Sustentabilidade
01/03/2016Mercado de biocombustíveis está em compasso de espera
Especialistas dizem aguardar movimentação do governo federal que sinalize um cenário mais positivo para o setor
Cenário é difícil para o Etanol, que tem perdeu espaço por causa do preço da gasolina
(Arte TUTU)
Por Deisy de Assis
Embora a 21ª Conferência sobre Mudança do Clima, realizada na França, no ano passado, tenha promovido um importante acordo entre 195 países e criação de um fundo internacional com previsão de US$ 100 bilhões anuais até 2025, o mercado de biocombustíveis no Brasil ainda não está otimista em razão do acordo internacional.
O presidente do Conselho de Sustentabilidade da FecomercioSP, José Goldemberg, argumenta que, no Plano de Desenvolvimento Energético (PDE), o governo federal promete aumentar a produção de etanol para 44 bilhões de litros até 2024, partindo dos 28 bilhões de litros fabricados em 2014.
Para o biodiesel, a expectativa é que a produção chegue a 5,6 bilhões de litros no período de dez anos, com base nos 4,4 bilhões de litros em 2014. “A questão é que a promessa veio antes da crise econômica brasileira e dificilmente o governo conseguirá alcançar as metas no prazo estipulado”, afirma Goldemberg.
Ele frisa que, no caso do etanol, por exemplo, o crescimento anual que chegava a 5%, caiu para 1%, por influência da crise no setor automotivo e pela constância no preço da gasolina. “Vale lembrar que das 400 usinas de etanol do Brasil, aproximadamente 80 estão em processo de recuperação judicial”, disse.
O assessor econômico da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Bandeira Guerra, acredita que, se houver perspectivas positivas para o mercado de biocombustíveis, ainda não dá para esperar boas notícias para este ano. “É preciso aguardar o processo de internalização de cada medida proposta – ou seja, que as coisas saiam do papel, o que é um processo mais longo.”
Mistura voluntária de biodiesel
Segundo os especialistas, o que deve influenciar o mercado positivamente é a liberação para acrescentar maior quantidade de biodiesel no diesel. A mistura obrigatória por lei é de 7% de biocombustível e, com a autorização do governo, será possível chegar a 20% no caso dos veículos de transportes rodoviários e a 30% para os do setor ferroviário ou de máquinas industriais e agrícolas. Com a mudança, a perspectiva é de que a demanda do biocombustível aumente, mas o período de adaptação ainda acarretará entraves.
Dados da Abiove apontam que, enquanto houve queda de 5% no mercado de diesel (em decorrência da crise econômica brasileira que afeta o transporte de cargas), a produção de biodiesel teve alta de 15% em relação a 2014.
Já o faturamento nominal – sem os descontos de impostos e da inflação – das usinas de biodiesel no Brasil passou de R$ 6,8 bilhões em 2014 para R$ 8,7 bilhões no ano passado, um crescimento anual de 28%.
“A perspectiva é de um crescimento maior com a autorização para a mistura voluntária, o qual ainda não é possível quantificar. Trata-se de uma agenda de médio a longo prazo”, disse Guerra.
Entraves
Segundo o assessor econômico, existem diversas interferências na dinâmica do mercado do biodiesel. “As de maior peso são os preços e a falta de informação tanto de distribuidores quanto das empresas que fazem o consumo final do produto”, argumenta.
De forma geral, o preço do biodiesel é mais alto que o do diesel. Entretanto, esse fator varia de acordo com a região do País. Em regiões produtoras de soja, localizadas em pontos mais distantes de refinarias que produzem o diesel, o item se torna mais barato. “Outra questão é a sazonalidade, uma vez que, durante os períodos de safra, os preços também tendem a cair”, afirma Guerra.
A falta de informação também é colocada como um entrave pelo especialista, uma vez que foi constatado um desinteresse por maior quantidade de biodiesel durante os leilões em que as distribuidoras compram das produtoras. “Possivelmente há desinformação dos consumidores finais, que não demandaram das distribuidoras. O quadro pode indicar para a necessidade de ajustes no modelo de venda.”
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