Sustentabilidade
17/04/2017Escola em zona rural de Goiás inicia projeto pautado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU
Iniciativas em vários pontos do País buscam conciliar o ensino da sustentabilidade com as disciplinas tradicionais
Educandário Humberto de Campos fica a 36 quilômetros da área urbana mais próxima
(Arte TUTU)
Por Deisy de Assis
No vilarejo rural Cidade da Fraternidade – habitado por 200 famílias, no município de Alto Paraíso (GO) –, a escola local iniciou neste ano um processo de inovação de suas diretrizes pedagógicas pautado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que compõem a atual agenda mundial da Organização das Nações Unidas (ONU). As mudanças vão de ações práticas até a redefinição da abordagem das disciplinas a partir da realidade do cotidiano da região, com foco nos aspectos social, econômico e ambiental.
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Trata-se do Educandário Humberto de Campos, que fica a 36 quilômetros da área urbana mais próxima e é mantido por meio de um convênio entre o Governo do Estado de Goiás, a prefeitura de Alto Paraíso e a Organização Social Espírita Cristã (Oscal). Atualmente 210 alunos estão matriculados na unidade, em turmas que vão da creche ao Ensino Médio.
A escola foi selecionada para receber o projeto piloto “Educação do Bem Viver”, gerido pela Secretaria da Educação, Cultura e Esporte do Estado de Goiás (Seduce). A coordenadora do projeto na pasta, Luz Marina Alcantara, conta que a iniciativa faz parte da ação macro “Território do Bem Viver”, cujo objetivo é transformar os seis municípios que fazem parte da Área de Proteção Ambiental (APA) Pouso Alto, na Chapada dos Veadeiros, em referência no quesito sustentabilidade. Assim, a escola em Alto Paraíso será modelo para unidades educacionais das cidades de Colinas do Sul, Cavalcante, Teresina de Goiás, Nova Roma e São João D’Aliança.
“A meta é colocar em prática o 4º ODS, garantindo a educação de qualidade, buscando um ensino fundamentado no contexto da população local e rompendo os limites da educação convencional”, afirma Luz Marina, que considera que entre os resultados a serem alcançados está a justiça social.
Ações
De acordo com a diretora o Educandário Humberto de Campos, Stella Tiscornia Selaibe, desde que o projeto teve início, em março deste ano, professores e alunos já plantaram um hectare (10 mil metros quadrados) de mandioca. “Futuramente também cultivaremos feijão gandu e milho. Esses alimentos permitirão o abastecimento independente na escola. Já o plantio ultrapassará a prática, com o trabalho de sensibilização dos alunos sobre a atividade rural e o uso sustentável da terra.”
O ambiente para as aulas também está sendo repensado. Além das salas tradicionais, o Educandário contará com quiosques com vegetação para aulas ao ar livre, que já começaram a ser construídos e tem como objetivo principal aproveitar os benefícios do contato com a natureza. “Após 50 anos de atividades na escola o que estamos fazendo é o começo de uma mudança na estrutura antiga da unidade, que inclui a capacitação de professores e a mudança de hábitos de consumo.”
Energia solar
Outra grande ação prevista no projeto é a instalação de placas fotovoltaicas para captação de energia solar, o que pode ocorrer já em 2018. “Estamos em tratativas na fase de levantamento de dados”, afirma Stella. Segundo ela, a intenção é que além do prédio da escola, 18 residências sejam abastecidas com energia solar. Essa parte do projeto conta com a parceria da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima) do Estado de Goiás, responsável por enviar os equipamentos e os técnicos para as instalações.
“Ao trazer energia limpa para a comunidade também vamos levar às salas de aula informações sobre as crises energética e hídrica, além de permitir o acesso a uma tecnologia que levará à aplicação de conhecimentos em disciplinas como Física, Química e Matemática”, menciona Stella. Ela ressalta que o valor destinado às contas de consumo de energia elétrica na escola poderá ser aplicado em outros benefícios, cumprindo o conceito econômico da sustentabilidade.
Sustentabilidade é desafio nas escolas
Projetos verdadeiramente focados no tripé do conceito de desenvolvimento sustentável são raros, de acordo com a assessora técnica do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Cristiane Cortez. “Isso porque além de muitos projetos não sensibilizarem os alunos para a busca da redução dos impactos negativos que nossos hábitos provocam, muitas escolas acabam não trabalhando a sustentabilidade em sua integralidade, apenas com foco ambiental.”
A questão levantada por Cristiane pode ser constatada em um estudo realizado em 2013 pelo grupo de pesquisa Contextos Integrados em Educação Infantil (CIEI), da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Foram entrevistados 150 professores da educação infantil nas redes privada e pública. “No parecer final ficou claro que aproximadamente 70% dos educadores não compreendiam o que é a sustentabilidade, o que inviabilizava a transmissão do conhecimento às crianças”, conta a pedagoga, psicóloga e doutoranda em Educação, Sirlândia Teixeira, uma das autoras da pesquisa.
O levantamento foi um dos fatores que a motivaram a fundar o colégio Eco Montessori, em Guarulhos, Região Metropolitana de São Paulo. A unidade foi aberta este ano e atualmente possui 20 alunos, do maternal ao 3º ano do Ensino Fundamental I.
“A escola prioriza a qualidade do desenvolvimento humano. Isso se dá com o foco nas relações e na ética solidária em todas as atividades realizadas entre os alunos”, diz Sirlândia, que ainda menciona a valorização dos laços familiares entre as crianças e os pais. No campo ambiental, a escola promove plantio na horta e mantém um minhocário para a compostagem dos resíduos orgânicos, que se transformam em adubo.
Lições de um lixão
Na cidade de Santos, no litoral paulista, o Colégio Ecologia também busca levar a sustentabilidade às suas práticas. Fundada há 25 anos, a escola nasceu com essa preocupação, a partir da experiência vivenciada por sua diretora, Sônia Seoane, em uma unidade educacional que ficava próxima ao então Lixão do Sambaiatuba, na década de 1980.
Ela conta que na época não havia a preocupação com os impactos ambientais do lixo na região nem com a saúde e a vida social das famílias que se alimentavam do que encontravam no local. Menos ainda se sabia o valor de materiais recicláveis e sua importância para as cadeias produtivas e do comércio. “A humildade e a perseverança daquelas famílias me fizeram repensar a situação e entender que, como educadora, eu tinha a missão de tentar mudar o cenário.”
Ao lado de outras professoras, Sônia auxiliava famílias com projetos de higiene e de melhora da qualidade de vida das crianças. “Aos poucos fomos conscientizando sobre o quanto os materiais recicláveis poderiam gerar renda para as famílias. Além disso, conseguimos levar princípios e valores para um bom convívio social.”
A experiência transformadora, somada às notícias sobre as discussões da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), levou Sônia e a irmã, Viviane Seoane, a criar no mesmo ano o Colégio Ecologia, com o objetivo de oferecer educação pautada nos princípios de respeito à vida, à natureza e coerência nas relações de consumo.
Na unidade há pontos de coleta de óleo comestível usado, pilhas e baterias portáteis, que podem ser entregues por pais de alunos, funcionários e moradores da região. No mês passado foram recebidos 253 litros de óleo de cozinha usado e, desde o início do ano letivo, aproximadamente 22 quilos de pilhas e baterias portáteis.
Todos os resíduos recebidos são doados. No caso do óleo, o encaminhamento é para duas cooperativas de reciclagem. Já as pilhas e baterias, são destinadas a pontos de coleta maiores instalados em comércios da região.
Parte da água utilizada para a limpeza da escola é captada da chuva. Uma horta também faz parte da estrutura e lá são realizadas atividades periódicas com os alunos.
“Na sala de aula trabalhamos a criança como agente transformador da sociedade de forma interdisciplinar”, diz o mantenedor da escola, Vinícius Seoane. Na opinião de Sônia, o maior desafio da educação é promover a inversão de valores da sociedade. “A escola ainda não consegue ser 100% sustentável, o que não é tarefa fácil e depende também da caminhada de mãos dadas com a família. Estamos nessa estrada, transmitindo para as crianças que o mundo melhor depende de nossas atitudes.”
Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade
A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) lançou a sexta edição do Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade, com inscrições abertas até 20 de novembro de 2017.
A nova edição tem como tema os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Trata-se de uma agenda mundial adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU), com 169 metas a serem atingidas pela humanidade até o ano de 2030. Essas medidas envolvem ações nas áreas de consumo e produção sustentáveis, erradicação da pobreza, segurança alimentar, agricultura, saúde, educação, igualdade de gênero, entre outras.
Serão reconhecidos projetos com foco nos princípios da sustentabilidade. As categorias contempladas são: empresa; indústria; órgão público; academia; reportagem jornalística; e entidades empresariais.
Os finalistas serão anunciados em fevereiro de 2018. Os vencedores receberão títulos de capitalização ou previdência, no valor de R$ 15 mil, e troféu. Os trabalhos classificados em segundo e terceiro lugares também serão reconhecidos.
Veja também:
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU englobam 169 metas mundiais
https://www.fecomercio.com.br/noticia/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-onu-englobam-169-metas-mundiais
Federação lança o 6º Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade
https://www.fecomercio.com.br/noticia/federacao-lanca-o-6o-premio-fecomercio-de-sustentabilidade
Projeto vencedor do Prêmio Fecomercio de Sustentabilidade se estende em ação de logística reversa de TVs
https://www.fecomercio.com.br/noticia/projeto-vencedor-do-premio-fecomercio-de-sustentabilidade-se-estende-em-acao-de-logistica-reversa-de-tvs
Projeto de logística reversa coletou 5 toneladas de eletroeletrônicos
https://www.fecomercio.com.br/noticia/projeto-de-logistica-reversa-coletou-5-toneladas-de-eletroeletronicos
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www.fecomercio.com.br/noticia/escola-em-zona-rural-de-goias-inicia-projeto-pautado-nos-objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-da-onu
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