A mobilização de causas deve ser estruturada de forma clara e articulada. Para além disso, as causas precisam estar alinhadas às expectativas da sociedade. A afirmação é do cientista político e mestre em administração pública Leandro Machado, que palestrou na reunião plenária da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) em 27 de novembro.

Machado é autor do livro “Como defender sua causa”. Em entrevista, ele fala sobre como sensibilizar os tomadores de decisão, propõe estratégias para conscientizar e engajar o público-alvo das empresas e transformar a realidade de forma positiva e duradoura.

“Antes de partir para uma mobilização é preciso definir o problema que pretende solucionar com a ação e elencar as medidas que pretende propor. Depois disso, deve-se buscar parceiros que comungam da mesma causa, para então ir ao encontro da autoridade que tem o poder de decisão”, afirma Machado.

Confira a seguir a entrevista completa.

Em um mundo cada vez mais digital, quais as ferramentas os sindicatos devem adotar para mobilizar e engajar os seus associados?

No mundo digital de hoje, os sindicatos devem adotar uma variedade de ferramentas para mobilizar e engajar seus associados. As redes sociais, como Facebook, Twitter e LinkedIn, são plataformas poderosas para disseminar informações, organizar eventos e mobilizar membros. O mais importante, nesse caso, é saber quem é a sua audiência e onde ela está (canais que seus públicos prioritários mais se informam).

Além disso, os sindicatos podem utilizar softwares de gestão de relacionamento com o cliente para gerenciar e analisar as interações com os membros, melhorando a comunicação e o engajamento. Outra ferramenta importante é o uso de aplicativos móveis personalizados, que permitem aos associados da entidade acessar informações, participar de eventos e se comunicar com o sindicato de maneira fácil e objetiva, considerando que o custo de desenvolvimento e manutenção de aplicativos próprios tende a ser mais caro.

Como as causas prioritárias dos sindicatos patronais, que promovam o desenvolvimento econômico e a geração do emprego, devem ser estruturadas e levadas ao Poder Público?

Os sindicatos patronais, ao buscarem causas prioritárias para promover o desenvolvimento econômico e reduzir a desigualdade social, devem considerar uma abordagem estratégica que alinhe o propósito com as demandas de seus principais públicos.  Tais propósitos devem estar claros na missão e nos valores do sindicato, em consonância com as necessidades e interesses dos seus associados, trabalhadores e da comunidade em geral.

Para identificar essas demandas, os sindicatos podem aplicar pesquisas de opinião, criar grupos de discussão, realizar consultas públicas, entre outras formas de engajamento. Ao entender as principais preocupações, necessidades e anseios das empresas, as entidades representativas conseguem atuar de maneira mais assertiva.

Uma vez identificadas as causas, é crucial que elas sejam estruturadas de forma clara e articulada, e que estejam alinhadas com as expectativas da sociedade. Isso aumentará a probabilidade de serem levadas adiante pelos tomadores de decisão. Além disso, as propostas devem conter os interesses dos tomadores de decisão e serem apoiadas por uma ampla gama de atores políticos.

Por exemplo, se um sindicato identifica que a falta de formação profissional é uma preocupação importante para seus membros e para a comunidade, ele pode desenvolver uma proposta para um programa de formação profissional autoral. Se bem estruturada e apoiada por uma ampla gama de atores, tais propostas têm uma boa chance de serem colocadas em prática pelo Poder Público.

Ao alinhar as demandas empresariais e da sociedade em geral, em torno de interesses comuns em defesa do desenvolvimento, aos propósitos das entidades, haverá um aumento da eficácia de suas ações de advocacy e, por consequência, resultados mais consistentes na economia e na redução da desigualdade social.

Quais os temas que mais sensibilizam o brasileiro no engajamento de causas?

Muito embora as causas (demandas sociais existentes) mudem de acordo com o contexto, os temas que mais sensibilizam o brasileiro, neste momento, incluem questões relacionadas à educação, saúde, emprego e segurança. Assim, é importante que o sindicato tenha como embasamento pesquisas conjunturais para entender esse contexto de demanda social e saber identificar as causas mais urgentes para a população em momentos diferentes.

A polarização ideológica presente nos últimos anos é um empecilho para a mobilização em torno de causas que deveriam ser comuns? As pessoas se sentem inibidas em assumir as suas causas? Como contornar esta polarização?

A polarização ideológica pode ser um obstáculo para a mobilização em torno de causas comuns, pois pode levar a uma divisão e a um conflito desnecessários. No entanto, é importante lembrar que muitas causas, como a proteção do meio ambiente ou a promoção da educação, são questões que podem transcender as divisões ideológicas. Para contornar a polarização, é importante focar nas questões em si e nos problemas a serem resolvidos, e não nas diferenças ideológicas.

Qual o papel dos partidos políticos na formulação de causas e no engajamento da sociedade? Quais os principais erros que vem sendo cometidos?

Os partidos políticos desempenham um papel crucial na formulação da agenda de debate público, assim como na promoção de causas e no engajamento da sociedade. No entanto, muitos partidos têm cometido o erro de se concentrar demais em questões partidárias e ideológicas, em vez de se concentrar nas necessidades e preocupações reais da população. Para evitar esse equívoco, os partidos devem se esforçar para ouvir e representar efetivamente seus eleitores, com mais transparência e maior responsabilidade.

O fortalecimento dos princípios ESG tem colaborado no sentido das corporações se engajarem em causas? Há risco de causas e bandeiras serem levantadas apenas como marketing? Como engajar colaboradores e a sociedade em torno de causas sustentáveis?

Sem dúvida, no entanto, há o risco de algumas empresas usarem essas causas como uma estratégia de marketing e não como um compromisso genuíno com a sustentabilidade. É necessário que as empresas tenham, de fato, uma estratégia real de ESG, com visão de futuro, objetivos concretos e indicadores que possam ser acompanhados. Além disso, é necessário ter convicção no trabalho que desenvolvem, que sejam transparentes em suas ações e responsabilizadas por suas promessas. Adicionalmente, os empresários devem se esforçar para envolver seus funcionários e a sociedade em suas iniciativas de sustentabilidade, por meio, por exemplo, de programas de voluntariado e em ações conjuntas de impacto social.

Quais são os passos necessários para que uma causa ganhe engajamento da sociedade e prospere? Poderia citar um exemplo?

É necessário que ela seja relevante e significativa para o maior número de pessoas. Além disso, é importante que toda e qualquer causa seja comunicada de forma clara e persuasiva, e que haja oportunidades para as pessoas se envolverem ativamente. Um exemplo claro foi a pandemia da Covid-19: diante de uma ameaça concreta à vida de todos (ou seja, relevante para toda a população), houve um engajamento inédito para arrecadação de recursos (como o projeto “Todos Pela Saúde”, do Itaú), Distribuição de alimentos (CUFA, UniãoBR etc) e tantas outras mobilizações que somaram grandes volumes de recursos humanos e financeiros. Em suma, engajamento é tempo. Para alguém se engajar (doar seu tempo), é necessário que causa em questão seja percebida como algo de extrema relevância.

10 PASSOS PARA IMPLEMENTAR O ADVOCACY

1.         Delimite seu problema

2.         Defina seus objetivos

3.         Mapeie os tomadores de decisão e influenciadores

4.         Entenda os interesses dos tomadores de decisão

5.         Avalie opositores e obstáculos

6.         Avalie quais são suas armas

7.         Defina os parceiros certos

8.         Estabeleça metas intermediárias

9.         Crie mensagens mobilizadoras

10.      Defina seus indicadores

Advocacy da FecomercioSP

A FecomercioSP representa 2 milhões de empresas, as quais geram 10 milhões de empregos e respondem por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e 30% do PIB paulista. Diante de tamanha responsabilidade, a Entidade conta com um advocacy voltado aos interesses do empresariado, visando a melhoria do ambiente de negócios nacional.

Acompanhe todas as bandeiras e ações protagonizadas pela Federação e seus sindicatos filiados aqui.

Para saber mais sobre as atividades de advocacy da FecomercioSP ou conhecer as atividades dos conselhos da Entidade, fale conosco pelo e-mail ri@fecomercio.com.br. 

Você já conhece o Fecomercio Lab – nosso canal para associados(as) em que você encontra produtos e serviços exclusivos, além de orientações para o seu negócio? Saiba mais aqui.