Economia
16/12/2024Em entrevista do Canal UM BRASIL, Thiago de Aragão fala como protecionismo e polarização desafiam política externa
O cenário geopolítico mundial vive, hoje, dilemas como o protecionismo e a polarização política, que impõem às relações internacionais uma série de obstáculos
De um lado, Donald Trump ameaça a imposição de tarifas comerciais que colocam os Estados Unidos em uma situação de isolamento global. De outro, há a ascensão de grupos que veem o ódio ao “outro” como fator de união.
Em meio a esse complexo cenário, o Brasil deve assumir uma posição mais pragmática na política externa. É o defende Thiago de Aragão, membro sênior do Center for Strategic and International Studies (CSIS) e CEO da Arko Advice Internacional, em entrevista ao Canal UM BRASIL — uma realização da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) —, com o apoio da Escola de Governo da Organização dos Estados Americanos (OEA).
A conversa é a primeira de uma série especial de debates promovida pelo Canal em Washington D.C.
O lugar do Brasil no mundo
Crise climática. A desastrosa enchente no Rio Grande do Sul, a seca histórica na Amazônia e uma temporada extrema de furacões nos Estados Unidos são apenas alguns casos, entre muitos outros, que escancaram a gravidade da mudança climática e seus efeitos — que, para Aragão, são muito mais amplos do que parecem.
Estabilidade em risco. “A crise climática não é mais um tema que pertence a uma categoria ideológica, como muitas vezes foi colocado, tampouco uma abstração”, defende. Segundo o CEO, está cada vez mais claro que essa é uma pauta econômica e financeira, que se materializa em temas como a ameaça à segurança alimentar. Nos casos brasileiro e norte-americano, os desastres climáticos impactaram e colocaram na berlinda a produção agrícola.
Pauta nacional. Aragão destaca que o lugar do Brasil no mundo deve estar ligado diretamente à pauta climática — que assume uma relevância global cada vez maior. “Nós não precisamos sair muito daquilo que nos compete, que é a parte ambiental, das energias renováveis, da sustentabilidade”, explica. “O mais importante é transformar isso em uma pauta nacional, sem rótulos de esquerda ou direita. Quando houver convergência, o Brasil vai atingir o almejado lugar de liderança mundial.”
Protecionismo é tiro no pé
Ameaças. Antes mesmo de assumir o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, Trump deu mais um passo na guerra comercial com a China. O republicano prometeu criar uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses — medida que pode, inclusive, impactar o Brasil. Em outra ocasião, ele ameaçou impor tarifas de 100% aos países do Brics caso o bloco adotasse, em suas transações comerciais, uma moeda própria ou outra moeda em substituição ao dólar estadunidense.
Isolamento. De acordo com o CEO, o protecionismo norte-americano é um tiro no pé. “Um dos grandes trunfos dos Estados Unidos, nas últimas décadas, foi atrair simpatizantes e aliados. Seja pelo poderio militar, seja pela cultura, os Estados Unidos sempre geraram essa atração. A partir do momento que o país foca numa política de tarifa, isso representa um afastamento”, analisa. “Se você começar a taxar aliados, mudará um pouco a postura e a confiabilidade deles”, completa.
Investida chinesa. O foco norte-americano em questões domésticas atende aos objetivos de expansão comercial do país asiático, ressalta o CEO. “Vai cair como uma luva e será extremamente positivo para que a China amplie a sua presença de influência no planeta”, explica. Ele ainda avalia que, enquanto os Estados Unidos afastam até aliados, Pequim tem conseguido estabelecer uma boa relação com nações não necessariamente simpáticas ao país. “A China consegue criar duas categorias de relacionamento: um de amizade e confiabilidade e outro totalmente pragmático transacional”, explica.
Polarização estagnou debates
Palavra do ano. Não à toa, “polarização” foi escolhida a palavra do ano de 2024 para o dicionário Merriam-Webster — que define o termo como o ato de “causar forte desacordo entre facções ou grupos opostos”. As eleições presidenciais dos Estados Unidos, entre outros fatos, influenciaram a escolha.
Unidos pelo ódio. Aragão ainda destaca que uma das características da polarização política é o agrupamento de pessoas em torno daquilo que elas odeiam. “Quando há grupos nos quais o principal fator unitário é a rejeição em relação ao outro grupo, mata-se a possibilidade de convergência”, explica. “Isso vem se tornando cada vez mais contínuo na América Latina e nos Estados Unidos, que, de certa forma, passou por uma ‘americalatinização’ da sua política.”
Efeitos políticos. O fenômeno fortalece a ascensão de líderes nacionais — tanto na esquerda quanto na direita — e maximiza o engajamento de seus eleitores em torno do ódio. “Ele não necessita mais buscar a convergência. O que ele precisa buscar é a afirmação de poder, dentro do que o lado dele escolheu”, completa.
Assista ao debate na íntegra.
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