Economia
16/01/2025Inflação e contas públicas em foco: o que esperar das economias nacional e internacional em 2025
Segundo o relatório do FEM, 54% dos especialistas preveem que as condições econômicas permanecerão inalteradas, com fatores de riscos de 2024 persistindo ao longo deste ano; confira a reportagem da Revista PB
Ano novo, problemas novos? Não exatamente. Tudo indica que algumas preocupações que marcaram 2024 vão se manter em 2025 — com tensões geopolíticas ainda no radar e riscos inflacionários e fiscais renovando-se em meio à posse de Donald Trump, nos Estados Unidos. Essas são as principais ameaças para o crescimento das economias mundial e do Brasil no ano que vem.
A dúvida é o quanto esses riscos serão capazes de abalar o sentimento de otimismo cauteloso que vinha ganhando corpo entre a maioria dos economistas-chefe estrangeiros, de acordo com a última edição do Chief Economists Outlook, do Fórum Econômico Mundial (FEM), e endossado por economistas brasileiros ouvidos pela Problemas Brasileiros.
Segundo a pesquisa, que contou com 35 respostas de economistas-chefe, a maioria (54%) não vislumbra mudanças das condições econômicas em 2025. Entretanto, 37% esperam um enfraquecimento dessa conjuntura, enquanto 9% preveem uma melhora. A conclusão é de que há razões para o otimismo cauteloso demonstrado, como a gradual redução da inflação mundial — que pode levar a menores taxas de juros em alguns países — e evidências da resiliência do comércio global. No entanto, o relatório do Fórum Econômico aponta que “se a economia está se estabilizando, faz isso no nível mais fraco em décadas, com o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetando que o crescimento global desacelere de 3,2%, em 2024, para 3,1%, em 2029”.
No Brasil, porém, a previsão dos especialistas é que problemas internos possam prevalecer sobre os externos, como o potencial de alta da inflação e a questão fiscal protagonizando o debate. Apesar da crescente desconfiança do setor financeiro relativa à condução das contas públicas, também foram citadas algumas chances de o Brasil posicionar-se melhor globalmente e beneficiar-se com a cena atual.
Essa percepção é partilhada por economistas brasileiros: “Otimismo cauteloso é uma expressão adequada, pois estamos falando de um ciclo econômico mundial de avanço mais modesto — mas existem mais barreiras. O mundo está mais complexo, há um aumento do antagonismo político, como na relação entre os Estados Unidos e a China”, avalia Zeina Latif, sócia da Gibraltar Consulting.
A despeito desse antagonismo político e da permanência de tensões geopolíticas, como a continuidade da guerra entre Ucrânia e Rússia, o cenário ainda é de crescimento em dois dos três grandes blocos globais, de acordo com Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “O cenário base é de expansão, embora não muito forte. Os PIBs da China e da Ásia, em geral, seguem subindo, e os Estados Unidos tendem a continuar com crescimento forte”, afirma.
Nove entre dez economistas-chefe consultados para o estudo do Fórum Econômico esperam crescimento moderado ou mais forte dos Estados Unidos neste ano. A exceção é a Europa, com mais dificuldades de recuperar-se.
Efeito Trump
Embora as perspectivas para a economia norte-americana sejam positivas, a eleição de Donald Trump adicionou incertezas, indicam a pesquisa e os especialistas brasileiros. Há dúvidas quanto ao discurso mais protecionista e às promessas de aumento das tarifas de importação se confirmarem, com potencial para seguir fortalecendo o dólar e causar processo inflacionário em todo o mundo.
Segundo Gala, possíveis efeitos ainda estão em aberto, sendo difícil prever o quanto a inflação vai subir. “A questão ainda é como o FED [Federal Reserve, o banco central norte-americano] vai reagir, e se essa pressão será capaz de interromper o atual ciclo de corte de juros por lá”, reitera.
Zeina, porém, questiona se Trump terá coragem de pôr em prática tudo o que diz, ressaltando que o discurso mais agressivo e as ameaças são uma marca do presidente eleito, mas que nem sempre se concretizam. “Essa agenda de tarifas traz muito risco para o próprio Trump, já que, se houver inflação, atingiria principalmente as classes mais populares que votaram nele”, alerta.
Além disso, a economista lembra que, no primeiro governo do republicano, o aumento das tarifas de importação da China gerou reflexos positivos para o Brasil, já que o governo do país asiático retaliou e, consequentemente, comprou mais commodities brasileiras. O dólar mais forte, ainda que traga inflação, também tem um lado positivo, beneficiando empresas exportadoras locais e setores como o Agronegócio, que lucram mais com as vendas externas.
A questão fiscal
Se a pressão inflacionária vinda do exterior ainda é dúvida, a alta dos preços provocada por questões internas mostra-se preocupante e coloca o Brasil na contramão da tendência mundial de desaceleração de preços apresentada pelo relatório do Fórum Econômico. “Mantendo-se como está, a política monetária dos Estados Unidos é positiva para o Brasil, mas temos uma série de problemas, sobretudo na área fiscal, que impedem a materialização desse benefício. O nosso calcanhar de Aquiles continua sendo a política fiscal”, acredita Felipe Salto, economista-chefe e sócio da Warren Investimentos.
Salto opina que o pacote de medidas para conter gastos, anunciado pelo Ministério da Fazenda no fim de 2024, não foi suficiente para tranquilizar os diversos agentes econômicos, ainda que iniciativas importantes sigam na direção correta. A avaliação é de que poderiam ter sido mais intensas e que o governo perdeu a oportunidade de reduzir a pressão no câmbio e nos juros. “A nossa previsão é de que a Selic continue a subir e chegue a 13,5% ao fim de 2025. Com uma taxa tão elevada, o governo não conseguirá equilibrar a dívida”, adverte o economista.
Juliana Inhasz, professora no Insper, reforça o coro dos que acreditam que a questão fiscal será o principal desafio do Brasil em 2025, mas destaca que isso não é de hoje. “Esse problema arrasta-se há décadas, e é a principal pedra no sapato da economia brasileira. É necessário resolvê-lo para crescer de forma sustentável.”
Os efeitos no mercado
Diante das previsões de que a Selic vai superar os 13%, o quadro é mais favorável para aplicações em renda fixa, em detrimento dos investimentos em ações, com o risco de a Bolsa de Valores nacional enfrentar mais um ano difícil. No acumulado de 2024, até o pregão do dia 6 de dezembro, o Ibovespa, principal índice da B3, registrou queda de 6,14%.
Já em relação ao câmbio, mesmo que o dólar não se sustente no patamar de R$ 6, a previsão dos economistas ouvidos é de que deve se acomodar em um nível mais elevado em 2025. “O dólar pode até voltar para R$ 5,50, mas o cenário é de dólar pressionado com a vitória de Trump e de bolsa penalizada com juros longos mais altos”, reforça Gala, do Banco Master.
E o PIB do Brasil em 2025?
Independentemente da perspectiva de uma Selic elevada e das preocupações fiscais, os especialistas ponderam que o País vai continuar a crescer em 2025, embora provavelmente menos do que em 2024. Há ainda quem veja um exagero na visão pessimista do mercado financeiro sobre as contas públicas.
É o caso de Carla Beni, economista e professora na Fundação Getulio Vargas (FGV), que não vê gastança do governo, nem uma inflação descontrolada. “Há um exagero no mercado financeiro e pressão para subir a Selic, mas o Brasil tem um déficit fiscal que está controlado, consegue emitir títulos. Não existe nada para criar pânico”, enfatiza.
Carla também destaca que o Brasil está mostrando dados macroeconômicos importantes, com as menores taxas de desemprego já vistas, o resgate da massa salarial, a diminuição dos índices de desigualdade social e um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) que deve superar os 3% em 2024.
Mesmo com a atividade mais aquecida, a economista lembra que o boletim Focus, do Banco Central, assinala uma expectativa de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registre alta de 4,4% em 2025. No entanto, pode ocorrer uma leve desaceleração da economia no ano que vem. No Focus, as previsões apontam para evoluções de 3,22% do PIB neste ano, e de 1,95% em 2025.
Mais inserção global
O ano de 2025 não será somente de desafios e incertezas em relação à inflação e à condução da questão fiscal. A avaliação é de que há algumas oportunidades para o Brasil no cenário econômico global.
Juliana, do Insper, observa que o País pode aproveitar o momento para se consolidar em alguns setores e no processo de transição energética que se intensifica em todo o mundo. “O Brasil pode encabeçar a transição energética se houver comprometimentos político e institucional para liderar essa agenda. Temos aí uma oportunidade interessante”, ressalta.
Já Felipe Salto enfatiza que alguns movimentos na condução da política externa, como uma reaproximação da China, podem beneficiar o setor industrial e melhorar a balança comercial nacional.
Ainda com relação à política externa, Carla acredita que o Brasil já está aproveitando algumas chances, que podem se estender ao longo de 2025, pontuando que o País voltou a participar de debates importantes e posicionou-se de forma positiva no encontro do G20, realizado em novembro de 2024, no Rio de Janeiro.
Outro ponto citado pela professora é o de que o Brasil vai assumir a presidência do Brics (grupo formado por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul), que pretende evoluir na criação de uma moeda comum para realizar trocas comerciais sem o dólar.
Matéria originalmente publicada no site da Revista Problemas Brasileiros, uma realização da Federação.
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