Negócios
14/05/2020Entenda a alta constante do dólar e saiba o que fazer para proteger sua empresa
Não há perspectiva de mudança desse cenário de valorização contínua da moeda americana
Como a atual crise já atinge o mundo todo, investidores buscam moedas com maior liquidez, o que afeta o preço da moeda estrangeira
(Arte: TUTU)
Os preços de moedas estrangeiras atingem níveis recordes quase que diariamente. Tanto o dólar quanto o euro tiveram valorização maior do que outras moedas no câmbio com o real. Atualmente o dólar está em R$ 5,90. Já o euro está custando R$ 6,38.
Fatores como a queda da taxa de juros Selic, debandada de investidores estrangeiros, crise econômica internacional, a pandemia e a incerteza política no Brasil são responsáveis por esses recordes constantes. Esse cenário não deve se reverter nos próximos meses.
Nesse momento, é importante que os empresários que dependam de câmbio se protejam de uma possível desvalorização mais acentuada. Uma boa maneira de fazer isso é procurar fundos de investimento baseados em uma moeda internacional para colocar os recursos que serão usados em compras futuras, avalia a FecomercioSP.
Mas o empresário deve separar o que é ganho operacional do que é ganho financeiro. A empresa deve gerar lucros com sua atividade principal e manter o negócio saudável. Então, não é sustentável ao caixa especular sobre moedas estrangeiras utilizando recursos do negócio.
É importante entender o porquê desse aumento acentuado do dólar. A seguir, veja o conjunto de fatores que levam a isso.
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Taxa de juros mais baixa
O Brasil deixou de ser o que é chamado de “País carry-trade”, ou seja, um país em que os estrangeiros vêm apenas para conseguir mais rendimentos, já que nossa taxa de juros sempre foi acima da média mundial. Atualmente, a Selic está em 3% ao ano, a menor taxa já registrada, bem distante dos 14,5% em 2016.
Esse porcentual atual inviabiliza qualquer investimento especulativo de curto prazo no Brasil. Com a saída desses investidores estrangeiros, sobram muitos compradores de dólar aqui, mas poucos vendedores, o que faz o real se depreciar – e o dólar ficar mais caro.
O gráfico abaixo, elaborado pela FecomercioSP, mostra que a baixa da taxa de juros caminha proporcionalmente para o aumento do câmbio.
O gráfico também mostra o nível de reservas de dólares do Banco Central, que vem caindo consistentemente. À medida que os recursos estrangeiros saem, e o câmbio desvaloriza, o Banco Central tenta agir para conter uma desvalorização exagerada do real vendendo suas reservas (de dólares) no mercado interno.
Cenário político
Além desse efeito da Selic, que é o mais significante, ainda existe uma incerteza sobre o cenário político brasileiro que está afastando estrangeiros de outras modalidades de investimento, como investimento na bolsa ou diretamente em plantas de empresas nacionais. Só em 2019, os estrangeiros sacaram quase R$ 45 bilhões da B3 (bolsa de valores em São Paulo), R$ 20 bilhões a mais do que a saída registrada em 2008, durante a crise financeira mundial.
Fuga de investidores para economias mais seguras
Esse sentimento de insegurança foi reforçado com a pandemia do coronavírus, que gerou o que é chamado na economia de “flight to quality”. Nesse fenômeno, o capital mundial busca os países mais seguros, o que leva a uma saída acentuada de recursos dos países em desenvolvimento como o Brasil. Trilhões de dólares fogem para os títulos do tesouro americano que hoje têm rendimento real (descontando a inflação) negativo. Esse efeito está diretamente relacionado ao pânico.
Como a atual crise já atinge o mundo todo, investidores de todos os países buscam moedas com maior liquidez, ou seja, que consigam trocar com muita facilidade durante esse momento de turbulência. Isso também afeta os preços do dólar e do euro.
Preço das commodities
Um terceiro efeito é que em situações de recessão, como essa que o País está vivendo, o preço das commodities cai drasticamente. Isso afeta diretamente o valor das exportações do Brasil e, consequentemente, a entrada de dólares. Com isso, a quantidade interna de dólares diminui e o preço da moeda americana aumenta.
Não há perspectiva de um cenário muito diferente desse em médio e longo prazos. Como não deve ocorrer uma alta inflacionária nos próximos meses, isso reduz a expectativa para um aumento da taxa de juros. Ao mesmo tempo, a demora na recuperação das grandes economias (Como Estados Unidos e países da Europa) também deve atrasar a recuperação do preço de commodities que são exportados do Brasil e de outros países.
Como proteger seu negócio da alta do dólar
Em meio a esse cenário, o empresário deve manter sempre um planejamento de longo prazo em termos de ajustes de matérias-primas ou estoques. Aqueles que importam são os mais prejudicados, então é interessante tentar um contrato longo com o fornecedor. Essa é uma ação que deve ser tomada em conjunto com a proteção dos recursos em fundos cambiais. De qualquer forma, provavelmente será necessário diminuir a taxa de lucro para dividir com o consumidor um pouco desta alta.
Também não se esqueça de diversificar fornecedores e negociar com todos. Tenha sempre em mente que é necessário checar com regularidade o preço dos produtos ou matéria prima em real, porque o dólar está muito volátil. Tenha cuidado: você pode vender seu estoque a um preço mais baixo, mas quando for comprar novos produtos (com dólar mais caro) perceberá que não terá o mesmo poder de compra de antes.
Já as empresas que prestam serviços para estrangeiros podem aproveitar o momento de lucros maiores para pensar em reinvestimentos. Nunca confie no câmbio, sempre internalize seus recursos e os proteja em fundos que sejam confiáveis. Lembrem-se sempre: o ganho tem que vir do negócio, não da variação cambial.