Economia
25/11/2024Endividamento familiar cresce 13% nas capitais brasileiras em dois anos, aponta FecomercioSP
O endividamento das capitais brasileiras atinge 78% dos lares; Porto Alegre e Vitória apresentam as maiores taxas, enquanto Belém registra a menor
Ainda que o índice de endividamento das capitais brasileiras tenha se mantido intacto nos últimos dois anos, com 78% de lares endividados, o número absoluto de famílias convivendo com contas atrasadas nessas cidades subiu 12,8% no mesmo período — passando de 11,28 milhões de lares nessa situação, em 2022, para 12,73 milhões, agora [tabela 1]. Os dados fazem parte de um estudo produzido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) com base em relatórios do IBGE, da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da própria Entidade.
Isso significa que 1,45 milhão das famílias nas capitais brasileiras passaram a ter dívidas ativas nesse intervalo, como fatura do cartão de crédito, boletos do varejo ou financiamentos de carros e imóveis.
[TABELA 1]
Capitais brasileiras com mais e menos famílias endividadas, em números absolutos (2022–2024)
Fonte: IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
De acordo com a FecomercioSP, a principal explicação para esse fenômeno é geográfica, já que houve aumento populacional desses centros urbanos nos últimos anos, crescendo, também, a quantidade de lares. Assim, embora a proporção de casas endividadas tenha se mantido estável, a elevação do número de famílias impactou a quantidade de gente endividada nesses locais.
No entanto, os efeitos econômicos desse fato não são tão positivos, na visão da Entidade. Quanto maior o número de famílias convivendo com dívidas, mais caro fica o crédito no mercado, elevando, como consequência, o risco de inadimplência, principalmente em um cenário de juros altos ou inflação pressionando o consumo.
Há, ainda, variações importantes entre as cidades que exigem interpretações localizadas dessa conjuntura. Em São Paulo, onde há o maior número absoluto de famílias endividadas (2,88 milhões, segundo os dados), a explicação está no crescimento populacional. É o mesmo caso no Rio de Janeiro, com 2,02 milhões de famílias nessa situação, ou no Distrito Federal, onde essa quantidade é de 765,8 mil lares.
O sinal de alerta acende quando o aumento do endividamento atinge áreas fora dos grandes centros, como Vitória e Boa Vista, onde o número subiu 13,3%. Nesses locais, é essencial que as autoridades promovam educação financeira e que as famílias controlem melhor o uso de crédito no orçamento.
De Porto Alegre a Belém
Se a capital mais austral do Brasil é também a mais proporcionalmente endividada do País, com 91% de famílias nessa situação, Belém — no ponto mais ao Norte — é a que apresenta a menor taxa (69%). No primeiro caso, o dado até aponta uma queda em relação aos anos anteriores — quando chegou a 96% das famílias, no ano passado, por exemplo. A metrópole paraense, por sua vez, viu seu indicador subir 8 pontos porcentuais (p.p.) ao longo de um ano, indicando uma alta significativa do endividamento local.
Na verdade, como visto no gráfico 1, as cinco capitais mais endividadas do País, em termos proporcionais, compartilham dados parecidos — além de Porto Alegre e Vitória, com os mesmos 91% de lares endividados, Curitiba, Belo Horizonte e Boa Vista dividem os 90%. A capital capixaba tem a particularidade de ter testemunhado o endividamento crescer com mais intensidade entre 2022 e 2024, saindo de 77% para 91% das famílias.
Do outro lado do espectro [gráfico 2], as menores taxas de endividamento entre as capitais são quase todas, de fato, resultado de expansões importantes no período. Em Goiânia, por exemplo, essa margem subiu 11 p.p. em dois anos, ao passo que em Campo Grande foi de 7 p.p. Apenas em Macapá houve queda (de 75% das famílias endividadas, em 2022, para 68%, agora).
[GRÁFICO 1]
Capitais brasileiras com mais famílias endividadas, em % (2022–2024)
Fonte: IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
[GRÁFICO 2]
Capitais brasileiras com menos famílias endividadas, em % (2022-2024)
Fonte: IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
A FecomercioSP ressalta que esse desequilíbrio entre as capitais também se explica pelas condições macroeconômicas de cada Estado e região, em que indicadores como inflação, juros e renda familiar criam circunstâncias distintas pelo País [tabela 2]. Assim, não é à toa que o crescimento do endividamento em algumas cidades seja compensado pela queda do mesmo índice em outras.
[TABELA 2]
Inadimplência familiar nas capitais brasileiras, em % (2022–2024)
Fonte: IBGE/CNC com cálculos da FecomercioSP
De Teresina a Florianópolis
Os dados ainda destacam que, enquanto algumas capitais do País viram uma explosão de endividamento nesses dois anos, outras (poucas) ressecaram o volume de lares nessa situação. No primeiro caso, o número mais relevante é o de Teresina, onde a proporção de casas endividadas subiu 32,6%, entre 2022 e 2024. No município, o número de famílias nessa situação era de 61% há dois anos; agora, é de 86%.
O mesmo fenômeno aconteceu em João Pessoa, Porto Velho e Fortaleza, onde as taxas de endividamento subiram, respectivamente, 29,1%, 26% e 25,1%. Na média das capitais brasileiras, a margem de famílias endividadas no intervalo obteve alta de 6,6%.
Três capitais (todas no Sul) registraram queda no endividamento. Florianópolis foi o caso mais impactante (-2,1%), com sete em cada dez (72%) dos lares da cidade nessa condição. Curitiba, com -1,9% e Porto Alegre, com 1,2% completam a lista. O caso da capital gaúcha, porém, ilustra como as interpretações devem levar em conta as particularidades locais, já que a cidade retraiu um pouco, mas ainda detém o posto de capital mais endividada, em termos proporcionais, do Brasil.
Levando em conta esses dados, metade (52%) das famílias endividadas nas capitais brasileiras está localizada no Sudeste. O Nordeste concentra quase um quarto (19%) dessa fatia, enquanto as outras regiões compartilham o restante do crédito disponível.
A FecomercioSP reitera que mesmo que esse endividamento represente mais acesso da população ao crédito e aumento do consumo, também traz riscos: se mal gerido, pode levar à inadimplência e à exclusão no mercado. Por isso, é fundamental equilibrar o incentivo ao consumo com medidas que protejam o orçamento das famílias, especialmente as mais vulneráveis.