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Editorial

O futuro dos semicondutores

Artigo analisa a representação dos semicondutores para a economia em 2024

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O futuro dos semicondutores
Após a transferência da produção dos circuitos para a Ásia, os Estados Unidos deixaram de ser a fronteira de conhecimento nessa área (Arte: TUTU)

Por André Sacconato*

Os semicondutores, também conhecidos como chips, representam a vanguarda do conhecimento humano na atualidade. Em 2024 eles darão a tônica de muita coisa na economia global.

Esses diminutos componentes já alcançaram o impressionante tamanho de 5 nanômetros, comparáveis aos vírus da Covid-19, que têm, em média, 50 nanômetros. Dentro de circuitos integrados, contamos agora com dezenas de bilhões de transistores agindo como interruptores eletrônicos em um intrincado jogo de liga e desliga.

A revolução dos semicondutores teve início em 1947, quando William Shockley, John Bardeen e Walter Brattain patentearam o transistor, a base de todo chip.

Esse avanço permitiu a miniaturização dos cérebros eletrônicos, substituindo as antigas válvulas dos rádios do tempo dos nossos avós. Inicialmente contendo apenas três ou quatro transistores, os primeiros circuitos integrados evoluíram para abrigar, hoje, dezenas de bilhões. Gordon Moore, um visionário do setor, previu a evolução desses componentes na sua famosa lei: “A complexidade para componentes com custos mínimos tem aumentado em um fator de dois por ano”.

Os circuitos sempre foram financiados pelo governo norte-americano, especialmente pelo Pentágono, reconhecendo a sua importância em misseis de precisão durante a Guerra Fria. No entanto, após o conflito no Vietnã, uma mudança estratégica ocorreu. Morris Chang, ex-executivo de tecnologia, persuadiu o governo a transferir a produção para a Ásia, escolhendo Taiwan graças à sua lealdade e a condições favoráveis.

Entretanto, as recentes tensões entre China e Estados Unidos alteraram drasticamente esse cenário: atualmente, 90% dos chips mais avançados, de 5 nanômetros, vêm da TSMC, em Taiwan, enquanto os 10% restantes são provenientes da sul-coreana Samsung.

O resultado é que os Estados Unidos não produzem mais a fronteira do conhecimento nessa área. Assim, para mitigar essa dependência da província chinesa — e, ainda, conter os avanços tecnológicos daquele país, o governo estadunidense assinou, em 2022, o Chips Act. O objetivo é isolar o gigante asiático e trazer de volta a produção para o território norte-americano. Para se ter uma ideia, espera-se um investimento de quase US$ 100 bilhões em Phoenix, Arizona, com gigantes da fábrica da Intel, e uma réplica da TSMC taiwanesa nos Estados Unidos.

Daqui para a frente, a tendência é que a produção mundial siga cadeias mais curtas, com o custo de produção se tornando secundário diante da importância do cenário político global. Assim, os países adotarão uma postura mais conservadora, dispostos a incorrer em custos adicionais para evitar riscos geopolíticos.

Aqui, é essencial lembrar que, para os governos, esses chips são vistos como matéria-prima para mísseis de longo alcance, e não apenas como o cérebro dos nossos dispositivos cotidianos. A revolução dos semicondutores não apenas moldará o futuro tecnológico, como também definirá as relações internacionais.

*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 5 de janeiro de 2024.

Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP).

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