Economia
11/12/2020Mercado de crédito muda em dez anos: Brasil foca mais em consumo do que em investimento
Estudo realizado pela FecomercioSP retrata, em dados, a história da distribuição do crédito no Brasil desde agosto de 2010
A mudança de foco ocorreu, de forma geral, com recursos direcionados, sobretudo para imóveis
(Arte: TUTU)
Nos últimos dez anos, o mercado de crédito no Brasil sofreu mudanças relevantes. Em agosto de 2010, o montante de recursos disponibilizado por bancos às empresas representava 55% do total, restando 45% direcionados aos cidadãos. Em agosto de 2020, esta proporção se reverteu: hoje, as Pessoas Físicas (PF) detêm 56% do total do volume emprestado, enquanto que as Pessoas Jurídicas (PJ), 44%. Os dados analisados pela FecomercioSP fazem parte de relatórios de crédito do Banco Central (BC).
Este é um fenômeno interessante de se avaliar no mercado de crédito. A mudança mostra que, de forma geral, o Brasil focou mais em consumo do que em investimento.
Isso destoa da necessidade de se aumentar a poupança interna do País, o que proporcionaria expansão dos investimentos empresariais – responsáveis pela geração de empregos, renda e consumo de forma mais consistente e duradoura no longo prazo.
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A FecomercioSP destaca que o volume de crédito cresceu, em termos reais, muito mais do que o Produto Interno Bruto (PIB) ao longo desses anos.
Confira, a seguir, as tabelas que contam esta história.
Abaixo, a tabela com dados da variação nominal, da variação real (que considera a inflação do período) e da variação em relação ao PIB acumulado em dez anos. Lembrando que a inflação foi de 72% entre agosto de 2010 e agosto de 2020, e o PIB cresceu, aproximadamente, 6% desde então.
Abaixo, os dados completos do ambiente de crédito em agosto de 2010 e em agosto de 2020.
A FecomercioSP faz as seguintes constatações a respeito desse cenário.
1. O total do volume de crédito cresceu 135% em termos nominais, 37% em termos reais e quase 30% em relação ao PIB em dez anos.
2. A mudança de foco, que fez com que o crédito para PF fosse predominante, ocorreu de forma geral com recursos direcionados; carteiras como a imobiliária foram as que cresceram mais, saltando de 7% do total de crédito, em 2010, para 18%, em 2020.
3. O cheque especial está reduzindo gradativamente sua participação – hoje, representa menos de 0,5% do total de crédito.
4. O uso do cartão de crédito em relação ao total dos recursos melhorou sua composição e passou de 5,4% do total das carteiras, em 2010, para 6,7%, em 2020. A participação do rotativo caiu, e as participações do pagamento à vista e do parcelamento no cartão aumentaram. Cada vez menos o consumidor usa o perigoso crédito rotativo. Já o parcelamento sem juros, famoso no comércio, representa apenas 1,1% do total do crédito no País.
5. Em relação à carteira com recursos livres às empresas, a modalidade mais importante ainda é o capital de giro, apesar de a sua participação ter caído em dez anos.
6. Para as PFs, a maior carteira com recursos livres ainda é a de aquisição de veículos, mas também houve queda da modalidade no bolo de participação.
7. A inversão de proporções de crédito à PF e PJ ocorreu apenas no crédito direcionado, tendo em vista que as participações de recursos livres são praticamente as mesmas de uma década atrás, ainda que o volume total tenha crescido. Em relação ao direcionado, o montante disponível às PFs dobrou entre 2010 e 2020.