Editorial
13/06/2022O que o PIB do primeiro trimestre nos revela sobre o futuro?
Economista explica que a análise dos dados é importante para entendermos os resultados e projetar o futuro
O mundo está de olho no País, só precisamos avançar nas reformas e manter os equilíbrios fiscal e monetário
(Arte: TUTU)
Por André Sacconato*
Que o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre foi uma boa surpresa, não há dúvidas. Além do crescimento de 1% em comparação ao último trimestre de 2021, o aumento de 1,7% em relação ao primeiro trimestre daquele ano também é um fato que muito nos interessa.
Contudo, a despeito do dado positivo, na margem, esta informação ainda carrega uma história trágica: estamos 1,7% abaixo do pico histórico do PIB, ocorrido no primeiro trimestre de 2014 – o que claramente se deve a erros grotescos de política econômica de governos anteriores.
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Vale lembrar que, em 2015, o PIB sofreu uma queda de 3,5%; e em 2016, de 3,3%, mesmo com o restante do mundo apontando forte crescimento, consequência direta da política chamada “nova matriz desenvolvimentista”.
Pelo lado da oferta, houve uma predominância total dos serviços. Em comparação ao primeiro trimestre de 2021, enquanto se registrou um crescimento do setor de 3,1%, ao mesmo tempo, apontaram-se reduções de 8% na agropecuária e de 1,5% na indústria.
Apesar disso, temos uma boa notícia (e um desafio) para os próximos trimestres: o decréscimo na agricultura deve ser temporário, em razão da estiagem no Sul do País, e não deve continuar contribuindo negativamente para outras medidas.
Por outro lado, os serviços estão sentindo fortemente o impacto da demanda reprimida (pela pandemia) de eventos e turismo – mas este movimento não deve se manter no segundo semestre.
É importante lembrar que, assim como nos Estados Unidos, ocorreu uma migração de consumo de bens duráveis para serviços. A indústria não parece ainda ter muita força para reagir, e o dado de abril confirma isso: apenas 0,1% de desenvolvimento na margem.
Então, quanto à oferta, não dá para imaginar que teremos um avanço vigoroso daqui para a frente, principalmente na segunda metade de 2022. É bem provável que haja resultados mais próximos a zero, o que deve levar a economia a um crescimento no ano entre 1% e 1,5%, superando as previsões do fim do ano passado.
Já pelo lado da demanda, o consumo das famílias apresentou aumento de 2,2% em relação ao mesmo trimestre do ano passado, enquanto os gastos do governo subiram 3,3% e a formação bruta de capital fixo sofreu forte queda de 3,5%. Esses dados não devem assustar os investimentos, muito graças ao progresso das importações de bens de capital.
Entretanto, infelizmente, a aplicação sobre o PIB caiu de 19,7% para 18,7%. Em que pese o Auxílio Brasil, que deve turbinar a renda, o consumo privado pode perder força em decorrência da inflação e dos juros altos, do endividamento excessivo e do aumento da inadimplência.
Além disso, o mercado de trabalho, apesar da diminuição do desemprego, não mostra aumento real da renda habitual, o que demonstra o baixo nível das novas vagas geradas.
Desta forma, o consumo privado perderá força – ou, pelo menos, não será o esteio do crescimento econômico nos próximos períodos. Já o consumo do governo, limitado por lei no ano eleitoral, também não deve ter grandes variações positivas (e toda esta tensão também pode prejudicar investimentos).
Teremos, ao menos, o leilão dos aeroportos, incluindo Congonhas, que ficou para agosto. Isso fomentará o capital num setor no qual o governo atual apresenta os melhores resultados.
Em suma, o Brasil tem um potencial gigantesco. O mundo está de olho no País, só precisamos avançar nas reformas e manter os equilíbrios fiscal e monetário. Não podemos retroceder, sob o risco de enfrentar uma recessão parecida com o biênio 2015/2016.
Saiba mais sobre o Conselho de Economia Empresarial e Política (CEEP)
*André Sacconato é economista, consultor da FecomercioSP e integrante do CEEP.
Artigo originalmente publicado no Portal Contábeis em 10 de junho de 2022.