Sustentabilidade
14/10/2015Enviar o lixo para aterros em outras cidades pode gerar impactos ambientais
Mais de 230 municípios paulistas transportam seus resíduos para aterros públicos ou privados de outras localidades; em alguns casos, o lixo chega a viajar até 200 quilômetros
Por Jamille Niero
Um levantamento da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) mostra que 239 cidades paulistas despejam seu lixo a quilômetros de distância – em aterros públicos ou particulares em outros municípios. Entre eles, a própria capital do Estado, que envia os resíduos sólidos coletados das residências para um aterro em Caieiras, na região metropolitana. No caso do lixo paulistano, a viagem é de cerca de 40 quilômetros, mas alguns municípios chegam a enviar seu lixo para mais de 200 quilômetros de distância.
As justificativas para as prefeituras enviarem seus resíduos para outros municípios variam: o alto custo para manter um aterro adequado em território próprio, falta de espaço, áreas protegidas ambientalmente, entre outros. Contudo, enviar o lixo para longe pode gerar alguns impactos. Um deles é na alocação do resíduo que, após ser coletado, é enviado para um transbordo para aguardar ser enviado ao aterro, explica o consultor ambiental Alessandro Azzoni.
“O resíduo já começa a entrar em decomposição no transbordo, porque muitas vezes fica em local aberto. Começa a gerar o chorume que pode ser dispersado durante o transporte, caindo em estradas e podendo contaminar o solo”, diz.
Ele cita como exemplo o transbordo da Vergueiro, em São Paulo. “São dois buracos, um em cada extremidade e um fosso no meio, que recebe todo o lixo coletado e só vai para o aterro quando estiver cheio – de 10 a 20 caminhões. Mas até aí o lixo já sofreu compactação, já ficou no caminhão etc. O chorume cai como poluição difusa porque não tem como mensurar o que caiu na rua. Se chove e tem contato com água pode contaminar rios”, acrescenta Azzoni.
Outros possíveis impactos são o custo de transportar esse material e emissões de gases de efeito estufa dos caminhões que fazem o transporte, aponta a assessora do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, Cristiane Cortez. Com as regiões metropolitanas cada vez mais populosas, é certo que a quantidade de lixo produzido seja cada vez maior também. E com o espaço reduzido até para implantar aterros adequados, a tendência é que o lixo seja mais numeroso e vá cada vez para mais longe.
Soluções
Uma das formas de reverter esse cenário é com o cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que visa reduzir a quantidade de lixo produzida e enviada para aterros. O problema é que os municípios têm enfrentado dificuldade para planejar e executar a implementação dos aterros sanitários de acordo com o que define a norma e mesmo para outras medidas, como a coleta e a separação de materiais recicláveis.
“A PNRS cita ainda outras formas de dispor o lixo sem ser em aterros. Uma possibilidade são as usinas que queimam os resíduos que não podem ser reciclados para gerar energia elétrica. Com essa medida, o volume do que vai para o aterro chega a ser apenas 5% ou 10% do que iria antes da queima. É uma forma de diminuir a quantidade do que vai para o aterro”, cita Cristiane.
Ela explica que no Brasil ainda não existem essas usinas, que devem ser construídas com toda uma infraestrutura para tratar os gases gerados e não poluir o meio ambiente. “Em São Paulo, já existiram incineradores, mas eles não tinham equipamentos adequados de proteção, então os gases que saiam eram tóxicos. Hoje já existe essa tecnologia. O Estado de São Paulo já tem até legislação própria para isso, seguindo os padrões do que é feito na comunidade europeia”, comenta a assessora.
Um problema seria o valor para construir usinas desse tipo. Porém, o benefício viria a longo prazo: enquanto um aterro tem vida útil de 20 a 30 anos, as usinas podem funcionar por mais tempo (com a manutenção adequada).
De qualquer forma, o primeiro passo de todos é acabar com os lixões, conforme determina a PNRS – há um projeto de lei que aguarda votação no Senado para prorrogar o prazo de término dos lixões para 2021. Enquanto isso, a tendência é que pequenos municípios se unam para manterem aterros sanitários conjuntos. “Como o custo de um aterro é alto, é uma intenção que municípios se consorciem e criem alternativas em conjunto, onde todos invistam e todos usufruam”, observa Cristiane.
Azzoni concorda que a união de dois ou mais municípios para aterros compartilhados é uma das melhores alternativas existentes hoje. “Os municípios estão começando a conversar entre si”, indica.
Confira no infográfico abaixo a distância que o lixo percorre para ser despejado em algumas regiões do estado:
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