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Editorial

O emprego e o ajuste fiscal

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O emprego e o ajuste fiscal

É bem provável que as centrais sindicais e o próprio Partido dos Trabalhadores (PT) venham a debitar na conta do ajuste fiscal a provável elevação do desemprego em 2015. A CUT tem procurado os parlamentares para revelar o seu inconformismo com as medidas anunciadas pelo governo. A Força Sindical vem questionando a constitucionalidade das Medidas Provisórias 644 e 645 no Supremo Tribunal Federal. A Fundação do PT classificou a estratégia traçada como desastrosa para o emprego e para os salários dos trabalhadores.

Os críticos do ajuste fiscal terão um farto material para ataques, pois os problemas na área do emprego tendem a se agravar em 2015. O ano de 2014 terminou de maneira melancólica, com a criação de menos de 400 mil postos de trabalho - o pior desempenho desde 2002, e apenas 33% do que foi gerado em 2013 e 16% do realizado em 2010.

A taxa de desemprego para as regiões metropolitanas se manteve baixa (4,8%) por causa da redução de 3,8% (de 2013 a 2014) dos que procuraram trabalho. E essa tendência vem de longe. De 2003 a 2014 a queda foi de 20%! Com menos gente procurando emprego, é claro, a taxa de desemprego cai.

Convenhamos, 2014 não deixou saudades. Para complicar, a produtividade do trabalho se manteve baixa e até caiu em alguns setores (industrial), pela má qualidade da educação, a reduzida taxa de inovação tecnológica, o excesso de burocracia e o cipoal trabalhista - todos os problemas crônicos.

No lado do consumo, este diminuiu em vários setores no ano passado. No imobiliário, só em São Paulo houve queda de 50% na compra de imóveis, o que determinou um corte do emprego na construção civil. Na indústria, em geral, houve mais demissões que admissões. No setor automotivo foram dispensados 13 mil trabalhadores das montadoras e 19 mil dos fabricantes de autopeças. Os produtores de máquinas demitiram 13 mil empregados. Nos prestadores de serviços para a Petrobrás as demissões alcançaram mais de 20 mil empregados. No setor sucroalcooleiro de São Paulo foram desligados cerca de 14 mil empregados. Para a maioria dos setores, as demissões continuaram em janeiro de 2015, e se prevê sua ampliação ao longo do ano.

Esses problemas foram herdados dos anos passados e pouco têm que ver com o ajuste fiscal que mal começou. A crise da água e da energia elétrica, também herdada, está adicionando incertezas em 2015. As indústrias mais dependentes da água já começaram a reduzir a produção e o quadro de pessoal, como é o caso de alimentos, têxteis, cimento, marmoraria, tintas e outras. O provável racionamento de energia elétrica afetará fortemente a produção e o emprego.

Ou seja, o quadro do emprego para 2015 é bastante preocupante e reflete problemas acumulados nos anos anteriores. Tudo aponta para uma elevação da taxa de desemprego a partir dos próximos meses, podendo chegar a 7% no final de 2015 e até mais, a depender de uma possível recessão e da volta ao mercado de trabalho dos que deixaram de procurar emprego nos últimos anos.

Ainda que o ajuste fiscal seja percebido como positivo no médio prazo, neste ano ele trará mais apreensão do que satisfação tanto para os investidores como para os trabalhadores, podendo até agravar o já precário quadro do emprego.

Por outro lado, se nada for feito para reequilibrar as contas públicas, a dramaticidade do cenário de 2015 tornar-se-á crônica e de longa duração. O que está em jogo, portanto, é a calibragem do ajuste fiscal. Acertos e erros farão parte do jogo e terão de ser tolerados e contornados. Descabida é a tentativa de se aproveitar das dificuldades para prometer facilidades que nunca virão. O momento é extremamente delicado. Não cabe imputar ao ajuste fiscal a responsabilidade pelos problemas que vêm de longe. Se as suas causas não forem removidas, continuaremos na mesma por muito tempo.

José Pastore é presidente do Conselho das Relações do Trabalho da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 10/02/2015, página B02.

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