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Editorial

O papel do Estado na nova economia, por Vitor Magnani

País precisa responder rapidamente se vai querer ou não entrar de vez na nova economia em busca de mais tecnologia e inclusão

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O papel do Estado na nova economia, por Vitor Magnani

"É cada vez mais urgente falarmos da importância que arranjos institucionais entre Estado, empresas, terceiro setor e academia possuem nesse processo de entrada rápida na nova economia", esscreve
(Arte: TUTU)

*Por Vitor Magnani

A história da economia mundial pode ser dividida em três momentos de produção: agrícola, industrial e digital. Em cada uma dessas etapas houve um incremento de novas tecnologias, entendidas como o conjunto de processos e técnicas usadas para aperfeiçoar o trabalho, resolver problemas ou executar tarefas específicas. Os instrumentos de caça, a descoberta do fogo e as máquinas à vapor já foram tecnologias essenciais para nosso desenvolvimento. Mas se sempre inventamos algo novo, o que o nosso tempo realmente traz de novidade nessa dinâmica?

A rapidez dos acontecimentos. Após o advento das telecomunicações e informática, a sociedade passou a processar e ter acesso aos mais diversos conhecimentos de maneira quase que instantânea. Com um bom acesso à internet, qualquer pessoa conseguirá consultar bancos de dados e teses de milhares de universidades. E é desse fluxo de informações que surgem novas ideias a todo momento. O que antes necessitava de deslocamentos e consultas a bibliotecas físicas, hoje pode ser realizado facilmente de qualquer canto do mundo. Se levamos séculos para avançar da agricultura para a indústria, hoje esses saltos ocorrem em um tempo cada vez menor. Inteligência artificial, blockchain, impressoras 3D, carros autônomos, realidade virtual, internet das coisas, biotecnologia são apenas alguns exemplos do que está por vir.

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Por isso, é cada vez mais urgente falarmos da importância que arranjos institucionais entre Estado, empresas, terceiro setor e academia possuem nesse processo de entrada rápida na nova economia. Foi somente a partir desse tipo alinhamento que vimos inovações surgirem e beneficiarem o maior número de pessoas.

A história da internet é um bom exemplo. O Departamento de Defesa americano pretendia construir uma rede de comunicações entre computadores com o objetivo de descentralizar informações importantes que pudessem ser destruídas. A Advanced Research Projects Agency, divisão do Departamento de Defesa, então criou uma rede conhecida por Arpanet, o embrião da internet que temos hoje. Com ajuda de professores universitários, como Ken King, empresas de tecnologia e organizações da sociedade civil como a Icann, temos hoje um sistema de comunicação com governança de diversos atores e em desenvolvimento constante. Se hoje a internet não está da maneira que gostaríamos, é em virtude de alguma fissura nesse alinhamento.

Em um contexto de déficit público generalizado, muitos governos não podem arcar com todos os custos para o desenvolvimento dessas novas tecnologias e, principalmente, para a diminuição das desigualdades sociais derivadas da exclusão de pessoas do acesso à educação voltada para essa nova economia. E não será com novos impostos ou criando inúmeras obrigações destinadas à economia digital que vamos resolver esse quadro. Muitas vezes, o que vemos por aqui são governos que não entendem como funcionam essas empresas e que tentam resolver algum problema social com a publicação de novas leis que não são aplicáveis na prática ou que são questionadas no Judiciário. Quem perde somos todos nós.

O Poder Público possui a chance de construir alianças estratégicas e acordos de cooperação com startups e empresas da nova economia que já passaram a incorporar os impactos sociais e ambientais gerados por suas ações corporativas no processo de tomada de decisão. É uma escolha que encontra ressonância na mentalidade das novas gerações que são mais preocupadas com seu impacto na sociedade. Para eles, o sucesso não é mais definido apenas pelo quanto se enriquece.

Segundo a pesquisa Millenium Survey, realizada pela consultoria Deloitte, 42% da geração Z, composta por pessoas que nasceram entre 1990 e 2010, preferem empresas com práticas sustentáveis. Já 38% admitem que deixariam de comprar produtos de marcas que não contribuem com o meio ambiente. Prova disso é o aumento no número de vagas para áreas dedicadas a políticas públicas, sustentabilidade e responsabilidade social nessas empresas da nova economia.

Não podemos acreditar que somente o Estado resolverá os problemas sociais, nem crer que as empresas não têm nada a ver com isso ou que as universidades somente ensinam e pesquisam. O primeiro passo é definir qual será nosso objetivo. O Brasil vai querer ou não entrar de vez na nova economia em busca de mais tecnologia e inclusão? A resposta tem que vir rapidamente.

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*Vitor Magnani é coordenador-executivo do Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSP.
Artigo originalmente publicado no portal O Estado de S. Paulo em 18 de outubro de 2020.

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