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Editorial

O que causa a alta constante do dólar?

Custo da moeda estrangeira disparou desde maio, afetando a estratégia e a previsibilidade dos negócios que dependem do mercado exterior

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O que causa a alta constante do dólar?
Atualmente, o medo de o governo não cumprir metas fiscais afugenta o investidor estrangeiro e faz o câmbio subir (Arte: TUTU)

Por André Sacconato* 

As instabilidades na cotação do dólar norte-americano afetam profundamente as empresas brasileiras que atuam no comércio exterior ou que comercializam produtos importados. Nas últimas semanas, por exemplo, o boletim Focus, do Banco Central (Bacen), apontava para a moeda encerrando o ano no patamar de R$ 5,05, e muitas companhias elaboraram o próprio planejamento considerando esse valor como referência. Neste momento, o custo gira em torno dos R$ 5,40 — influenciado por questões externas e pelo peso do risco fiscal das contas públicas brasileiras. 

Frente a esse cenário de instabilidade, alguns pontos de atenção sobre como os negócios podem se proteger são relevantes, inclusive para entender como o custo da moeda estrangeira se forma.

Entendendo a taxa de câmbio

A taxa de câmbio tradicionalmente debatida na mídia é o que se chama de taxa de câmbio nominal, que representa o preço da moeda estrangeira em termos de moeda nacional. Geralmente, tem como parâmetro o dinheiro mais usado no mundo: o dólar.

Portanto, quando se fala que a taxa de câmbio está em R$ 5,40, significa que, para comprar US$ 1,00, é preciso pagar R$ 5,40. Assim, quanto maior for esse valor, mais desvalorizada será a moeda nacional, porque demanda mais reais para comprar um dólar.

Regimes cambiais: fixo e flutuante

O valor da taxa de câmbio depende de uma série de variáveis. Primeiro, o governo precisa decidir o regime cambial que o País vai seguir. Se olharmos pelo lado mais “puro” das políticas cambiais, há dois caminhos: taxa de câmbio fixa ou taxa de câmbio flutuante. 

  • Na taxa de câmbio fixa, o Bacen fixa antecipadamente e se compromete a comprar divisas à taxa fixada. Como aconteceu no Plano Real, o governo fixava em, por exemplo, US$ 1,00 por R$ 1,00 e vendia os dólares necessários para que isso se mantivesse. O Bacen vendia para as instituições homologadas, e estas distribuíam para pessoas e empresas. O grande problema: é preciso ter dólar no caixa para manter esse regime, as famosas reservas internacionais. Quando estas começam a acabar, o País pode sofrer ataques cambiais e fugas maciças de dólares. Esse regime é importante para debelar a inflação, já que a taxa geralmente fixada era muito baixa, o que favorecia as importações e dificultava as exportações.
  • Na taxa de câmbio flutuante ou flexível, varia de acordo com a oferta e a demanda de divisas (moedas) estrangeiras, ou seja, o mercado que determina a taxa de câmbio — e o Bacen não tem o compromisso de comprar as divisas do mercado. Então, a oferta e a demanda por dólares, aqui, fazem toda a diferença. 

Os regimes não são tão radicais, e existem os que estão no meio entre o fixo e o flutuante. Na realidade, não existe um câmbio completamente flutuante. Seria um risco, por exemplo, uma desvalorização inesperada de 10% em um só dia. Além do impacto sobre a inflação interna (por exemplo, o aumento do preço em reais do barril de petróleo), quem tem dívida em dólares lidará com um aumento em reais de 10% (precisará de mais reais para pagar a mesma dívida em dólares). 

Em razão disso, o Bacen interfere no mercado, comprando e vendendo as divisas, de forma a manter a taxa de câmbio em níveis adequados sem grandes oscilações. Em outras palavras, o órgão deixa o câmbio flutuar, mas dentro de certos limites. Esse câmbio livre com atuações esporádicas da autoridade monetária é o que temos no Brasil com o nome de flutuação suja.

Portanto, o que determina o câmbio, além de intervenções pontuais do Bacen em casos extremos, é a oferta e a demanda por dólares.

Fatores que podem influenciar a taxa de câmbio 

A oferta de divisas depende dos exportadores (que querem trocar os dólares que ganharam por moeda nacional, pois têm receita em dólares e custos em reais), da entrada de investimentos e empréstimos externos, de recebimentos diversos (lucros de empresas brasileiras no exterior, donativos etc.) e dos turistas que entram no Brasil.

Já a demanda de divisas depende dos importadores (que precisam pagar as compras no exterior em dólares), da saída de capitais financeiros, de pagamentos diversos (juros sobre empréstimos externos, remessas de lucros etc.) e dos turistas brasileiros.

Contudo, hoje, com o acesso a informações, existe algo que faz o câmbio mexer muito rápido: as expectativas. Atualmente, o medo de o governo não cumprir metas fiscais afugenta o investidor estrangeiro e faz o câmbio subir. E há dois motivos para isso — o primeiro é o medo de desvalorização cambial, já que o investidor estrangeiro transformará o seu real por menos dólares quando sair, além do risco de que o governo comece a enfrentar problemas para pagar as contas, no caso de descontrole fiscal. Em segundo lugar, a manutenção de uma taxa de juros mais alta nos Estados Unidos, como a que ocorre agora, aumenta a fuga de capitais para lá, porque os investidores o enxergam como um país mais seguro e com retorno mais vantajoso. 

Isso significa que, à medida que a diferença entre as taxas de juros americana e brasileira cai (como está acontecendo nos últimos meses), a tendência é que os investidores avaliem o mercado norte-americano como melhor destino dos investimentos considerando a relação risco versus retorno.

Como se proteger?

Em uma situação de instabilidade cambial, a primeira dica para se resguardar é buscar informações confiáveis. Sabendo quem demanda e quem oferta o câmbio, é importante estudar os grandes movimentos de exportadores e importadores. A própria Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) fornece, mensalmente, uma carta de conjuntura com essa análise. A segunda é nunca querer ganhar na taxa de câmbio e focar no seu produto ou serviço. Para quem trabalha com itens importados, diversificar os fornecedores, quando possível, pode ser uma alternativa para negociar condições comerciais melhores e evitar um aumento de preços para o cliente final.

O setor financeiro oferece muitos produtos que possibilitam a ”travar o câmbio” para uma determinada data futura em que uma negociação será concretizada, por exemplo.. Ainda que que o câmbio se valorize, por exemplo, e o empresário tenha algo a pagar com a moeda estrangeira, o importante é que o valor em dólar não mude, de forma que o ganho venha do lucro, e não na variação cambial.

Proteja-se! Busque informação, procure produtos financeiros que possam preservar você de uma variação cambial e lembre-se sempre de que o seu negócio é o que importa — e não ganhos financeiros com variação cambial.

Entenda também como outros indicadores econômicos afetam a sua empresa (por exemplo, o aumento da taxa de juros), como a inflação compromete a renda do consumidor e quais decisões tomar para manter o faturamento. Acesse o e-book Como utilizar indicadores econômicos na gestão empresarial. A publicação digital traz explicações sobre os principais índices relacionados às condições econômicas do País e ao ambiente de negócios, além de apontar direções para a empresa em função dos dados divulgados.

*Economista e assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP)  

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