Editorial
05/04/2019Formação profissional, emprego e produtividade, por José Pastore
Sociólogo apoia a inclusão de formação profissional e incentivo às inovações no pacote de medidas para destravar a economia
Produtividade dos brasileiros cresceu 6% entre 1980 e 2013, enquanto a dos chineses avançou 900%
(Arte/Tutu)
Por José Pastore
Fiquei animado ao ver o governo incluir a formação profissional e o incentivo às inovações da economia 4.0 no pacote de medidas para destravar a economia e gerar emprego anunciado pelo Ministério da Economia. Nunca é demais enfatizar a importância da formação profissional na elevação da produtividade da economia brasileira. Paul Krugman, Prêmio Nobel de economia (2008) diz que, “para o crescimento econômico, a produtividade não é tudo, mas é quase tudo”. É razoável dizer-se que, para a produtividade, a formação profissional não é tudo, mas é quase tudo.
A produtividade no Brasil está estagnada há vários anos. Costumo dizer que a curva horizontal e estável da produtividade brasileira se assemelha a um eletrocardiograma de morto. Jorge Arbache indica que, entre 1980 e 2013, a produtividade dos chineses cresceu quase 900% enquanto que a dos brasileiros aumentou apenas 6%. Uma das principais causas é a baixa qualidade da educação.
Veja também
A nova Previdência e os empregos, por José Pastore
O fim da Justiça do Trabalho?, por José Pastore
Como será o sindicato na revolução 4.0?, por José Pastore
Mesmo nos dias atuais em que se amarga uma taxa de desemprego de mais de 12%, muitas empresas encontram dificuldades para contratar profissionais capazes de atender as suas necessidades. Para ter competência profissional, não basta entrar na escola. É preciso apreender. E o aprendizado depende do aluno, da qualidade das escolas e de bons professores. Dados do Ministério da Economia indicam que dos jovens que passaram pelos cursos de formação profissional promovidos pelo então Ministério do Trabalho, apenas um conseguiu emprego — triste.
Bem diferente, felizmente, são os dados das escolas do Senac, Senai e de outras do Sistema S, nas quais mais de 50% dos egressos conseguem trabalho rapidamente.
Seus rendimentos são, em média, 37% mais altos do que os dos que não passaram por cursos de formação profissional. É claro: as empresas pagam mais, porque a sua produtividade é mais alta. Isso aumenta sua competitividade, suas vendas e seus investimentos que, em última análise, criam empregos.
Por isso, a iniciativa do governo em apoiar a formação profissional tem de ser aplaudida. O mesmo vale para os incentivos à expansão da economia 4.0. A adoção das novas tecnologias é uma necessidade para as empresas brasileiras poderem reduzir custos para os produtores e preços para os consumidores — além de melhorar a qualidade dos bens e serviços. Os técnicos do Ministério da Economia sabem que a modernização tecnológica demanda qualificação e requalificação constantes. Daí o acertado acoplamento da economia 4.0 com os programas de formação profissional.
Além das habilidades cognitivas, a economia 4.0 exige um bom domínio das habilidades socioemocionais — liderança, facilidade de comunicação, capacidade para trabalhar em grupo e cultivo da ética no trabalho. Nas minhas andanças pelas escolas de formação profissional ao longo de 50 anos de pesquisa observei um cultivo deliberado desses valores nas escolas do Sistema S. Penso ser isso reflexo das atitudes e condutas dos empresários que administram tais escolas. É isso mesmo. Nunca vi uma empresa bem-sucedida, onde há sujeira, desleixo, indisciplina, desrespeito e maus-tratos de trabalhadores. Isso faz parte da boa formação profissional e é especialmente relevante na formação dos jovens millennials que valorizam uma boa qualidade de vida, um relacionamento prazeroso e um elevado respeito humano nos ambientes de trabalho.
Formação profissional envolve tudo isso. Penso que os empresários devem apoiar e colaborar com o governo nessa importante cruzada de estimular inovações e intensificar a formação profissional para destravar a economia, estimular investimentos e começar a gerar empregos em grande quantidade.
*José Pastore é Presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da FecomercioSP
Artigo originalmente publicado no jornal Correio Braziliense em 5 de abril de 2019.