.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) mostra que a intenção de buscar crédito caiu para 10,8%, o menor nível desde julho de 2023. “As famílias estão mais cautelosas e focadas em gastos essenciais. O cenário de juros altos e restrição orçamentária freia o consumo de itens de maior valor e reduz compras parceladas, o que tende a impactar diretamente as vendas de fim de ano”, avaliou Souza.
O economista também alertou para os efeitos sobre as empresas. O Brasil já ultrapassa 8 milhões de negócios negativados, número recorde que representa 41% do total de negócios ativos — dos quais 96% são micro e pequenas. “O aumento da inadimplência empresarial reduz o acesso ao crédito e pressiona o capital de giro. Isso limita investimentos e pode comprometer o ritmo das vendas”, afirmou.
Empresários mais pessimistas com o futuro
O Índice de Confiança do Varejo, elaborado pelo Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto (Sincovarp), aponta que os empresários da região estão menos confiantes quanto aos próximos meses. Segundo Diego Galli, economista e coordenador do Centro de Pesquisas do Varejo (CPV), a média atual do indicador é de 2,8 pontos (em uma escala de 1 a 5), abaixo dos 3,2 pontos registrados em 2024.
“O resultado indica que o empresário está mais cauteloso. Fatores como inflação persistente, juros elevados e incertezas políticas e externas afetam diretamente o otimismo e as decisões de investimento”, observou o economista.
Para Galli, a falta de confiança tende a se refletir no ritmo da economia. “Quando o empresário posterga contratações e investimentos, há desaceleração no consumo e menos geração de emprego. Por isso, é fundamental que o Comércio mantenha foco no planejamento e eficiência no controle de custos para terminar o ano com solidez.”
Expectativas para o fim de 2025
A combinação de consumidores endividados, empresas inadimplentes e confiança empresarial em queda forma um ciclo que exige atenção redobrada do Varejo. “Planejamento, eficiência e foco no essencial serão os pilares para atravessar o último trimestre com competitividade”, concluiu Souza, da FecomercioSP, reforçando que o empresário precisa ajustar estratégias para um consumidor mais seletivo e sensível a preço.