Sustentabilidade
30/06/2016Financiamento coletivo ajuda empreendedores a viabilizar produtos sustentáveis
Por meio de plataforma de arrecadação, qualquer pessoa pode iniciar uma campanha e colocar projetos em prática
No financiamento coletivo, não é necessária uma única grande contribuição e há ainda a independência de empréstimos e financiamentos bancários
(Arte/TUTU)
Por Jamille Niero
Empreendedores que tenham dificuldades em viabilizar projetos por meio de subsídios tradicionais podem contar com uma novidade: o financiamento coletivo. Com a popularização da internet e das mídias sociais, ganharam força algumas plataformas digitais que possibilitam a arrecadação dos valores necessários para “botar de pé” as ideias dos empreendedores.
Foi o que aconteceu com a empresária Flávia Arantes Jensen e seus sócios, que buscaram no site do Kickante um meio de efetivar o Aguawell, produto desenvolvido para coletar a água do chuveiro durante o banho com o objetivo de reutilizá-la. “Acreditamos que esse tipo de plataforma é uma excelente forma de testarmos o mercado para novos produtos e ouvir o que o consumidor final pensa”, diz Flávia sobre a campanha, que durou 60 dias (de agosto a setembro de 2015). Foram angariados R$ 30.917,00, pouco mais do que a meta, que era de R$ 30 mil, por meio de 373 doações.
O coletor, único no mercado, hoje em dia pode ser adquirido por meio da loja virtual da marca ao custo de R$ 49. “Ainda estamos iniciando as vendas, mas já comercializamos o suficiente para economizar 2 milhões de litros de água limpa”, diz a empresária, que não divulga números de produção, vendas ou faturamento.
Plataforma
“O Kickante não tem um perfil específico de pessoas que lançam suas campanhas na plataforma: as mais de 25 mil iniciadas desde a fundação da empresa são de todas as partes do País e sobre diversos temas, como música, literatura, empreendedorismo, causas pessoais e sociais, entre outros”, comenta a fundadora e presidente, Candice Pascoal.
De acordo com levantamento feito pela companhia, as categorias com maior arrecadação em 2015 foram ONGs, música, literatura, meio ambiente e educação. No mesmo período, as campeãs em número de projetos foram educação, pequenos negócios, música, ONGs e saúde e bem-estar.
Candice não revela o custo para a plataforma funcionar. Mas dá para se ter uma ideia. Segundo a fundadora, o lucro vem das taxas que são cobradas sobre cada campanha lançada. Hoje, são oferecidos dois modelos: Tudo ou Nada (o criador só leva o valor coletado se alcançar a meta) e Flexível (alcançando ou não a meta, leva o que acumulou).
“Se o criador optar pelo ‘Tudo ou Nada’ e alcançar o objetivo, a Kickante cobra taxa de 12% sobre o valor arrecadado. Se não bater a meta, o que foi angariado é devolvido aos colaboradores e não há taxa. Já no formato ‘Flexível’, se amealhar o pretendido, mantém-se os 12%,; se não, a cobrança sobe para 17,5%”, explica. De acordo com ela, 70% dos projetos optam pelo modelo Flexível.
Desde a criação da ferramenta, em outubro de 2013, as doações às campanhas ultrapassaram os R$ 28 milhões. A meta para 2016 é encerrar o ano com mais 30 mil projetos e coletar R$ 50 milhões.
No financiamento coletivo, não é necessária uma única grande contribuição – cada pessoa, dentro do que pode colaborar, consegue viabilizar a criação e o desenvolvimento do projeto de sua escolha. Além disso, há ainda a questão da independência de empréstimos e financiamentos bancários.
Para a assessora do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Cristiane Cortez, o fato de haver um retorno para quem contribui torna o financiamento coletivo atrativo. São as chamadas “recompensas”, que variam de acordo com o projeto: em alguns, é possível receber o produto em primeira mão (como no caso do Aguawell),; em outros, pode-se, por exemplo, receber parte dos lucros. “As pessoas contribuem porque acham que aquela ideia vale a pena. É uma forma interessante, porque quanto maior o apelo de benefício para a sociedade, mais as pessoas se sentem encorajadas a ajudar”, diz Cristiane.
História
Candice conta que decidiu fundar uma plataforma para o financiamento coletivo – do inglês, “crowdfunding” – após duas experiências. A primeira foi a de trabalhar na indústria da música e ver de perto a queda de empresas da área por não saberem lidar com o mundo digital. A outra foi arrecadar fundos para as maiores ONGs do mundo e perceber que tudo tinha um custo alto.
“Com isso, conheci o mercado de crowdfunding e vi que ainda estava pouco desenvolvido no Brasil, onde poderia evoluir para uma solução digital para ajudar o arrecadador que, com as doações, não se sente desamparado”.
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