Economia
15/03/2019Indústria 4.0 será o WhatsApp do mundo consumidor
Presidente e CEO da Siemens no Brasil, André Clark afirma em entrevista ao UM BRASIL que o uso de diferentes tecnologias aumenta a produtividade das empresas e a proximidade com os clientes
Clark estima que, em uma década, 80% da indústria brasileira esteja adequada à indústria 4.0, se o País mantiver um ciclo economicamente favorável nos próximos três anos
(Foto: Christian Parente)
A indústria 4.0 é um fenômeno que desafia o País a elaborar e implementar políticas públicas. Em entrevista ao UM BRASIL, o presidente e CEO da Siemens no Brasil, André Clark, fala sobre o assunto e afirma que o uso de diferentes tecnologias como computação na nuvem e inteligência artificial, por exemplo, aumentaria a produtividade das empresas, além de permitir mais aproximação com o consumidor.
“A indústria 4.0 é o uso das inúmeras ferramentas que já existem para a tomada de decisão e ganho de produtividade. Isso muda o modelo de negócio e aproxima o empresário da realidade do cliente, integra a cadeia de valor e permite planejar o ambiente de manufatura”, afirma o executivo.
Veja também:
Falta de pesquisa e inovação reduz produtividade de empresas brasileiras
Desenvolvimento requer economia mais aberta e pesquisa em tecnologia
Quarta Revolução Industrial é um novo capítulo do desenvolvimento humano, diz Thomas Philbeck
No encontro com Juliana Rangel, Clark classifica como sendo de qualidade as políticas públicas que visam ao desenvolvimento desse modelo implementadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI). Ele também diz haver empresas da indústria automobilística e do setor de linha branca que já fazem uso desse modelo de negócios.
Apesar da heterogeneidade das empresas nacionais – muitas ainda enfrentam problemas básicos de gestão e de qualidade dos produtos –, Clark estima que, em uma década, 80% da indústria brasileira esteja adequada à indústria 4.0, se o País mantiver um ciclo economicamente favorável nos próximos três anos. “O acesso à tecnologia desse tipo traz melhoras horizontais na economia. Não privilegia um segmento, é para todo mundo”, comenta.
Para ele, o momento é propício para investir no uso de tecnologias porque o mercado acredita que a perspectiva de volta gradual da demanda traga consigo a recomposição da capacidade produtiva. “Temos uma capacidade ociosa relevante na indústria, e, nesses casos, as máquinas depreciam por falta de uso. Quando a demanda começa a surgir, os empresários voltam a investir nessas máquinas e começam a se inteirar pela automação ou digitalização das linhas de produção. Essas tecnologias estão se tornando cada vez mais simples. A indústria 4.0 será o WhatsApp do mundo consumidor. Ninguém vai viver sem”, ressalta.
Revoluções positivas
O investimento do Estado em pesquisa e tecnologia abriu caminhos para a inovação no agronegócio (conquista do cerrado brasileiro para a produção industrial em escala) e no setor elétrico (com a descoberta e exploração do pré-sal).
“Vivemos o fruto da política pública voltada ao agronegócio que faz essa produção para exportar. E a industrialização desse setor ainda será bastante representativa. Outra transformação é o pré-sal, que muda a estrutura da matriz brasileira. O Brasil deixa de perseguir a independência energética para ser exportador de energia. Se desenvolvermos essa matriz de forma substancial, a eletrificação da nossa economia será um passo natural. Isso muda cidades. A política energética brasileira tem o potencial de disparar outras políticas industriais e de inovação de impacto para o desenvolvimento da economia brasileira.”
Educação
A educação é outro ponto visto pelo empresário como essencial ao desenvolvimento da indústria 4.0. “A falta de preparo em algumas ciências e na educação básica limita a ascensão de uma quantidade grande de jovens a essa nova geração de tecnologia. Eles vão precisar de matemática, de física etc. para prestar os serviços deles”, explica.
“Educação na sua essência é função do Estado. Não existe dinheiro privado suficiente para formação e educação básica em larga escala em todas as regiões nacionais. A participação do setor privado é no acompanhamento da execução de algumas políticas públicas”, finaliza.
A entrevista é resultado do evento “III Fórum: A Mudança do Papel do Estado”, uma realização UM BRASIL; Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP); Columbia Global Centers | Rio de Janeiro, braço da Universidade Columbia; Fundação Lemann; revista VOTO; e Instituto de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças.