Sustentabilidade
09/01/2017Matriz energética diversificada é desafio para o Brasil
Para driblar os entraves da geração hidrelétrica, a fonte eólica está entre as principais apostas do País
Segundo o diretor comercial da Comgás, Sergio Luiz da Silva, o uso do gás natural no comércio de bens e serviços é diversificado, sendo a utilização em fornos de pizza um dos destaques (Foto: Rubens Chiri / Agência TUTU)
Com informações de Cristina Ribeiro de Carvalho
A eficiência energética a partir de uma matriz diversificada e de fontes renováveis – como a biomassa (produzida com vegetais), a eólica (geração pelo vento), a solar e as pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) – é a busca de grandes economias mundiais, inclusive do Brasil. Essas alternativas limpas são as apostas em situações de escassez do recurso hídrico, como a enfrentada pelo Brasil entre 2013 e 2015.
De acordo com o Plano Decenal de Expansão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), a capacidade instalada da hidroeletricidade – a mais usada no País – em dezembro de 2024 deverá ser da ordem de 117 Gigawatt hora (GW), correspondendo a 56,7% da produção nacional.
O estudo aponta ainda que, em razão dos impactos ambientais gerados pela instalação de reservatórios, o aumento da capacidade de armazenamento previsto é de apenas 2,6 GW médios nesse mesmo período, o que corresponde a aproximadamente 1% do total existente em 2015.
Esse número, segundo a EPE, alerta quanto à importância dos grandes reservatórios instalados na Região Sudeste/Centro-Oeste. Fundamentais para o funcionamento do Sistema Interligado Nacional (SIN), eles representam aproximadamente 70% do que é armazenado. As regiões Nordeste, Sul e Norte possuem, respectivamente, 18%, 7% e 5%. A esse quadro do Brasil inclui-se ainda o crescimento do mercado em torno de 45%, ou seja, bem superior ao aumento do que é armazenável.
Dados do Boletim Conjuntura Energética da Fundação Getulio Vargas (FGV) apontam que, em agosto de 2016, em comparação com o mês anterior, o que foi gerado em todo o SIN cresceu 2,29%. Do que é armazenado, o sistema recuou 9,82% com o fim do período de chuvas, porém, apresentou um aumento de 24,12% em relação ao ano hidrológico anterior.
Eólica é aposta
Para driblar esse cenário desafiador, a fonte eólica é uma das principais apostas do Brasil.Com os 410 parques eólicos atuais, o País é o décimo do mundo em capacidade instalada, segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
E a geração eólica é o foco de novos projetos do governo federal por meio de leilões. Do mais recente, realizado em 2015, até 2019, estão garantidos 19 GW, o que corresponderá a cerca de 10% da matriz nacional.
O 2º Leilão de Energia de Reserva visa a eólica e a solar fotovoltaica. Juntas, terão prazo de suprimento de 20 anos. A data de início do fornecimento é 1º de julho de 2019.
“O potencial eólico brasileiro é de 500 GW que podem ser explorados. Além de ser uma quantidade muito grande, é potencial de altíssima qualidade, porque o Brasil possui um dos melhores ventos do mundo para essa produção, por ser constante, forte, veloz e sem turbulências”, afirma a presidente-executiva ABEEólica, Elbia Gannoum.
A primeira participação da eólica na matriz brasileira se deu em 2004 no Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Segundo Elbia, houve um entrave pelo alto custo da eólica na época. “Agora está custando mais ou menos o mesmo da hidrelétrica.”
Segundo o presidente do Conselho de Sustentabilidade da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), José Goldemberg, as alternativas limpas se tornaram competitivas nos últimos cinco anos. “É como o preço dos automóveis. À medida que aumenta o mercado, existe ganho de escala e o preço cai.”
Solar também está em foco
A fonte solar fotovoltaica também ganha atenção. Sua participação nacional deve passar dos atuais 0,01% para 4% em 2024, segundo a EPE.
Ela é muito utilizada pelos setores de comércio e serviços, pela indústria e em residências. Atualmente, são mais de cinco mil sistemas fotovoltaicos espalhados por todo o Brasil, segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Lopes Sauaia. “Desse total, 79% são residenciais e 15% de comércio e serviços.”
Gás natural ganha espaço
Outra fonte que vem ganhando escala é o gás natural, que não é renovável, mas é limpa e constante, o que traz boa aceitação para uso residencial, comercial, abastecimento elétrico e na cogeração de energia para equipamentos.
A cogeração a gás no Brasil está em torno de 16 GW de capacidade instalada, o que representa algo em torno de 11% da matriz, e 5% do que é gerado no Brasil, de acordo com análise da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen).
A Comgás, maior distribuidora de gás natural do País, com 1,6 milhão de clientes, detém infraestrutura de 14 mil quilômetros de rede e soma, anualmente, mais de 100 mil ligações em sua base. Entre elas estão estabelecimentos comerciais e até a planta automotiva da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), que opera 100% a gás natural.
No comércio, sua aplicação é diversificada: em fornos, fritadeiras a gás, cocção, climatização, entre muitas outras. “Sua utilização em fornos de pizza é um dos destaques por manter chama contínua e uniforme, contribuindo para a qualidade do produto”, diz o diretor comercial da Comgás, Sergio Luiz da Silva.
Segundo Goldemberg, alavancar as alternativas limpas vai depender da situação econômica. “Se ela melhorar vai haver mais demanda. Não vejo outra solução. O Brasil não está atrás dos demais países no desenvolvimento de energias renováveis, está razoavelmente bem situado.”
Confira a reportagem na íntegra, publicada na revista Problemas Brasileiros.
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