Economia
26/03/2025Frente parlamentar de cibersegurança é instaurada pelo Senado Federal em alinhamento com o setor produtivo
FecomercioSP e 14 entidades defendem uma coordenação nacional, com regras unificadas e conscientização da sociedade quanto à segurança digital

O Congresso atendeu a uma antiga demanda do setor produtivo, da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) e de um grupo de entidades ao concretizar uma proposta em prol de uma política nacional de segurança cibernética mais sólida. Na última terça-feira (25), foi instaurada, em Brasília, a Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança e à Defesa Cibernética, com o objetivo de propor marcos legais e estratégias para fortalecer a proteção de dados e a segurança digital no País.
Durante a reunião no Senado, foi entregue às lideranças parlamentares uma carta pela Aliança Multissetorial pela Cibersegurança Nacional, assinada por 15 entidades, em defesa da cibersegurança nacional, da qual a FecomercioSP faz parte. A iniciativa, idealizada e liderada pelo Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC), reúne instituições de referência que já desenvolvem individualmente importantes ações para o tema no Brasil. Agora, essas instituições estão unidas neste esforço multissetorial. O grupo é composto por organizações representantes dos mais variados setores da economia: Financeiro, Comércio Varejista, Serviços, Indústria, Energia, Softwares e Terceiro Setor.
Isso ocorre em um momento em que a crescente onda de crimes digitais afeta diretamente a vida dos cidadãos e das empresas e o funcionamento do Estado. Os crimes e ataques cibernéticos provocam danos estruturais, que variam desde a interrupção de serviços essenciais e a violação de dados pessoais sensíveis até inúmeros abusos cometidos diariamente contra crianças, adolescentes, mulheres e idosos. Um estudo do INCC revelou que as violações de dados no Brasil podem ter gerado em 2024 prejuízos diretos, indiretos e induzidos de R$ 2,3 trilhões, o que representa uma perda de 18% no Produto Interno Bruto (PIB) anual.
“O Brasil é o segundo maior alvo de ataques cibernéticos no mundo, registrando um aumento expressivo de até 70% nos incidentes nos últimos anos. Esses ataques resultam em prejuízos que ultrapassam bilhões de reais e causam impactos profundos para a segurança e a economia do País. Diante disso, a Frente tem como papel incentivar o diálogo entre os poderes Executivo e Legislativo, setor privado e sociedade civil organizada, reforçando o compromisso coletivo para fortalecer a proteção do ambiente digital”, destacou Kelly Carvalho, assessora da FecomercioSP, durante o evento.
Segundo Rony Vainzof, consultor da FecomercioSP e representante de outras entidades na reunião do Senado, o custo da inação tem crescido ano após ano, tornando-se uma preocupação crítica para muitos países, conforme destacado pelo Fórum Econômico Mundial. “A questão vai muito além de fraudes e vazamentos de dados. Os ataques têm o potencial de paralisar empresas, instituições e até países inteiros. A IBM, em seu relatório anual, alerta que cada incidente cibernético custa, em média, US$ 4 milhões. Além disso, quando uma empresa de capital aberto sofre um ataque bem-sucedido, o valor de suas ações tende a cair, em média, 7,5%. Estamos lidando com uma questão de sobrevivência e competitividade de nações e empresas”, alertou Vainzof. “Diante disso, precisamos de uma coordenação nacional de cibersegurança e harmonização regulatória, além de um programa nacional de conscientização em cibersegurança voltado para empresas e cidadãos. Ao mesmo tempo, é essencial garantir incentivos econômicos e fiscais, além de crédito facilitado, para companhias que adotem boas práticas e soluções inovadoras nessa área.”
O encontro promoveu um diálogo importante, reforçando o compromisso coletivo com a responsabilidade social e a proteção do ambiente digital.
Atuação da frente parlamentar
Dentre os objetivos da Frente Parlamentar de Cibersegurança, destacam-se:
- promover debates sobre políticas públicas e defesa cibernética;
- criar uma agenda reguladora para prevenir e responder a ataques cibernéticos;
- propor medidas legislativas para fortalecer a segurança de dados e a resiliência digital;
- estimular parcerias entre indústria e governo para desenvolver novas tecnologias;
- fortalecer a soberania nacional por meio de normas e investimentos em cibersegurança;
- difundir boas práticas e incentivar o combate ao crime cibernético;
- ampliar fontes de financiamento e alinhar investimentos do Brasil aos padrões do G20.
O senador Esperidião Amin (PP/SC), presidente da Frente Parlamentar de Apoio à Cibersegurança e Defesa Cibernética, enfatizou que outra meta central é debater a necessidade e a viabilidade de criação de uma agência nacional de defesa cibernética, composta pelos membros dos setores civil e militar. “Da mesma forma, precisamos que os próximos passos envolvam a interação entre os setores público e privado. Sem essa interatividade, não há chance de êxito”, complementou.
De acordo com o general Ivan Côrrea Filho, secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), “a criação de uma frente suprapartidária, que envolva governo e oposição, demonstra que a cibersegurança tem de ser um assunto de Estado. Esse ato permitirá mais celeridade na aprovação de projetos relacionados ao tema, o que é essencial em um cenário no qual a cibersegurança evolui diariamente, enquanto o processo legislativo tende a ser mais lento”, sinalizou.
Para as entidades, a criação da frente parlamentar representa um marco estratégico a ser celebrado e aproveitado pela sociedade, ao criar um fórum permanente no Congresso destinado a fomentar o diálogo e implementar medidas de proteção, com o importante apoio legislativo para o sucesso dessa agenda.
Senador Esperidião Amin; Rony Vainzof; Kelly Carvalho; e o senador Izalci Lucas
Desafios e propostas para uma política nacional de cibersegurança
A seguir, as entidades listam as prioridades para uma política bem estruturada, conforme a carta entregue ao Congresso.
Coordenação nacional de cibersegurança: é preciso construir uma estrutura nacional com poderes regulatórios claros, capaz de promover segurança jurídica e previsibilidade. A centralização regulatória é fundamental para prevenir e reparar riscos sistêmicos a infraestruturas críticas, além de oferecer respostas mais ágeis e eficientes. Essa coordenação deve também focar na conscientização e na educação da sociedade, bem como fortalecer a resiliência cibernética e combater crimes cibernéticos.
Harmonização regulatória: necessita-se criar um marco legal claro que alinhe as normas com as melhores práticas internacionais, sem impor custos operacionais excessivos. A regulamentação deve ser equilibrada, permitindo um ambiente competitivo e inovador, especialmente para startups e Pequenas e Médias Empresas (PMEs). A flexibilidade regulatória pode ser materializada por meio de diretrizes nacionais que se desdobrem em normas específicas para cada setor. A construção desse processo deve ser transparente e contar com a participação ativa de todos os stakeholders, incluindo setores privado e acadêmico, organizações da sociedade civil e consumidores.
Conscientização da sociedade: empresas e cidadãos devem estar informados e engajados na segurança digital. A disseminação do conhecimento precisa ocorrer por meio de campanhas educativas, programas de treinamento e inclusão de temas de privacidade e proteção de dados nos currículos escolares. Empresas precisam investir na capacitação contínua de seus colaboradores. Políticas públicas efetivas e parcerias entre governo, setor privado e sociedade civil são essenciais para criar uma cultura forte de segurança digital. A responsabilidade é compartilhada entre todos os atores para adotar padrões de segurança e transparência, minimizando vulnerabilidades e fortalecendo a confiança no ambiente.
Em seu discurso, o senador Amin ressaltou que essa conscientização da sociedade brasileira é uma das principais metas da frente.
O grupo de entidades que compõe a aliança também se pôs à disposição da frente parlamentar, do Congresso, do Executivo e de todos os atores da sociedade que queiram somar esforços para garantir que o Brasil construa um ambiente digital mais seguro e resiliente.
Representantes da Aliança Multissetorial pela Cibersegurança Nacional:
- Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC)
- Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed)
- American Chamber of Commerce (Amcham)
- Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi)
- Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes)
- Confederação das Associações das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro)
- Associação Catarinense de Tecnologia (Acate)
- Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF)
- Federação Brasileira de Bancos (Febraban)
- Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
- Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)
- Federação Nacional das Empresas de Informática (Fenainfo)
- Global Anti-Scam Alliance (Gasa)
- Instituto Peck de Cidadania Digital (IPCD)
- Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
Crédito para a segurança digital nos pequenos negócios
Durante o lançamento da Frente Parlamentar, a FecomercioSP também entregou pessoalmente ao secretário de Segurança da Informação e Cibernética, André Luiz Bandeira Molina, suas propostas para um plano nacional de cibersegurança, além de um projeto de linha de crédito destinado a pequenas empresas para investimentos em segurança digital.