Editorial
04/01/2015O emprego em 2015
Os últimos meses têm sido marcados por uma redução do emprego. Ao longo de 2014, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostraram uma perda de fôlego na geração de postos de trabalho. Nos primeiros 11 meses do ano passado, o Brasil gerou cerca de 940 mil empregos formais. Como no mês de dezembro há sempre um grande número de dispensas, o ano deve ter fechado com cerca de 600 mil empregos - muito pouco de comparado com os 2,5 milhões criados em 2010.
Setorialmente, há sinais preocupantes. A indústria de transformação perde força há dois anos. Só em novembro de 2014, houve uma destruição de quase 45 mil empregos industriais. As empresas do setor automotivo dispensaram, em média, mil trabalhadores por mês em 2014. Com a elevação do IPI em 2015, não há perspectivas de melhora.
A construção civil vem reduzindo o número de empregados de Norte a Sul do Brasil como reflexo da retração de demanda. Em outubro, em São Paulo, houve uma diminuição de 50% nas compras de imóveis novos em relação ao mesmo mês de 2013. A resposta veio em seguida: em novembro, o setor não só deixou de criar como destruiu cerca de 50 mil empregos.
A construção pesada começa a sofrer os efeitos da retração dos contratos das grandes empresas estatais, em especial, Petrobras e Eletrobras. Os jornais noticiam diariamente o cancelamento de grande número de contratos com construtoras que têm muitos empregados. Além disso, há atrasos de pagamento aos fornecedores que já estão dispensando em grande escala.
Em suma, mesmo antes de iniciar o ajuste fiscal, a oferta de emprego no Brasil vem retraindo de forma preocupante. A taxa de desemprego indicada pela Pnad-Contínua - 6,8% - só não é mais alta devido à acentuada redução dos que procuram emprego. No terceiro trimestre de 2014, havia 1,7 milhões de pessoas que não trabalhavam nem procuravam empregos. Os motivos são diversos. A melhoria da renda familiar nos últimos anos permitiu que os jovens ficassem mais tempo na escola e longe do trabalho - o que é bom. Entre os idosos, a melhoria dos valores da Previdência social e dos programas sociais fez muitos deles saírem do mercado de trabalho e não mais procurar emprego. A redução da procura é o que tem mantido a taxa de desemprego em estabilidade.
Dois mil e quinze apresenta-se como desempregador por força do ajuste fiscal a ser feito nas finanças federais. Os ministros indicados prometem reduzir 1,2% do PIB nas despesas públicas. Na realidade, a redução será de 1,7%, pois 2014 terminou com déficit de 0,5% aproximadamente. Os cortes nas despesas públicas vão afetar várias áreas, entre elas, a de Infraestrutura, que tem a situação agravada pelos problemas mencionados nas grandes empresas estatais.
A indústria de transformação, cuja produção diminuiu 3% em 2014, levará um bom tempo para se recuperar e voltar a empregar. O maior problema é a perda de competitividade. Um estudo recente mostrou que o crescimento das importações de produtos industrializados da China gerou naquele país cerca de 1 milhão de empregos em empresas que atendem o Brasil. Será demorado reverter esse quadro. No curto prazo, é mais provável que as empresas continuarão a demitir.
O setor de comércio e serviços sustentou até aqui o grosso do crescimento do emprego. Mas mostra sinais de fraqueza. As taxas de crescimento do emprego caíram bastante no segundo semestre de 2014. Com a elevação dos juros e redução do crédito e as noticias de desemprego que rondam o país, os consumidores estão mais retraídos e tudo indica que, sozinho, esse setor não terá condições de recuperar a pujança no crescimento do emprego observada no passado.
O estímulo que poderia vir da expansão da economia internacional é bastante duvidoso. O crescimento na zona do Euro é pífio. Na Ásia, há vários sinais de desaceleração, em especial na China. Os Estados Unidos são uma exceção, mas o Brasil tem poucas vantagens comparativas para aproveitar do crescimento americano. Ainda somos exportadores de commodities cuja demanda e preço caem a cada dia.
Com a forte redução do preço do Petróleo, a crise da Petrobras terá um efeito deletério sobre o emprego em 2015, pois esse setor tem uma cadeia produtiva enorme. Qualquer oscilação na estatal afeta seriamente vários setores para frente e para trás na cadeia. O próprio clima de incerteza deve levar muitos fornecedores a diminuir o interesse para prover bens e serviços à Petrobras e outras estatais problemáticas, como é o caso da Eletrobras. E um provável aumento de impostos desestimulará ainda mais os investimentos. Isso comprometerá bastante o crescimento da Infraestrutura.
Diante de uma retração do emprego, os salários devem crescer menos do que em 2014. Isso vai afetar a renda média da família, reduzindo a folga de recursos que permite aos jovens só estudarem. Muitos deles podem ser levados a procurar emprego. Uma eventual redução no valor das pensões previdenciárias deve ter o mesmo efeito nos mais idosos. Maior pressão por emprego vai gerar uma inevitável elevação da taxa de desemprego.
O quadro não é bom. Haverá muitas reclamações e protestos dos trabalhadores, sindicalistas, empresários e parlamentares. Caberá à presidente Dilma Rousseff acalmar os ânimos e garantir a execução do ajuste fiscal. Para o governo do PT, que se notabilizou pela distribuição de benesses, será um grande desafio.
José Pastore é presidente do Conselho de Relações do Trabalho da FecomercioSP.
Artigo publicado no jornal Correio Braziliense em 04/01/2015, página 13.
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